Todo início de ano letivo, pais e mães de primeira viagem, e até mesmo os mais experientes, enfrentam um momento delicado com seus filhos: o primeiro dia na escola.
Segundo a legislação brasileira, as crianças devem ser matriculadas no ensino infantil a partir dos três anos de idade. No entanto, é comum que muitos pais matriculem seus filhos em creches a partir dos seis meses de vida.
Seja aos seis meses ou aos três anos, a separação entre pais e filhos pequenos é um momento delicado e pode, muitas vezes, ser traumático, não apenas para as crianças, mas também para os pais.
Para falar sobre como se preparar para os primeiros dias de aula, o CadaMinuto entrevistou especialistas: a psicóloga Cléia Santos e a professora de ensino infantil Thayse de Morais. Além disso, a jornalista Maria Maia, mãe da pequena Maria Cecília, de três anos, compartilhou como foi a experiência das duas nesse início de vida escolar. Confira.
Substitua pensamentos negativos por pensamentos positivos e realistas
A psicóloga Cléia Santos deu dicas de como as mães devem se preparar para este primeiro momento na escola:

Preparação emocional das mães:
- Identifique pensamentos negativos: Mães podem ter pensamentos negativos sobre a separação, como "Meu filho não vai conseguir ficar sem mim." É importante identificar esses pensamentos e substituí-los por mais realistas e positivos, como "Meu filho vai aprender coisas novas e fazer novos amigos."
- Reestruturação cognitiva: Substitua pensamentos catastróficos por pensamentos equilibrados. Por exemplo, "Estou preocupada que ele vai chorar o dia todo" pode ser substituído por "Ele pode chorar no início, mas vai se adaptar com o tempo e se divertir."
- Cuide de si mesma: As mães devem lembrar de cuidar da própria saúde mental e emocional. Isso pode incluir atividades que tragam prazer e relaxamento, como ler, caminhar ou meditar.
- Desenvolvimento de uma rede de suporte: Converse com outras mães que passam pela mesma situação para trocar experiências e apoio emocional.
Para as crianças, é importante uma rotina consistente e um diálogo positivo
Desenvolvimento de rotinas:
- Estabeleça uma rotina consistente: Crie uma rotina matinal nos dias que antecedem a escola para que a criança saiba o que esperar. Isso pode incluir o horário de acordar, café da manhã e vestimenta. É importante que isso seja estabelecido antes de começarem as aulas.
- Visitas antecipadas: Se possível, faça visitas antecipadas à escola para que a criança se familiarize com o ambiente. Isso pode reduzir a ansiedade tanto da mãe quanto da criança.
Diálogo positivo:
- Comunique-se com a criança: Explique à criança de forma simples e positiva sobre o que vai acontecer no primeiro dia de escola. Use palavras que ela entenda e transmita segurança.
Estabeleça metas realistas:
- Meta de adaptação: Estabeleça metas realistas para a adaptação tanto da mãe quanto da criança. Reconheça que pode levar algum tempo para ambos se ajustarem à nova rotina.
Técnicas de enfrentamento:
- Técnicas de relaxamento: Ensine a criança técnicas simples de relaxamento, como respiração profunda, que ela pode usar se se sentir ansiosa na escola. As mães também podem usar essas técnicas para gerenciar sua própria ansiedade.
Para o momento de despedida, o clima deve ser leve e tranquilo, diz Cléia: “No primeiro dia de aula, é essencial criar um ambiente de segurança e apoio para a criança e a mãe. Comece com uma rotina matinal tranquila, preparando tudo com antecedência para evitar correria. Chegue à escola um pouco mais cedo para familiarizar a criança com o ambiente e aproveite para conhecer os professores e outros alunos. Mantenha a despedida breve, mas carinhosa, com palavras de encorajamento como ‘Você vai se divertir muito hoje e eu estarei aqui no final do dia’.”
Os pais precisam assegurar aos filhos que retornarão ao final do período
A professora de educação infantil Thayse de Morais, ao ser perguntada sobre os principais erros cometidos pelos pais nos primeiros dias de aula de seus filhos, alertou sobre a falta de preparação das crianças e dos próprios pais.

