Uma década e meia atrás, Lula escolheu a desconhecida Dilma Rousseff para sucedê-lo na Presidência da República. Do alto de seu poderio incontestável no petismo, o presidente ignorou todos os chamados petistas históricos na hora de apontar quem deveria receber o bastão. O caminho para escalar a futura candidata foi um assento no ministério. Na equipe do governo, Dilma foi indo, cresceu e virou a “mãe do PAC”.

O deputado Guilherme Boulos não tem um Plano de Aceleração do Crescimento para chamar de seu. Mas Lula dá a ele uma vitrine e tanto como novo ministro da Secretaria Geral da Presidência. O “radical” filiado ao PSOL assume a pasta do dorminhoco Márcio Macêdo. A principal tarefa do titular do cargo é agitar os movimentos sociais.

Boulos disputou a eleição presidencial de 2018 e foi candidato a prefeito de São Paulo em 2020 e 2024. Em 2022 se elegeu para a Câmara Federal com mais de um milhão de votos. A princípio, ele acertou com Lula que fica até o fim do governo – portanto, não será candidato a nada em 2026. Parece uma aposta alta para os dois lados.

Nos últimos anos, Lula deu mais de uma demonstração de que tem o deputado paulista em alta conta. Em momentos complicados, como a prisão na Lava Jato, os dois estiveram muito próximos. Aliás, a explícita admiração de Lula por Boulos é motivo de ciumeira entre medalhões da república petista. Com Dilma, foi a mesma coisa.

Na eleição de 2018, Fernando Haddad foi o nome que virou candidato na última hora. O PT levou a candidatura de Lula até o limite do prazo legal após a condenação do petista. O cenário agora é completamente outro. Assim como lá atrás, com Dilma, Lula pode estar dando um passo decisivo na escolha de um sucessor. É o novo ministro.

Antes de se viabilizar como o candidato de Lula em 2030, Boulos precisa ajudar o presidente a se reeleger. Para isso, tem de mobilizar a velha base social – o que ninguém sabe direito como isso será feito na prática. Seja como for, o deputado entra no governo num momento de alta na aprovação popular, segundo todas as pesquisas na praça.

Ainda no PSOL e com fama de “invasor” de propriedade alheia, o novo ministro não terá vida fácil em sua missão. A turma de Tarcísio de Freitas e as entidades do mercado estão em maquinação permanente para garantir um patriota da ultradireita.

Com a ajuda de Sidônio Palmeira na Secom, Boulos tem poucos meses para mostrar serviço. Se tudo der certo para o governo, a reeleição de Lula será também um passo definitivo nessa sucessão interna do PT. Mais ou menos por aí.