A chegada do período chuvoso acende um alerta para um problema que vai além dos alagamentos e transtornos urbanos: as doenças de veiculação hídrica. Transmitidas pelo consumo ou contato com água contaminada, geralmente por bactérias, vírus, parasitas ou fungos, essas doenças tendem a se espalhar com mais facilidade em regiões com saneamento básico precário.

Em entrevista ao Cada Minuto, o médico infectologista Fernando Maia explicou que a incidência dessas doenças costuma aumentar durante as chuvas. “A chuva traz a sujeira de outras partes e acaba contaminando as águas que se usa para tomar banho, para beber, etc. Por isso, geralmente, os casos aumentam nessa época”, relatou.

Segundo ele, as doenças mais comuns nesse cenário são as diarreias bacterianas, diarreias virais e a leptospirose. Todas elas afetam principalmente o sistema digestivo e apresentam sintomas como náusea, vômito e diarreia. “Na maioria das vezes, o paciente também tem febre, embora nem sempre. No caso da leptospirose, os sintomas incluem febre, dores no corpo especialmente nos músculos e uma dor característica nas panturrilhas. Nas formas graves, pode haver insuficiência renal, urina escura ou em pouca quantidade, além de icterícia, quando a pele e os olhos ficam amarelados.”

Apesar dos sintomas, o médico esclarece que, na maior parte dos casos, os quadros de diarreia se resolvem espontaneamente com repouso, hidratação e medicamentos sintomáticos. No entanto, quando há vômito persistente, o ideal é procurar atendimento médico, já que o paciente pode precisar de hidratação intravenosa.

“Se a pessoa tiver febre muito alta, se a diarreia for muito intensa e ela não conseguir se hidratar em casa, ou ainda se surgirem sintomas como sangramento nas fezes ou vômitos recorrentes, é hora de procurar um médico”, alerta Fernando Maia.

Doenças diferentes, sintomas similares

Ele também chama atenção para o risco de confusão com outras doenças. “A leptospirose, por exemplo, pode se parecer com a dengue. Por isso, é fundamental buscar atendimento para confirmar o diagnóstico e iniciar o tratamento o quanto antes.”

Crianças pequenas, idosos e pessoas com imunidade comprometida estão entre os mais vulneráveis às formas graves dessas infecções que, infelizmente, podem até levar à morte se não forem tratadas a tempo.

Os casos mais graves são encaminhados ao Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA), referência em doenças infectocontagiosas em Alagoas. De acordo com a assessoria da unidade, foram registrados neste ano de 2025, dos meses de janeiro a abril 8 casos, sendo 3 de esquistossomose, e 5 de leptospirose. “Agora temos mais infecções de origem indefinida que podem ter tido origem em consumo ou contato com água contaminada”, informou.

O hospital atende pacientes por meio da regulação estadual. “Se uma pessoa apresentar sintomas suspeitos, deve primeiro procurar uma UPA ou UBS. A depender da gravidade do caso, ela será encaminhada ao HEHA pela Secretaria de Saúde do Estado”, explicou a assessoria.

O infectologista ainda deixa algumas dicas importantes de prevenção para evitar essas doenças durante o período chuvoso:

Consumir água mineral ou encanada. Caso não seja possível, ferver ou filtrar a água antes do consumo;

Cozinhar bem peixes e frutos do mar antes de ingeri-los;

Lavar alimentos crus, como frutas e verduras, com água e sabão ou em solução com hipoclorito de sódio.

*Estagiária sob supervisão

Foto 1- Carla Cleto / Ascom Sesau

Foto 2- Ascom Santa Casa

Foto 3- Ana Paula Tenório / Ascom Helvio Auto