Na última sexta-feira, 16 de maio de 2025, o Canjeré do PosuBeta viveu um momento histórico em Maceió. Sob a condução de Mãe Mirian e da produtora Sosó, o encontro reuniu o Povo de Matriz Africana para celebrar, debater e fortalecer suas tradições. Mas foi a presença inesperada e simbólica de Babá Manoel Lima Teixeira — o Pai Manoel do Xoroqué — que transformou o evento em algo ainda mais profundo.

Conhecido por sua discrição e por recusar convites para eventos públicos, Pai Manoel surpreendeu a todos ao aceitar o chamado de Mãe Mirian para apresentar o projeto que idealizou e coordena: o Makuiu N’Zambi. Voltado ao acolhimento espiritual de pessoas privadas de liberdade, o projeto atua dentro do Presídio Cyridião Durval, especialmente no bloco LGBTQIAPN+, promovendo o reencontro de cada indivíduo com sua ancestralidade, com sua força interna e com suas raízes.

Mais do que assistência religiosa, o Makuiu N’Zambi promove escuta, afeto e reconstrução de laços — seja com a família biológica ou com as casas de tradição. É uma forma de presença espiritual que resiste à hegemonia religiosa nos espaços de encarceramento e reafirma a dignidade de quem muitas vezes foi esquecido. Um reflexo concreto disso é a ausência de casos de automutilação entre os internos do bloco LGBTQIAPN+ desde a chegada do projeto.

Pai Manoel falou com simplicidade, como quem sabe da força que carrega, mas prefere lançá-la como um sopro sereno. Ao final, fez um chamado às demais lideranças de matriz africana: somar forças. Porque cuidar do povo não é missão solitária. É partilha, é orixá em movimento.

Que o Canjeré siga abrindo caminhos. E que o Makuiu N’Zambi continue sendo esse sopro de liberdade onde o sistema aprendeu apenas a punir.

Kolofé, meu Pai!

Em diálogo com a companheira de lutas e ideias, Mônica Carvalho (Jexaomim)