Ao que parece, está a caminho a CPMI cujo objetivo será investigar o desvio bilionário no INSS. Até onde se sabe, de 2019 para cá, uma quadrilha meteu a mão em mais de 6 bilhões de reais – uma fortuna surrupiada de aposentados e pensionistas da Previdência Social. Entidades falsificaram autorizações para descontos mensais no contracheque das vítimas. O esquema começou na gestão Bolsonaro e seguiu sob Lula.
E é aí que o debate incendeia o Congresso Nacional. Desde que a investigação da Polícia Federal veio à tona, o fogo cruzado entre governo e oposição se intensifica em torno de um ponto específico: quando nasceu a roubalheira? A princípio, a direita extrema e o bolsonarismo sentiram o cheiro de sangue e partiram pra cima do PT.
Ocorre que, como está escrito acima, os quadrilheiros iniciaram a operação criminosa no primeiro ano do governo Bolsonaro. Nos quatro anos de mandato de Jair Messias, os bandidos jamais foram incomodados. Ao contrário. Com a preciosa ajuda do parlamento, o negócio chegou a ser facilitado para os marginais. Tremenda “rede de apoio”.
PT e governo Lula se agarram a esse aspecto cronológico para empurrar a bomba na direção oposta. O problema é que a partir de 2023, primeiro ano da gestão lulista, as cifras do roubo explodiram. Assim, cada lado procura o melhor jeito de se dar bem diante dessa incômoda linha do tempo. Certo é que, há seis anos, a bandidagem correu solta.
No discurso do governo Lula, ressalta-se que o escândalo foi descoberto agora, e a Polícia Federal atua com independência para apurar tudo. A oposição aponta que autoridades da atual gestão sabiam do caso e nada fizeram. Sendo assim, ou foram incompetentes ou eram cúmplices na parada. Esse cenário tende a ser duradouro.
Mal comparando, estamos diante de um panorama semelhante àquele visto em 2021 na CPI da Covid-19. O que uma investigação parlamentar pode produzir a ponto de influenciar as próximas eleições? Era exatamente isso o que se debatia na época da pandemia. Não dá para prever. Sempre haverá o suspense sobre uma eventual “bomba”.
Mesmo assim, os efeitos de uma CPI não podem ser aquilatados antes da hora. Em 2005, a CPI dos Correios produziu estragos em série contra o governo, mas, no ano seguinte, Lula se reelegeu. Agora, no caso INSS, parece inevitável a instalação da comissão para investigar os fatos. As consequências políticas são imprevisíveis.