A transparência não é o forte na Prefeitura de Maceió, sobretudo quando se trata de negócios milionários com agentes privados. Foi assim com a Braskem. Depois de provocar na capital alagoana o maior desastre ambiental na história do país, a mineradora se acertou com o município irrigando os cofres de Jaraguá com uma fortuna de bilhões. Foi bom para a campanha de reeleição do prefeito João Henrique Caldas.
Agora, descobre-se uma operação envolvendo a prefeitura e o Banco Master, que é visto no mercado como à beira do colapso – um quadro decorrente de atuação temerária na captação de clientes. Como noticiado, o Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de Maceió (IPREV) “aplicou” 100 milhões de reais em títulos da entidade bancária.
O tema veio a público não por iniciativa da prefeitura, mas por um pronunciamento do vereador Rui Palmeira. Ex-prefeito, ele cobrou explicações de JHC sobre o uso do dinheiro que é recolhido dos servidores para, é óbvio, garantir a aposentadoria. “Cadê os 100 milhões de reais do IPREV aplicados em banco à beira da falência?”, pergunta Rui.
É uma questão a ser esclarecida com urgência. Mas a prefeitura age de modo arrogante e obscuro. Depois que os fatos surgiram, o prefeito afastou a direção do IPREV e todos os titulares de cargos comissionados. Sim, e por que essa decisão drástica? Nenhuma palavra – nem do prefeito nem de qualquer secretário. A postura fortalece as suspeitas.
O Master repete um padrão de alto risco. Era uma corretora de títulos e valores mobiliários que mudou a marca em 2021. Antes, ao longo dos últimos 20 anos, viveu de crise em crise. Na fase mais recente registrou crescimento vertiginoso – mas isso se deu por meio de jogadas pra lá de perigosas, oferecendo prêmios muito acima da média.
Na busca considerada predatória por investidores, os títulos do Master prometem ganhos maiores do que os gigantes do setor, como Itaú e Bradesco, por exemplo. Mal comparando, é como aquelas “pirâmides financeiras”: sem liquidez para honrar o prometido, um dia a casa vem abaixo. Parece o caso em questão.
Em busca de socorro, o Master encontrou no governador de Brasília, Ibaneis Rocha, um parceiro e tanto. Ele se empenha para que o Banco de Brasília (BRB) adquira o combalido Master. Diante do exotismo do negócio, o Banco Central vetou a operação.
O Master acaba de demitir mais de 80 bancários. O governo de Brasília insiste na aquisição. Para reverter o veto do BC, os interessados contrataram Michel Temer para mediar um acordo! É nesse vendaval que a prefeitura de Maceió “investe” 100 milhões de reais – um valor sacado do fundo de previdência dos funcionários públicos.
Espera-se de JHC alguma explicação lógica para algo de tamanha gravidade.