Parece um dicionário do caos e da morte. De uns tempos para cá, autoridades em diferentes estados, em cargos diversos e com poder de influência variável adotaram termos estranhos para se referir a coisas antigas. Vamos aqui tratar apenas de duas dessas palavras que inundam o noticiário na imprensa brasileira. São termos que aparecem interligados e cujo nexo inapelável é a política em estado de decomposição.

As imagens de Cláudio Castro, Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado estão associadas a essa nova língua a se espalhar pelo Brasil. Há muitas outras “lideranças” no mesmo barco, nas águas turvas da chamada necropolítica. Todos eles já andavam a saltitar com os novos termos em palanques, aqui e ali, ainda naquelas manifestações golpistas.

Depois da chacina perpetrada pelo matador fluminense, as bocarras do esgoto passaram a berrar os verbetes em cada entrevista ou seminário para bajular banqueiros. Sim, eles defendem que o Brasil está tomado pelo “narcoterrorismo”. Por isso defendem que essa tipificação seja levada ao ordenamento jurídico, em forma de lei. Mais uma.

Foi exatamente essa proposta descabida que tumultuou o debate sobre projetos de combate ao crime em tramitação no Congresso. É o velho equívoco – neste caso, deliberado – de confundir conceito e realidade, causa e efeito, palavra e ação concreta. A cretinice política vende a tolice segundo a qual a troca de nome altera o mundo real.

No planeta paralelo da ultradireita que celebra tortura e chacinas, “narcoterroristas” terão um combate eficaz porque classificados de agentes do... narcoterrorismo. Como se diz por aí, simples assim. E errado assim, acrescento eu. Nesse combate, com essa lógica, o cidadão de bem autoriza que o bandido seja “neutralizado”. Ciclo que se fecha.

A linguagem do grotesco invadiu todos os espaços. Agora mesmo, durante julgamento de golpistas no STF, vi um advogado de um dos réus levar o novo padrão mental ao código do bom e velho juridiquês. “Meu cliente não participou de plano para neutralizar nenhuma autoridade”. Tremendo desafio para os cursos de direito e para a OAB.

Como a ideia de equiparar o crime organizado a “narcoterrorismo” é, além de errada, um perigo para o país, essa porcaria não será transformada em lei. Ao menos é o que parece, depois do que se viu em Brasília com o deputado relator Guilherme Derrite.

Quanto à “política de segurança” defendida por marginais com mandato, inclusive em Alagoas, aí não há como garantir o Estado de Direito e o processo legal. Longe das áreas nobres, operações continuarão a neutralizar essa gente “suspeita” e “perigosa”.