Dez dias atrás, Lula recebeu lideranças evangélicas, ganhou uma Bíblia e fez oração ao lado dos visitantes. Tudo registrado em fotos que naturalmente foram às redes sociais. Não foi um movimento isolado. O petista tem se esforçado para se aproximar desse segmento religioso, hoje mais poderoso do que nunca. O encontro, parece, teve repercussão positiva para o presidente – o que irritou opositores.
O abominável Silas Malafaia e a senhora Michele Bolsonaro foram os primeiros a esbravejar contra o diálogo cordial entre Lula e pastores. A reação virulenta é justamente um dos indicadores de que Lula ganhou pontos nessa parada. Antes, em discurso para aliados, o petista acenou para os evangélicos ao defender que a esquerda precisa corrigir erros de avaliação sobre o papel desse universo. Há espaço para conversa.
Aqui em Maceió, leio com surpresa no CM, o prefeito João Henrique Caldas acaba de exonerar mais de 50 servidores em cargos de comissão que foram indicados por lideranças evangélicas. Digo surpresa porque, ignorante dos bastidores da política, nem sabia desse exército de funcionários nomeado por critério religioso. Jesus de Belém!
Voltando a Malafaia, o dublê de pastor e agitador político é o nome mais estridente, de todas as correntes evangélicas, na defesa de Jair Bolsonaro. Não por acaso, orgulha-se de financiar aqueles atos golpistas nos quais a multidão pede golpe de Estado e fechamento do STF. O militante extremista prega o ódio e... o amor em Cristo.
Bolsonaro se elegeu em 2018 montado na caravana dos crentes. Damares Alves defendia um ministro “terrivelmente evangélico” no STF – e conseguiu com André Mendonça. O arrastão da extrema direita renovou o discurso contra os comunistas ateus que pretendiam fechar as igrejas evangélicas. Fake news diabólica em nome do Senhor.
Antes dessa infernal exploração do campo evangélico, as campanhas eleitorais no Brasil priorizaram, por décadas, as missas em catedrais e igrejinhas de todos os lugares. Natural. Era o tempo em que mais de oitenta por cento da população brasileira era do catolicismo. Com esses números, o Brasil era o país mais católico do mundo.
Fernando Collor, o primeiro presidente eleito pelo voto direto após a ditadura militar, se apresentava como devoto de Frei Damião, o “sucessor” de Padre Cícero. No país do sincretismo religioso, todos os políticos se ajoelhavam sob a crença apostólica romana.
Na contramão estaria Fernando Henrique Cardoso, que antes de se eleger presidente perdeu a eleição para prefeito de São Paulo após revelar em entrevista que era ateu. A história é mais complexa, mas a essência do caso é essa mesma.
O ruim quando se trata desse tema é considerar todos os fiéis – de qualquer religião – como um bloco monolítico. Agora, antes disso, penso, a calamidade é atropelar o paradigma do Estado laico. Nunca deu certo. Mas esta é uma guerra perdida.










