Ao trocar a TV Gazeta pela TV Asa Branca em Alagoas, a Globo acabou criando, à sua revelia, uma competição inusitada. A nova e a ex-afiliada disputam, frame a frame, o Grande Troféu da Alagoanidade. Depois de 50 anos de parceria com uma empresa alagoana, a maior rede de televisão do país chega até nós agora por meio de um grupo pernambucano. E isso, pelo que se nota, é levado muito a sério pelas grandes rivais.
Como se sabe, a Asa Branca tem sede em Caruaru. O máximo que seus controladores conhecem sobre Alagoas deve ser algum restaurante de luxo ou algum recanto privê em nosso litoral. E foi por aí que a TV Gazeta resolveu atacar na tentativa de se manter relevante e ter audiência. A estratégia, um tanto óbvia, faz sentido.
Nos telejornais da emissora da Organização Arnon de Mello, os apresentadores repetem, feito um mantra: “Somos a TV dos alagoanos, feita por alagoanos, para todo o Estado de Alagoas”. Sim, ainda tem esse aspecto do alcance geográfico. A Asa Branca está em Maceió, Arapiraca e Delmiro Gouveia. Mas e as outras regiões?
Além de exaltar o fato de ser genuinamente alagoense, a TV Gazeta também repete, nos anúncios e nos telejornais, que seu sinal chega aos 102 municípios do estado. A nova afiliada, até onde sei, tenta correr para ampliar sua programação para além de três cidades. Com a internet, claro, o consumidor interessado pode acessar o que quiser.
Suponho que hoje em dia não é coisa do outro mundo, para a Globo, espalhar sua programação Brasil afora. Para isso, a emissora local precisa fazer sua parte. Não sei qual a estrutura da Asa Branca. Pelo que está no ar, e pelo que se sabe de suas instalações em Maceió, a máquina come poeira da forte estrutura da Gazeta.
É bom ressaltar que o negócio TV aberta encara sua maior crise desde que esse veículo foi inaugurado no país. Logo, não faz nenhum sentido imaginar que a Asa Branca tenha grandes investimentos para Alagoas. Se a engrenagem na matriz já é capenga, uma filial em outro estado terá o básico para se manter em operação. É a real.
Mas eu falava de alagoanidade, e acabei me dispersando. O discurso da TV Gazeta incomoda a Asa Branca. E qual a reação? Estamos aqui para mostrar a cara do povo alagoano, “as coisas da nossa terra”. É o que dizem os anúncios da forasteira, além de seus apresentadores e repórteres durante os telejornais da casa.
De fato. É bom que os jornalistas que falam diretamente de um lugar saibam o que estão falando sobre este ou aquele lugar. Mas não por uma questão de “valorização” do regional, “do que é nosso”, essas coisas nos arredores de ideias nacionalistas. Besteira.
Um exemplo dessa disputa no calor da hora: a TV Asa Branca saiu correndo para fazer uma homenagem ao aniversário de 55 anos do Rei Pelé, o velho Trapichão. O texto de um anúncio publicitário apela para aquele ufanismo desde sempre fora de moda.
Periga, daqui a pouco, algum jornalista mais “antenado”, de uma ou de outra emissora, aparecer com uma reportagem especial sobre o Manifesto Sururu. É o que falta para restar provado quem está, de verdade, do lado de Alagoas (fica a dica). Falando sério, como há bons profissionais nas duas equipes, espero apenas jornalismo de qualidade.
Quanto ao Grande Troféu da Alagoanidade, esse campeonato já está perdido.










