Um grande mal-estar paira sobre os lutadores da educação em Alagoas. Na verdade, é toda a sociedade alagoana que começa a perceber, com desconforto crescente, a ausência, o silêncio e a falta de participação pública e simbólica do Partido dos Trabalhadores (PT) em apoio à greve dos educadores da rede estadual. O incômodo não é apenas entre os que estão diretamente mobilizados, mas se estende a amplos setores da população que ainda enxergam no PT uma referência histórica na defesa da educação pública e dos direitos dos trabalhadores. A omissão, nesse contexto, deixa marcas políticas difíceis de explicar e mais difíceis ainda de justificar.
Desde o dia 1º de julho, os profissionais da educação estão em greve. No entanto, até o momento, não houve qualquer manifestação de apoio por parte do PT, seja em sua instância estadual ou municipal. Também seguem em completo silêncio os três principais parlamentares do Partido dos Trabalhadores em Alagoas: o deputado federal Paulão, o deputado estadual Ronaldo Medeiros e a vereadora Teca Nelma. Nenhuma nota oficial, nenhuma declaração pública, nenhum gesto de solidariedade à luta da categoria. Nem mesmo em suas redes sociais, canais essenciais de comunicação direta com a base, foi publicada qualquer manifestação de apoio à greve. Essa ausência deliberada reforça a sensação de distanciamento e desconexão com os trabalhadores e trabalhadoras da educação, justamente aqueles que, historicamente, sustentaram os projetos políticos do partido. Mais grave ainda é a ausência de qualquer posicionamento que condene os ataques e ameaças proferidos pelo governador Paulo Dantas (MDB) durante a inauguração do ginásio poliesportivo da Escola Estadual Professor Edmilson de Vasconcelos Pontes. Na ocasião, diante de uma manifestação pacífica de servidores em greve, o chefe do Executivo respondeu com agressividade, desrespeito e ameaças.
Vale lembrar que, no dia 6 de julho, cinco dias após o início da greve, ocorreu o Processo de Eleições Diretas do PT em todo o Brasil. No entanto, nem a antiga direção, que ainda está em exercício, nem a nova, que só deve assumir entre o fim de agosto e início de setembro, se pronunciaram oficialmente até agora.
Mesmo Ricardo Barbosa, ainda presidente estadual formal do PT, permanece ausente do debate. E o deputado Ronaldo Medeiros, apesar de ser presidente eleito do partido, não só se ausentou do confronto direto, como também participou, ainda no mesmo dia, de uma solenidade ao lado do governador. Fez uso da palavra e, surpreendentemente, não mencionou a greve nem repudiou os ataques aos trabalhadores. Limitou-se a enaltecer os supostos avanços do governo na área da educação, o que gerou profundo desconforto e desapontamento na base dos servidores mobilizados.
Enquanto o PT permanece em silêncio, outras organizações populares têm assumido uma posição clara ao lado dos trabalhadores em greve. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou nota pública expressando solidariedade à mobilização da educação em Alagoas, reafirmando a legitimidade da luta e a urgência da defesa do serviço público de qualidade. Os Diretórios Centrais dos Estudantes (DCE) da UFAL, do IFAL e da Uneal manifestaram, respectivamente, apoio à pauta dos trabalhadores e solidariedade à greve. Partidos como PSOL, PCB e Unidade Popular também já se manifestaram publicamente em apoio à greve. A UP, por meio de seu presidente estadual, divulgou um vídeo com uma mensagem direta e firme: “Manifestamos todo nosso apoio às educadoras e aos educadores que exercem o legítimo direito de greve. Chega de coronelismo e autoritarismo!”.
Enquanto isso, importantes figuras do PT que ocupam cargos estratégicos no atual governo estadual também seguem sem se pronunciar. Gino César, secretário de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, e Marília Albuquerque, secretária de Estado da Mulher, ainda não emitiram qualquer manifestação pública sobre os ataques do governo à greve da educação nem sobre a pauta reivindicatória da categoria. O silêncio se soma à ausência de posicionamento institucional do partido, criando um contraste cada vez mais nítido entre o que se espera de um campo progressista e a prática política adotada.
Ainda mais grave é que essa ausência de posicionamento público tem aberto espaço para que parlamentares da extrema-direita, mesmo sem qualquer compromisso verdadeiro com o serviço público ou com a valorização dos profissionais da educação, ocupem o vácuo político deixado pelo PT. Esses setores, aproveitando-se do silêncio dos que deveriam liderar a defesa da categoria, condenam com razão o gesto autoritário do governador, mas o fazem para mobilizar sua base conservadora e ampliar sua presença no debate público. O resultado é duplamente perverso. Fortalece a narrativa da extrema-direita e escancara as contradições de um modelo de governabilidade que paralisa o PT e o impede de agir com a coerência que sua história exige. O silêncio, nesse caso, não é neutro. Ele atua como corrosão política, fragiliza a confiança da base e alimenta o avanço da agenda reacionária no espaço deixado por quem deveria estar à frente da luta.
Ainda que com alguma desconfiança de parte da base e sem o respaldo declarado da direção partidária, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal) segue conduzindo a greve, buscando dar vazão às inquietações acumuladas nas escolas e ao engajamento crescente de educadoras e educadores. Mas tudo isso torna cada vez mais difícil explicar à base que resiste e luta por que razão o PT, que majoritariamente dirige tanto a CUT quanto o Sinteal, limita-se a oferecer o suporte mínimo e evita se colocar publicamente ao lado da categoria. O que se impõe é um silêncio local institucionalizado, que corrói a confiança, alimenta tensões internas e enfraquece a coerência de um projeto político nacional que, historicamente, se construiu como defensor da educação pública e dos direitos dos trabalhadores.