No mês em que se comemora o Dia do Médico (18 de outubro), o CadaMinuto conversou com Sílvia Melo, presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed), sobre vários assuntos, entre eles o aumento da oferta de novos cursos de Medicina, a realização de concursos públicos para médicos, principalmente por prefeituras do interior, e o mercado de trabalho em geral.
Ela conta que, em Alagoas, há mais de seis mil médicos e vagas para todos: “Não existe desemprego na área médica, mas existe subemprego. São vagas com remuneração baixa, e por conta disso, com alta rotatividade porque ninguém dura muito tempo onde o salário é insuficiente”.
Segundo a presidente do Sinmed, mesmo nos municípios que realizam concurso público não costuma haver respeito a pontos como remuneração médica, por exemplo. “Algumas prefeituras oferecem R$ 2.400, o que é inaceitável. Também é necessário pagar melhor aos especialistas. O Sinmed chegou a derrubar judicialmente vários editais devido a esse tipo de absurdo”, contou.
Sílvia explica que, para contratar os profissionais, alguns gestores prometem gratificação, reajuste, mas na prática é uma luta para que as melhorias ocorram. “Isso sem falar que os gestores, ao invés de priorizarem concurso, criaram um atalho nocivo e propõem todo tipo de abuso trabalhista, desde a pejotização até o contrato de boca. Quem precisa do serviço, nem sempre prioriza a qualidade, e isso é muito perigoso. Não dá pra arriscar quando o assunto é assistência médica”.
A presidente defende que, quando há pessoal efetivo, o ideal é promover capacitação e alinhar um padrão de atendimento o mais resolutivo possível, mas, infelizmente, ao longo dos anos o quadro efetivo foi sendo reduzido.
“Muitos se aposentaram e a vaga passou a ser ocupada por colegas prestadores de serviço precarizados. Como esse tipo de vínculo trabalhista não é atrativo, os colegas assumem, mas ficam procurando algo melhor, e logo vem novamente a vacância. Por essa e outras razões, a rotatividade é alta, tornando difícil implantar um padrão de excelência no atendimento. O ideal é que os gestores façam concurso e, a partir daí, se as vagas forem preenchidas, a tendência é de melhora”, explicou.
Sílvia lamenta que os gestores, em geral, não priorizem a política de saúde pública, o que é possível constatar vendo o sucateamento das unidades de atendimento. “Quando muito, eles oferecem uma estrutura física razoável, mas faltam equipamentos adequados, existe escassez de insumos e medicamentos, e as equipes envolvidas na assistência são bastante enxutas. Como se não bastasse, somos todos submetidos ao trabalho informal”, afirmou, defendendo que o Ministério Público seja “mais enérgico no combate a terceirização e na exigência de concurso público. Na área médica, a precarização não dá certo em lugar nenhum do país”.
Expansão desenfreada de novos cursos
A presidente foi taxativa também ao afirmar que o Sinmed é contrário à abertura indiscriminada de novos cursos de medicina, uma vez que a qualidade do ensino deixa a desejar, na maioria dos casos. “Infelizmente, quando observamos a atuação de alguns recém-formados, constatamos certo despreparo técnico para o exercício da medicina, e isso é perigoso. A população precisa de profissionais que melhorem sua qualidade de vida, que sejam resolutivos, do contrário não servem para o ofício”.
Questionada como as entidades médicas vêm enfrentando esses e outros desafios, ela conta que está sempre buscando estratégias que possam valorizar a profissão. “Isso implica, em primeiro lugar, na defesa da qualidade da formação acadêmica. Infelizmente, esbarramos nos interesses capitalistas. Os empresários investem na oferta de cursos de medicina visando lucro alto e rápido. Envolve rentabilidade estratosférica e eles se aliam imediatamente a políticos fortes para que nada atrapalhe seus negócios milionários. As instituições médicas lutam ancoradas na lei, e em princípios éticos, bem como no respeito à vida da população. É uma luta desigual, mas nós não desistimos. Nunca iremos recuar”.
“Defendemos rigor científico nas graduações e especializações. Toda faculdade deve ter um hospital de referência para aulas práticas, um corpo docente altamente habilitado e dedicado ao ensino, laboratórios completos, enfim, atender a todos os parâmetros de qualidade. Ensinar medicina é ensinar a lidar com vidas humanas de forma a contribuir com sua funcionalidade como um todo. Isso envolve uma complexidade imensurável. É muito danoso autorização em massa das escolas médicas. Sempre iremos combater a expansão desenfreada dessas faculdades. Lamentável não contarmos com a classe política nessa questão”, finalizou.










