A pedido do CadaMinuto, Lucas Sorgato, assessor econômico do Instituto Fecomércio AL, analisou os impactos locais da escassez de trabalhadores no comércio, revelada neste mês de outubro por um levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), apontando que a falta de trabalhadores no comércio é a maior dos últimos cinco anos, no país.
“A situação alagoana não é diferente da situação nacional, muito pelo contrário, ela é bem agravada. Existe um dado que mostra, por exemplo, que Alagoas tem um maior quantitativo de pessoas recebendo benefícios assistenciais do que pessoas com carteira de trabalho assinado, o que significa dizer, então, que você tem uma forte dependência governamental. E isso deixa o comércio mais frágil”, explicou.
Segundo ele, apesar da taxa de desemprego estar entre as menores da história de Alagoas, o crescimento econômico recente ainda é insuficiente para equilibrar o mercado de trabalho.
Sorgato pontua que, hoje, a dificuldade de contratação se concentra principalmente nos setores mais tradicionais do comércio, e elenca os motivos: “Primeiro, a geração mais jovem é uma geração mais dinâmica, é uma geração que está pedindo mais qualidade no trabalho, mais tecnologia, mais formas de comercialização. E quando você tem um comércio muito mais tradicional, ele não vai conseguir atrair esse público. Por consequência, há uma redução drástica no seu interesse de ser contratado para aquela empresa”.
Para o assessor econômico, a situação precisa ser muito bem observada e vista pelos empresários, buscando entender o que a nova geração de trabalhadores está pleiteando para continuar no emprego: “Não é só o salário”.
Escassez e rotatividade
Entre os profissionais mais escassos, não somente em Alagoas, mas em todo o país, Sorgato destaca os atendentes de telemarketing, função que exige qualificação e lida com altos níveis de estresse, metas e burocracia. Já os vendedores, apesar de serem amplamente demandados, ainda são poucos os que possuem a qualificação esperada pelas empresas, o que aumenta a rotatividade e a competição entre empregadores.
O assessor econômico da Fecomércio AL também identificou fatores que agravam o problema da escassez ou alta rotatividade de profissionais, a exemplo da precariedade da mobilidade urbana. “O deslocamento entre bairros pode levar até três horas por dia. Muitos profissionais preferem trabalhar próximos de casa, o que gera déficits localizados de mão de obra”, afirmou.
Para ele, no entanto, o ponto de maior importância em relação ao déficit é a qualificação da mão de obra:
“É uma reclamação geral dos empresários, dos empreendedores, de não conseguir contratar uma mão de obra qualificada que consiga ter uma produtividade elevada também para o seu negócio, dando melhor desempenho e retorno para a instituição. Existe uma lógica de migração de mão de obra, mas hoje em dia, muito menor do que já existiu no próprio Nordeste, não só em Alagoas em si. Outro ponto a ser considerado também, hoje, é a questão da saúde mental dos empregados. Eles estão valorizando benefícios muito mais indiretos do que os direitos que são salariais, pensando no sentido de manutenção e de até aceitar uma proposta de trabalho. Então é um ponto que tem que ser muito bem observado todos os empresários também”.
Parcerias
Questionado sobre medidas que poderiam estimular a qualificação e fixação de trabalhadores no comércio, Sorgato defende a ampliação de parcerias com instituições como o Senac, especialmente em projetos de reestruturação urbana, como a reforma do Centro Administrativo de Maceió, para que fossem construídos novos laboratórios de treinamento para população do comércio e que tivessem alguns cursos mais específicos ajudar o trabalhador, a população, e por consequência, remunerar melhor e aumentar a produtividade dentro das empresas
“Esta é uma grande possibilidade dada a essa reforma no Centro e até a reforma do próprio Jaraguá. Pegando Maceió como exemplo, isso também pode ser feito e repassado para outros locais, estilo o que acontece com as unidades do Já. A gente pode ter umas unidades na área da Educação por meio de uma parceria entre o Senac e o Estado, focando no treinamento do comércio alagoano com toda essa capacitação. É uma parceria que poderia fortalecer muito o segmento”, destacou.
Demissões voluntárias
O assessor econômico falou também sobre o levantamento do Caged, revelando que o número de pedidos de demissões voluntárias no Brasil chegou ao maior percentual mensal já registrado, em janeiro deste ano, ficando em 37,9% dos 2,13 milhões de desligamentos registrados.
Apesar da ausência de dados específicos sobre Alagoas, ele explica que a realidade do país também representa a do estado.
“Por que acontecem esses desligamentos? Primeiro motivo é a troca de emprego. Quando você tem uma economia como a brasileira, que está com uma taxa de desemprego baixa, e a economia alagoana, com uma taxa de desemprego também muito baixa, uma das menores da sua história, é mais fácil para o colaborador encontrar outro emprego. Então ele pede a demissão de um trabalho porque ele já tem outro trabalho em vista. Esse é o principal motivo desse aumento de taxa de desligamento. Após isso é insatisfação salarial. Muitas vezes o colaborador acha que está ganhando pouco e fica em casa ou busca um trabalho alternativo - seja por conta própria, seja empreendendo - buscando uma remuneração melhor”, analisou, completando que a falta de condições adequadas para o trabalho e a questão da saúde mental também contribuem para os pedidos de demissões voluntárias.
Para os próximos cinco anos, a Fecomércio AL enxerga um cenário promissor, impulsionado por avanços tecnológicos, aumento dos salários reais, baixa taxa de desemprego e reformas econômicas em curso, como a tributária e as mudanças no imposto de renda.
“As empresas estão buscando modernizar os seus equipamentos. Isso vai melhorar as condições de trabalho em alguns sentidos? Nós imaginamos que sim. Assim, existe um cenário positivo para os próximos anos. Se você for olhar a lógica da economia, você teve o aumento dos salários reais, você tem uma taxa de desemprego baixa, você tem um cenário macroeconômico nacional que está um pouco mais tranquilo”.
Sorgato cita, entre as políticas que têm impacto direto na economia, o ajuste no imposto de renda pessoa física. “Isso significa que já entra mais dinheiro na economia a partir de 2026; é um cenário positivo. A reforma tributária, que também vai desburocratizar para as empresas, é um cenário também extremamente positivo. Então você tem algumas políticas que nos permitem ter um horizonte com o olhar benéfico para os próximos cinco anos. Evidentemente que, a cada ano, essa leitura e releitura do cenário futuro ela é interessante ser feita”, finalizou.