Há dez anos, desde 2015, Alagoas é governada pelo MDB. Primeiro com Renan Calheiros Filho, eleito e reeleito, e agora com Paulo Dantas, igualmente eleito e reeleito, com mandato previsto até 2026. Essa continuidade consolidou não apenas a hegemonia de um grupo político, mas também a absorção de forças que, em tese, deveriam representar um campo alternativo. PT, PDT, PSB e PCdoB compõem a base do governo. São partidos que se apresentam no cenário nacional como de esquerda e centro-esquerda, mas que, em Alagoas, se ajustaram ao pacto de poder comandado pelo MDB e as oligarquias locais.
Nesse contexto, quem ocupa o lugar de oposição? A extrema-direita. É ela quem se levanta contra o governo, constrói o discurso de enfrentamento e tenta ditar o tom da disputa política. A narrativa vendida à sociedade é simples e enganosa: de um lado, o MDB com “a esquerda”, de outro, a direita radicalizada. Essa simplificação interessa tanto ao governo, que fica blindado de críticas vindas da esquerda, quanto à extrema-direita, que se apresenta como a única alternativa ao poder.
O problema é que essa não é a realidade. Existe uma esquerda em Alagoas que não governa com o MDB. PCB, PSOL, PSTU, Rede de Sustentabilidade, Unidade Popular (UP) e PCO não integram a base oficial. Contudo, esses partidos não conseguem se apresentar de forma organizada e clara como oposição estadual. Suas pautas, quase sempre, são voltadas à conjuntura nacional e raramente ganham corpo no debate local. É evidente que em algum momento essa esquerda pauta temas relevantes e necessários, mas com rara demonstração de oposição direta ao governo local.
Uma breve exceção foi a recente greve da educação estadual, que impôs a PSOL, PCB e UP posicionar-se publicamente em favor da luta, em clara oposição aos encaminhamentos do governo. Ainda assim, sem nenhum posicionamento do PSTU, PCO e Rede. No último dia 07 de setembro, durante o ato do Grito dos Excluídos, a pauta majoritária foi a soberania nacional, a luta contra as sanções de Trump, o fim da escala 6 x 1, a taxação dos super-ricos, a isenção de imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais e outros pontos que diferenciam esse campo da extrema-direita, mas não expõem com clareza as diferenças na condução, participação e oposição ao governo de Alagoas. Sobre isso, silêncio total.
Importa sublinhar que o papel da esquerda, neste caso, não se trata de oferecer apoio crítico ao governo diante do enfrentamento com a extrema-direita. Esse governo não nos representa, e é justamente por isso que a esquerda precisa reafirmar sua autonomia política, organizativa e sua independência. Não há motivo para que não se declare oposição de esquerda ao governo estadual. É possível manter a luta firme contra a extrema-direita sem, por isso, abrir mão do combate consequente à hegemonia do MDB. Uma coisa não anula a outra.
Essa ausência de uma oposição de esquerda estruturada cria um vazio perigoso. O MDB governa sem ser contestado por alternativas progressistas, e a extrema-direita capitaliza todo o desgaste. A sociedade fica diante de uma falsa dicotomia: ou se apoia o governo, ou se abraça o discurso da direita radical. O resultado é o enfraquecimento da democracia, já que a crítica popular e socialista fica reduzida ao silêncio ou à dispersão.
A esquerda alagoana precisa definir, sem subterfúgios, qual é o seu lugar. Se não governa e tampouco se coloca como oposição, corre o risco de permanecer na irrelevância ou orbitando como satélite do PT. O desafio é romper o isolamento, construir um projeto conectado aos problemas concretos da população e afirmar-se como alternativa real. É necessário dizer em alto e bom som que faz oposição ao governo atual ou assumir, de forma transparente, a escolha pelo apoio crítico.
O silêncio, no entanto, apenas reforça a invisibilidade. Enquanto isso, o jogo político segue restrito à hegemonia do MDB, sustentada por setores de esquerda e centro-esquerda como PT, PDT, PSB e PCdoB, de um lado, e pela retórica estridente da extrema-direita, de outro.