A uma semana do segundo turno da eleição de 2018, um vídeo de Eduardo Bolsonaro sacudiu a política e o Judiciário. Numa palestra para alunos que se preparavam para um concurso da Polícia Federal, o Zero Três disse o que pensava sobre o Supremo Tribunal Federal: “Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não”.

Achando pouco, avançou no veredito, para que não houvesse dúvidas sobre sua avaliação quanto à irrelevância da suprema corte: “O que é o STF? Tira o poder da caneta de um ministro do STF. Se prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor do ministro do STF, milhões na rua?”. Sete anos depois...

Com tornozeleira na canela, o pai de Eduardo está em prisão domiciliar por decisão de ministro do STF. Mais: em julgamento do mesmo tribunal, Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão, sentença a ser cumprida inicialmente em regime fechado. Aliados da família Bolsonaro foram cassados e também condenados à cadeia.

Eduardo Bolsonaro deve ter um bocado de qualidades. Ao menos é o que pensam seus amigos e até alguns analistas na imprensa. Ele sempre foi apontado como “o mais político” dos filhos do Jair. “O Eduardo tem um projeto, sabe ler a conjuntura”, decretou um desses especialistas num programa de TV. Que fim levou toda essa sabedoria?

O valente deputado, aquele que sabe ler o momento da política e age como fino estrategista, não passa de um fujão. Ao sentir cheiro da fumaça pelo quintal, danou-se para os Estados Unidos – e de lá se exibe pateticamente como traidor do Brasil. 

Enquanto isso, sem cabo e sem soldado, o STF está no centro das grandes decisões da hora. Depois de sentenciar Bolsonaro, é ouvido pelo Legislativo e pelo Executivo sobre as pautas que dominam o debate nacional – de anistia à PEC da blindagem.

Atacado sem trégua pelo bolsonarismo durante todo o mandato do pai de Eduardo, o Supremo não se dobrou, é preciso reconhecer. Com protagonismo inédito, o topo do Judiciário está mais forte do que nunca, atirando em todas as direções.

Mas isso, obrigatório reconhecer também, não é algo que deveria ocorrer. A hipertrofia de um poder não é saudável para a democracia. O debate político é para a política, e não para a toga. Mas é o que temos na atual quadra. Pelo visto, algo a perdurar.