A vida é, sim, feita de escolhas. E, por trás de cada uma delas, está uma renúncia silenciosa que nem sempre temos coragem de encarar. A maioria não escolhe o que quer — escolhe o que aguenta. Escolhe o que não abala. Escolhe o que não exige confronto, o que evita o abismo, o que garante noites calmas, ainda que vazias.

Quantos continuam em relações mornas, trabalhos que sufocam, círculos que cansam — tudo em nome de uma falsa estabilidade? Quantos vendem a própria alma pelo conforto de não ter que lidar com as dores de um recomeço? É cômodo, sim. Mas é também o caminho mais rápido para uma vida sem propósito.

Há quem chame isso de maturidade. Outros chamam de prudência. Mas, muitas vezes, é só covardia fantasiada de sabedoria. Porque encarar a verdade dói. Romper exige coragem. E se mover do lugar onde se está, mesmo infeliz, é quase sempre visto como loucura.

Mas a verdade é simples e cruel: tudo que se escolhe pelo medo cobra caro. Tudo que se adia para evitar o desconforto, um dia, explode em forma de arrependimento. E não há travesseiro que sustente o peso de uma vida não vivida de verdade.

Que fique claro: toda escolha é uma assinatura no contrato da própria história. E o tempo — esse juiz implacável — cobra cada linha escrita sem convicção.

Escolher o conforto é legítimo. Mas não se iluda: pode ser também a escolha mais perigosa de todas.