O Boletim da População Negra, divulgado nesta quarta-feira (19) pela Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) em alusão ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, revela dados inéditos sobre a participação da população preta e parda no mercado de trabalho, na educação e na política no Nordeste. O estudo mostra avanço na presença desse grupo na economia formal, mas também expõe desigualdades persistentes — com destaque para Alagoas.
A região Nordeste consolidou, em 2024, a predominância de trabalhadores negros com carteira assinada: 71,9% dos empregados formais são pretos ou pardos, percentual superior à média nacional de 47,7%. Alagoas, assim como a Bahia, registrou as maiores quedas de renda média entre essa população no último ano: redução de 1,8 ponto percentual, a mais intensa da Região.
Mercado de trabalho: participação cresce, rendimento cai
O Nordeste abriga a maior população negra do Brasil (13%) e a segunda maior população parda (59,6%). No mercado formal, os pardos representam 64,8% da força de trabalho nordestina e os pretos, 7,1%. Apesar da forte presença, o rendimento recuou em 2023 — com Alagoas entre os Estados mais afetados negativamente.
Para a doutora em estatística da Sudene, Gabriela Nascimento, os dados revelam uma realidade que precisa ser enfrentada: “O boletim mostra as desigualdades estruturais que afetam desproporcionalmente a população negra da Região, desmistificando o mito da democracia racial.”
Educação: avanço histórico, mas desigualdade persiste
Os dados da PNAD Contínua 2024 mostram que apenas 11,6% dos pretos e pardos do Nordeste concluíram o ensino superior — entre os brancos, o índice chega a 22,3%. Em Alagoas, a realidade segue a tendência regional e reforça o gargalo educacional: 10,6% da população nordestina não possui nenhuma instrução, e entre os negros, esse percentual sobe para 11,2%.
Mesmo com os desafios, houve avanço expressivo em duas décadas: em 2004, apenas 2,4% dos pardos e 2,1% dos pretos tinham diploma universitário. A especialista ressalta que esse panorama deve orientar políticas públicas mais eficazes, com recorte étnico-racial.
Violência e segurança pública: aumento preocupa Alagoas e região
Enquanto o Brasil registrou queda de 10,1% nos homicídios de pessoas negras, o Nordeste apresentou aumento de 0,9%. O crescimento foi impulsionado por Estados como Piauí, Ceará, Bahia e Pernambuco — realidade semelhante à de Alagoas, que também enfrenta altos índices de violência contra pessoas negras.
O boletim alerta para outro dado grave: os homicídios de mulheres negras caíram 7,6% no Brasil, mas subiram 6,5% no Nordeste, que concentrou quase metade de todos os assassinatos desse grupo no país (47,3%).
“Entre os principais gargalos na Região, destacam-se a vulnerabilidade à violência e a falta de saneamento básico”, afirma Gabriela Nascimento.
Política: avanço nas candidaturas, mas ainda longe do poder real
As eleições municipais de 2024 mostraram uma mudança importante: Nordeste e Norte foram as únicas regiões do país onde os prefeitos negros eleitos superaram os brancos. No Nordeste, foram 927 prefeitos pretos ou pardos (51,7%), contra 854 brancos (47,6%).
A representatividade também cresceu entre quilombolas e indígenas, que se destacaram em número de vereadores eleitos. No entanto, o desafio agora é garantir o acesso real a cargos de comando, como prefeituras — sobretudo para mulheres negras.
Quilombolas e novas políticas públicas
O Boletim destaca ainda a relevância das populações quilombolas, que passaram a ser incluídas no Censo Demográfico apenas em 2022. Para a Sudene, esse reconhecimento é determinante para a criação de políticas mais precisas e efetivas — especialmente em Estados como Alagoas, com tradição quilombola histórica e forte presença dessa população.
Produção contínua de estudos
A Sudene informou que seguirá produzindo boletins temáticos com recortes regionais e sociodemográficos. Já há estudos publicados sobre emprego e renda, desertificação, população idosa, mulheres do Nordeste, turismo, juventude e infância. Todos estão disponíveis no site da Autarquia.
*Foto: Adobe Stock










