A classe política, a imprensa e os articulistas que acompanham de perto os últimos acontecimentos em Alagoas são praticamente unânimes em apontar os vencedores do mais recente “acordão” das oligarquias: Renan Calheiros (MDB), Renan Filho (MDB), Arthur Lira (PP) e JHC (PL). Há quem sustente que JHC saiu como maior vitorioso, por ter emplacado a tia no STJ. Outros avaliam que a grande conquista é de Renan Filho, que disputará pela terceira vez o Governo de Alagoas sem enfrentar adversários competitivos, num cenário próximo de W.O. Há ainda os que enxergam em Arthur Lira um sobrevivente que, mesmo fora da presidência da Câmara e sem o orçamento secreto nas mãos, pavimentou seu caminho ao Senado. E não faltam os que reconhecem a astúcia de Renan Calheiros, prestes a tentar sua última eleição, que pode levá-lo ao Senado até 2034, quando se tornará um octagenário. Soma-se a isso a própria Marluce Caldas, indicada ao STJ no centro dessa engrenagem.
Ou seja, em maior ou menor medida, todos venceram. Essa é a narrativa dominante. Mas contar apenas a história dos vencedores é reforçar a lógica das elites que sempre dominaram Alagoas. Isso já fazem, com eficiência, as instituições, os grandes meios de comunicação e, infelizmente, parte considerável da historiografia oficial.
Este articulista, no entanto, opta por seguir em outra direção. Insiste em registrar a história dos vencidos, dos derrotados e dos excluídos. Porque esse arranjo não é apenas uma vitória política. É, acima de tudo, a renovação do pacto oligárquico que sufoca o que há de mais vivo, plural e pulsante na sociedade alagoana.
E quem são os maiores derrotados? São os mesmos que já haviam sido retratados com força simbólica no Manifesto Sururu: Por uma Antropofagia das Coisas Alagoanas. É a Alagoas dos becos, das quebradas, das lagoas, das populações ribeirinhas, dos terreiros, dos quilombos, dos mercados populares. A Alagoas que resiste sob o peso secular das estruturas de poder extrativistas e clientelistas. A Alagoas que tem sua cultura devorada, suas vozes abafadas, suas lideranças invisibilizadas.
A antropofagia sugerida no manifesto original, escrito por Edson Bezerra, não era passividade cultural. Era reação criativa. Era o chamado a devorar a tradição e devolvê-la em forma de ruptura, de reinvenção. Por isso, diante do atual cenário, torna-se urgente uma segunda parte deste manifesto. Não mais voltada apenas à crítica simbólica, mas como instrumento de ação, de luta e de mobilização popular.
Porque o que se impõe agora é resistência. Resistência ao apagamento. À normalização da conciliação entre opressores históricos. À perpetuação do silêncio institucional. Resistência à ideia de que não há alternativa fora dos circuitos das oligarquias.
Que venha, pois, o Manifesto Sururu II. Mais afiado, mais ousado e mais coletivo. Porque se há algo que esse acordão deixou claro, é que os vencedores já têm quem escreva por eles. Mas a Alagoas profunda, que sangra calada, ainda precisa encontrar os que escrevam com ela.