“Registramos em Alagoas o maior episódio de branqueamento e mortalidade de corais já observado.” O alerta do professor Robson Santos, coordenador do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno (Ecoa Lab/Ufal), revela a gravidade da crise ambiental que ameaça um dos maiores tesouros do litoral brasileiro.
O estado abriga a segunda maior barreira de corais do planeta, com cerca de 130 quilômetros de extensão. Esse patrimônio natural, onde o azul profundo do mar se mistura ao verde dos coqueiros, é fonte de biodiversidade e sustento para comunidades locais — mas hoje resiste sob forte ameaça.
Criada em 1997, por decreto federal, a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais nasceu com a missão de preservar recifes, proteger a fauna marinha e garantir a reprodução de espécies. Mesmo assim, em setembro de 2024, um estudo do Ecoa revelou dados alarmantes: em áreas de Maragogi, Paripueira e Maceió, a mortalidade dos recifes chegou a 90%.
O resultado expôs a soma de pressões antigas e novas: despejo de esgoto, pesca predatória, turismo desordenado e, mais recentemente, os efeitos das mudanças climáticas, que intensificaram fenômenos como o El Niño, responsável por ondas de calor marinhas devastadoras.
Diante desse cenário, entre ciência, turismo e engajamento social, nasce em Alagoas um projeto que busca reverter o cenário. Mais que uma iniciativa de conservação, é um esforço para devolver vida, cores e futuro a um ecossistema que corre risco de desaparecer.
Foi nesse contexto de urgência que, em novembro de 2024, o governo do estado lançou o projeto “Corais de Alagoas”, desenvolvido pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em parceria com a Secretaria de Turismo (Setur).
A iniciativa, financiada pela Setur via Fapeal e com apoio do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), tem como objetivo fortalecer e inovar as ações de preservação, unindo ciência, políticas públicas e participação da sociedade.
Segundo o professor Robson Santos, o projeto atua em três frentes: monitoramento, turismo sustentável e restauração dos recifes.
No monitoramento, mergulhos e uso de drones têm identificado colônias vivas que podem servir de base para a regeneração. No eixo da restauração, a equipe avalia técnicas utilizadas no Caribe e no Indo-Pacífico e busca adaptá-las à realidade alagoana.

Um dos diferenciais é o uso de berçários marinhos sustentáveis, que dispensam plásticos e utilizam conchas de sururu reaproveitadas pelo projeto “Conchas que Transformam”, parceria com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) e a empresa Portobello.
No turismo, a meta é transformar uma atividade que antes pressionava os recifes em aliada da conservação. O projeto já organiza oficinas com representantes do trade turístico para co-criar produtos de turismo sustentável e regenerativo, que respeitem os limites ambientais e tragam renda para as comunidades locais.
Resultados e expectativas
O projeto teve início efetivo em 2025, com a formação da equipe, definição de protocolos e início das atividades de campo. Para os próximos anos, a expectativa é consolidar Alagoas como um estado referência em conservação marinha, com práticas que aliem geração de renda e preservação.
“Nosso objetivo é que, em cinco a dez anos, Alagoas se destaque não apenas por sua beleza natural, mas também por ser exemplo de turismo sustentável e de recuperação de ecossistemas costeiros”, destaca Santos.
A preservação dos recifes, no entanto, não depende apenas da ciência e das políticas públicas. A população local e o setor turístico são peças-chave nesse processo. Além disso, repensar hábitos de consumo, reduzir o uso de plásticos, apoiar iniciativas de conservação e cobrar governantes estão entre as ações que podem contribuir.
Para o professor, o turismo, quando bem ordenado, tem potencial de se transformar em um grande aliado. “Além de aproximar as pessoas dos recifes e gerar consciência ambiental, o turismo sustentável pode trazer benefícios diretos para a população local, promovendo renda e fortalecendo a cultura de cuidado com o meio ambiente”, finaliza.
*Estagiário sob supervisão da editoria
Foto de capa: Acervo/ICMBio