Dona Marluce Caldas finalmente chegou lá. Agora que a tia de JHC virou ministra do STJ, as negociações políticas em Alagoas entram em novo ritmo. É o que dizem todos os analistas da conjuntura alagoana nas gloriosas páginas de nossa imprensa. Não é um escândalo que a gente fale assim – com tamanha naturalidade – sobre um arranjo que mistura jogada eleitoral e Poder Judiciário? É verdade, mas na vida real é assim mesmo.

Não vamos exagerar com a reivindicação por um mundo ideal. Como dizia o padre Quevedo, “isso non ecxiste”. Se em outros ramos da vida cotidiana, os melhores padrões de conduta são rarefeitos, não há por que esperar nobreza justamente no campo da política. No pragmatismo, o que interessa são os acordos para garantir cargos e votos.

Nesta quarta-feira 13, a procuradora Marluce Caldas foi sabatinada e, na sequência, teve seu nome confirmado pelo Senado. É o rito legal. Como quase sempre ocorre nessas ocasiões, a palavra “sabatina” exige aspas, como acabo de fazer. Senadores deixam de fazer perguntas, e gastam o tempo com elogios à base de superlativos.

Salvo engano, a nomeação da alagoana para o STJ virou assunto há mais de um ano. A cadeira está vazia há meses. Aqui entra em campo o papel do presidente da República, que tem a prerrogativa de indicar membros dos tribunais superiores. Lula agiu como o esperado, seguindo o modelo que está aí há décadas. Mas isso não apaga a anomalia.

Para além dessas digressões sobre o Brasil republicano, digamos assim, o que acontece a partir de agora? Lula cumpriu sua parte naquele tal de acordão de Brasília. Como você sabe, o acerto envolve o grupo do senador Renan Calheiros, a turma de Arthur Lira e a família Caldas. O prefeito de Maceió deve se mexer nos próximos dias.

Por tudo o que se sabe, dá-se como certo que João Henrique Caldas não deve disputar as eleições do ano que vem. É sua contraparte no acordo. Ele precisa facilitar a vida de Renan (pai) e de Arthur Lira. Os dois ficam mais tranquilos para garantir as duas vagas ao Senado. Davino Filho e Alfredo Mendonça não devem tumultuar o projeto.

Não lembro de outro caso de nomeação para o STJ que tenha demorado tanto, e cercado de tantas especulações eleitorais. A escolhida sabe muito bem disso, ao contrário das versões que tentam apresentá-la como se estivesse acima dessas negociações. Não há ingênuos no centro de uma trama dessa natureza. A ver o desempenho da jurista no STJ.