Tem gente que não precisa de inimigo. Basta um “amigo” com boa dicção, elogios prontos e aquele olhar que mistura admiração e inveja. É o tipo que começa a frase com “sou fã do seu trabalho” e termina, nos bastidores, com “mas se fosse comigo, eu faria melhor”.
Na política, esse zoológico moderno onde todo mundo se diz estrategista, o fogo raramente vem do lado de fora. Ele nasce dentro, em conversas leves e risadas combinadas. É o fogo amigo, aquele que não queima de repente: vai derretendo sua confiança aos poucos, disfarçado de “conselho” e “parceria”.
Hoje, o jogo é outro. As pessoas não disputam mais ideias, disputam holofotes. “Projetos coletivos” viraram vitrines pessoais, e cada post é uma oportunidade de mostrar serviço (ou de se promover na sombra de quem realmente trabalha). É a nova fauna da política digital: o bajulador performático, o estrategista de ocasião, o aliado que vibra com o seu sucesso até perceber que ele não cabe em dois egos.
E o problema do fogo amigo é que, quando ele acende, a chama parece luz. Até que você percebe, tarde demais, que o brilho era o seu próprio lugar pegando fogo.




