Durante três décadas, a televisão ocupou o papel de maior formadora de opinião política do país. O horário eleitoral gratuito, com forte audiência e pouca concorrência informacional, foi responsável por construir lideranças, derrubar candidaturas e moldar o imaginário do eleitor. Porém, o cenário eleitoral de 2026 se apresenta em transformação acelerada: o campo de batalha da comunicação política não está mais centralizado em um único meio, ele se fragmentou, se descentralizou e se tornou imprevisível.
A televisão segue relevante, sobretudo entre públicos mais velhos e em regiões onde a conectividade é limitada. Mas perdeu a capacidade de determinar percepções de forma quase absoluta. Hoje, a influência se desloca também para ambientes digitais movidos por algoritmos, viralizações espontâneas, bolhas ideológicas e conteúdos emocionalmente direcionados. Se na TV a mensagem é controlada, nas redes sociais ela é testada, distorcida e reinterpretada em tempo real.
A disputa entre TV e redes sociais não é apenas tecnológica, mas epistemológica: quem define o que é verdade, narrativa e autoridade política? Na televisão, o candidato aparece mediado por roteiro, edição e estética. Nas plataformas digitais, ele é capturado de forma crua, instantânea e muitas vezes fora de contexto e, paradoxalmente, isso consolida a sensação de autenticidade que parte do eleitorado passou a demandar.
Enquanto a televisão fala para o país, as redes falam para perfis psicologicamente segmentados. E nesse ambiente, o discurso deixa de ser linear para se tornar múltiplo, personalizado e imprevisível. O capital político já não é medido apenas por tempo de tela, mas por capacidade de engajamento, permanência de narrativa e sustentação de relevância diária.
O risco deste novo modelo é claro: a política, quando mediada apenas por redes, tende a ser menos programática e mais performática. O debate público pode se transformar em disputa de personagens, não de projetos. A informação perde solidez e ganha velocidade, e a velocidade raramente é aliada da precisão.
Em 2026, não se trata de escolher entre televisão ou redes sociais, mas de compreender que nenhum dos dois, isoladamente, é capaz de explicar o comportamento eleitoral. A TV segue como espaço de credibilidade institucional, enquanto as redes sociais funcionam como laboratório de aprovação, confronto e validação social.
Se a televisão ainda é o palco, as redes sociais já são o termômetro.
E, em 2026, o candidato que confiar apenas em um deles corre sério risco de falar alto, e ser ouvido por poucos.




