Durante décadas, a crônica política consagrou uma frase para elucidar um dilema no chamado campo progressista. “A esquerda só se une na cadeia”. Com esse veredito, se pretendia explicar como e por que era tão difícil o diálogo entre diversas forças por essa raia. Reza a lenda que a expressão teria surgido no fim dos anos 1960, quando adversários da ditadura militar divergiam sobre os caminhos para combater o regime.

Numa variação mínima da frase, o clima pintado é ainda mais hostil. Segundo essa pegada, os esquerdistas não se unem nem na prisão. O tempo passou, a ditadura se foi, mas a ideia persistiu nos anos seguintes. Hoje, a tese parece se aplicar ao campo oposto. Do ano passado para cá, a desunião atormenta a caravana da direita.

A parada já era complicada desde que Bolsonaro se tornou inelegível ao ser condenado pelo TSE por crime eleitoral. Mas o tumulto se instalou pra valer depois da sentença de 27 anos de cadeia para o ex-presidente golpista. Mesmo com toda a pressão, o descabido projeto de anistia é delírio e nada mais. Nasceu morto e assim continuará.

Hora de o bolsonarismo e a extrema direita se entenderem na escolha de um candidato. De jeito maneira! Aí é que a bagaceira tomou conta. A família Bolsonaro insiste em ter seu sobrenome na urna eletrônica. Sem Jair, seria Eduardo, Flávio ou Michele? Nenhum dos três, defendem os caciques e os partidos na busca pelo fim do impasse.

Todos os integrantes do clã aprontam das suas na defesa do interesse particular. O resultado é uma pancadaria sobre os próprios aliados que ousam se apresentar como aspirantes a candidato. Sobram cotoveladas e pontapés contra Tarcísio de Freitas, Ratinho Junior, Ronaldo Caiado e quem mais aparecer pela frente. Assim fica difícil.

O PL e demais legendas do centrão têm planos próprios e rejeitam a ideia de ter um Bolsonaro necessariamente como presidenciável. Essa postura fica mais ostensiva à medida que o calendário avança – e só não é pior porque todos sabem que Jair Messias tem um eleitorado cativo. Ninguém quer perder esses votos tidos como “certos”.

Por enquanto, em nome desse “patrimônio eleitoral”, a turma ainda pega leve com a insistência da família Bolsonaro. Mas, a depender de eventuais fatos novos, o racha pode ganhar cores mais virulentas. Assim, décadas depois, aquela frase se aplica à direita e suas gradações. A prisão do Jair pode unificar a turma hoje em pé de guerra.