O Processo de Eleições Diretas (PED) do Partido dos Trabalhadores, marcado para o próximo dia 6 de julho, tem exposto contradições profundas dentro da legenda, especialmente em Alagoas. Em meio a disputas intensas, denúncias graves e tentativas de renovação, algumas lideranças do partido, representantes de setores sociais relevantes, adotam posturas ambíguas, incoerentes ou até mesmo omissas. Isso não tem passado despercebido pela militância nem pela sociedade.
Um caso emblemático é o da vereadora Teca Nelma, a mais votada do partido em Maceió nas eleições de 2024 e única petista eleita para a Câmara Municipal. Apesar de buscar ocupar um espaço à esquerda, apoiando pautas importantes e protagonizando enfrentamentos no legislativo, sua trajetória política é indissociável da figura da mãe, Tereza Nelma, cuja atuação nunca foi de ruptura com as oligarquias locais. Pelo contrário, sempre esteve alinhada a projetos conservadores ou moderados, distantes do campo progressista. Ainda assim, Teca optou por apoiar a candidatura de Dafne Orion à presidência estadual do PT, justamente a representante do grupo historicamente comandado por Paulão e Ricardo Barbosa, atual presidente estadual da legenda, envolvido em sucessivas denúncias e alvo de contestação crescente dentro da própria militância.
Ao mesmo tempo, talvez buscando amortecer os impactos de seu alinhamento com o grupo hegemônico, Teca também declarou apoio à candidatura de Alê Costa, do movimento Renova PT, que disputa a presidência municipal do partido em Maceió. Com isso, tenta manter um pé em cada campo, dividindo-se entre os que tentam preservar o aparato e os que buscam renová-lo. Essa dualidade mais confunde do que constrói e pode fragilizar sua credibilidade diante da militância. Ainda assim, é importante registrar que Teca Nelma foi uma das poucas lideranças que se posicionaram de forma explícita nas redes sociais sobre seus apoios neste PED.
Outro silêncio estratégico vem da Bancada Negra do PT, especialmente de Alycia, segunda candidata mais votada do partido na capital em 2024. Referência para muitos militantes, especialmente da juventude e das periferias, Alycia ainda não se pronunciou publicamente nem sobre as denúncias envolvendo o presidente estadual do partido, Ricardo Barbosa, nem sobre o papel de seu filho, advogado do PT e atual presidente da Comissão de Ética. Também não há manifestação em relação às propostas de transformação defendidas pelo Renova PT. Embora se saiba que sua entrada no partido contou com articulação junto ao grupo de Paulão, o silêncio diante da crise institucional soa como alinhamento tácito, frustrando setores que esperavam uma postura mais firme e consequente.
Por outro lado, quem também tornou pública sua posição política no processo foi o pastor Wellington do Pinheiro, terceiro nome mais votado do PT nas eleições de 2024 e liderança política, religiosa e territorial com forte atuação nos últimos anos. Como pastor da Igreja Batista do Pinheiro, Wellington tem sido uma das vozes mais combativas na denúncia do crime ambiental cometido pela Braskem e na resistência simbólica e concreta pela permanência da comunidade no território da igreja. Seu alinhamento com o grupo do deputado estadual Ronaldo Medeiros, candidato à presidência estadual do PT, sinaliza uma postura de enfrentamento às estruturas oligárquicas que ainda dominam o partido no estado. Ao contrário de outros nomes, Wellington assume com firmeza o projeto de reconstrução partidária, buscando reconectar o PT com suas origens populares e territoriais.
Essa eleição interna vai muito além da escolha de novos dirigentes. É um teste de coerência, coragem e responsabilidade histórica. A forma como figuras públicas e lideranças sociais lidam com este momento dirá muito sobre o futuro do PT em Alagoas. O PED de 6 de julho será também um termômetro de avaliação pública. Os silêncios de agora podem se transformar em cobranças ruidosas muito em breve.