Os poetas da publicidade brasileira precisam se reciclar com urgência. Não sei quando isso começou, mas a verdade é que todas as peças de propaganda política no Brasil são rigorosamente iguais. A única diferença entre os anúncios do governo do Amazonas, da prefeitura de Palmas e de um partido como, por exemplo, União Brasil, são os nomes dos lugares e dos políticos celebrados. No mais, é tudo a mesma coisa. É como se um mesmo marqueteiro fosse o autor de todas as criações publicitárias de norte a sul.
Em texto anterior, até elogiei a mais recente campanha do governo de Alagoas, por recorrer a personagens populares como protagonistas do anúncio. Mas nem isso salva a mesmice do estilo de linguagem. Nas peças de TV, o ritmo, os cortes, a fotografia, o texto, os “efeitos especiais” – tudo e mais o que se imaginar obedecem ao mesmo padrão. Em algum momento, alguém bolou a fórmula que virou cartilha obrigatória.
Nestes dias, vimos propagandas de vários partidos – MDB, PSD, PL, Podemos – massacrarem o telespectador com uma só receita. De Ronaldo Caiado a João Campos, de Tarcísio de Freitas a Paulo Dantas, de Ratinho Junior a JHC – nada diferencia uns e outros. A publicidade empacota indivíduos e trajetórias numa mesma maquete, num mesmo layout. Onde há diferença, o malabarismo publicitário impõe a pasteurização.
As peças do governo federal também entram nessa. Incrível. Bastam a primeira imagem, o primeiro acorde da trilha sonora e o primeiro passe de uma dancinha, e pronto: lá vem aquele enredo, narrado sob a mesma premissa de roteiro, edição e direção. Os filtros e outros artifícios usados na captação de imagens garantem o efeito mortal: um genérico imita o outro, num movimento que destrói qualquer chance de identidade própria.
Quanto ao texto, aí a causa já estava perdida desde o século passado. Toda peça partidária e todas as campanhas eleitorais falam de “mudança”, “avanços”, “fazer mais” e uma antologia miserável de clichês e platitudes que insultam o pobre do eleitorado. O recurso a gírias e a novidades da língua completa o cardápio de criatividade zero. Claro, as falas precisam soar moderninhas e engraçadas nesse teatro apenas modorrento.
A mediocridade nessa fabricação de marketing político tem uma boa dose de ironia. Afinal, para exibir essa imensidão de vazio de originalidade, gastam-se fortunas. Cada campanha desse quilate exige orçamento milionário, cuja origem são os cofres públicos. Com tantos recursos à disposição, os gênios da nossa premiadíssima publicidade precisam explorar melhor a cachola. Hoje, o que se vê é o piloto automático.
Como falei, nossa publicidade coleciona prêmios que não acabam mais. O Brasil é mundialmente reconhecido como celeiro de criações geniais. Mas toda essa exuberância não pode se deitar na fama e esperar a glória a partir do nada. Em tempos de inteligência artificial, suspeito que a coisa tem tudo para piorar um pouco mais.










