A farra com as emendas parlamentares não para de produzir escândalos pelos quatro cantos do Brasil. A última novidade veio do Rio de Janeiro, como revelou o portal Metrópoles neste fim de semana. Uma assessora da deputada estadual Valéria Bolsonaro (PL) aparece em gravações combinando a partilha de um repasse de 300 mil reais destinados a uma prefeitura fluminense. Estamos diante de uma operação de “cashback”, como classifica a reportagem. Ou seja, no patamar de completo escracho.
A classificação faz sentido. Basta ouvir a assessora Amanda Servidoni, também filiada ao PL, negociando a parcela que deve ser devolvida pela prefeitura. Ela afirma que não aceita apenas dez por cento. Se o prefeito vai receber “300 k”, tem de reembolsar a suposta autora da emenda em 100 mil reais. Não há melindres na verborragia do crime.
Valéria é prima distante de Jair Bolsonaro. Mas sejamos objetivos e claros: esse gigantesco esquema não tem preconceito ideológico. Como demonstrado de norte a sul, a propina e a corrupção com o dinheiro público contemplam todos os lados de todas as “polarizações”. E a gatunagem ataca os orçamentos nas três esferas.
Assim como no Rio, todos os governos estaduais replicam o modelo do plano federal. Como já escrevi neste blog, emendas parlamentares deveriam ser extintas. A coisa desandou de vez a partir do governo Bolsonaro e do orçamento secreto de Arthur Lira e do Centrão. Por isso o Congresso vive com a faca no pescoço do Planalto.
Veja, a roubalheira está de tal modo disseminada que já virou piada. Emenda cashback é demais. O mecanismo é todo errado. O “reembolso” ao parlamentar que envia a verba para supostos projetos é apenas uma ponta do desvio. Quem recebe gasta o dinheiro como quer, sem prestação de contas a ninguém, sem nenhum controle.
Como está tudo esculhambado nessa área, outro termo já muito mais afamado é “Emenda Pix”. O dinheiro sai do orçamento da União diretamente para o “projeto”, sem assinatura de convênio, com burocracia zero, numa velocidade de foguete. Não se sabe nem quem é o autor da emenda. Transparência aqui é ficção científica.
É por isso que a maioria do Congresso quer matar o ministro do STF Flávio Dino. O magistrado virou inimigo número um dos mafiosos que metem a mão grande no dinheiro público. Operações da Polícia Federal, a cada semana, revelam novos nomes envolvidos no desvio descarado de milhões de reais. Até quando isso vai correr solto?
De Pix a cashback, sem prestação de contas, deputados e senadores fazem a festa. Nessas horas, não se ouve um pio daqueles valentões “antissistema”. Nada disso. Falam grosso nos plenários e nas CPIs de Brasília – e depois viajam a seus currais para “entregar cheques” em “investimentos grandiosos”. Se não acabarmos com isso, já era.