“Muitas vezes, nem os próprios pais estão devidamente preparados para o momento de separação, mesmo que seja por um período curto. Pode-se observar que, ao longo dos anos, a situação tem se agravado, prejudicando o desenvolvimento integral das crianças. Em muitos casos, as crianças são deixadas na escola sem nenhuma orientação prévia. Por ser um ambiente novo na vida do estudante, essas atitudes têm causado sequelas irreversíveis na primeira infância. Outro ponto importante a salientar é que, com a demanda por creches integrais, as famílias não estão conseguindo lidar com sentimentos e ações essenciais que envolvem essa etapa, como acolhimento, palavras positivas, familiarização com o ambiente antes da matrícula e outras atitudes que tornam esse momento de socialização agradável e não traumático”, disse a professora.
Sobre as atitudes dos pais que fazem diferença para a adaptação dos filhos, Thayse deu algumas instruções: “É importante que as famílias orientem as crianças antes de começarem a frequentar a escola, reafirmando de forma positiva o ambiente e as profissionais que lá estarão, lembrando-as de que será apenas um período de tempo e que os pais irão retornar ao fim das experiências pedagógicas, deixando-as seguras e confiantes.”, alertou.
A professora explica que, após a primeira semana, as crianças geralmente começam a demonstrar mais segurança e autonomia.
"Após a primeira semana, que é sempre a mais difícil tanto para as famílias quanto para as crianças e os professores, os alunos começam a demonstrar mais autonomia e segurança no ambiente escolar. As interações entre os colegas se tornam mais evidentes: eles começam a brincar em grupos, a apresentar soluções para problemas e a agir de forma mais participativa. Assim, percebemos sua evolução e buscamos estratégias e alternativas que promovam seu desenvolvimento gradual", concluiu.
Confira o depoimento da jornalista Maria Maia, mãe da pequena Maria Cecília, de três anos, que está em seu segundo ano de vida escolar.

Qual foi a sensação no momento da separação no primeiro dia de aula?
Mesmo sendo o segundo ano da Maria Cecília na escola, a sensação da separação ainda é intensa, porque somos muito apegadas uma à outra. O coração de mãe sempre fica apertado nesse momento, porque é um misto de emoções. Por um lado, há aquele sentimento de saudade e preocupação, o medo do desconhecido e de como ela vai lidar com essa nova etapa. Mas, por outro, vem a gratidão e o orgulho de vê-la crescendo, se tornando cada vez mais independente e construindo seu próprio caminho. Saber que ela está segura, bem cuidada e feliz na escola me conforta. Porque sei da dedicação e da competência dos professores e profissionais que estão lá. Além disso, é muito especial perceber que esse espaço escolar, que antes era novidade, agora se tornou um ambiente acolhedor para ela. Ver o entusiasmo dela ao falar sobre o dia, sobre os amigos e sobre as coisas novas que aprende me dá a certeza de que, apesar da saudade, essa é uma fase incrível e necessária para o desenvolvimento dela.
Como Maria Cecília reagiu para a volta às aulas?
Cecília sempre demonstrou um espírito curioso e sociável, então estar na escola para ela é algo muito positivo. Ela adora brincar, interagir com os amigos e descobrir coisas novas. Nos primeiros dias, mesmo com um pouco de receio por ter uma professora nova, ela conseguiu se adaptar rapidamente. Acho que essa segurança vem do fato de ela já estar familiarizada com o ambiente escolar e de saber que ali é um espaço onde ela se sente bem.
Assim que percebeu que a mudança era apenas com as novas professoras, e que a rotina continuaria com brincadeiras e aprendizado, ela se sentiu confortável novamente.
Todos os dias, quando eu chego do trabalho e pego ela na casa dos meus pais, ela compartilha com entusiasmo as experiências vividas, conta sobre os amiguinhos que conheceu, as brincadeiras e até algumas novidades que aprendeu. Essa animação me tranquiliza, pois mostra que ela está feliz e segura nesse novo ciclo. A escola tem sido um ambiente de descobertas para ela, e ver essa alegria reflete a importância desse processo para o seu crescimento e desenvolvimento.
Você se preparou e preparou sua filha, de alguma forma, para a nova rotina escolar?
Sim, desde antes do início das aulas, sempre converso bastante com a Cecília para prepará-la para essa nova fase. Mesmo ela tendo apenas três anos, acredito que o diálogo é essencial para ajudá-la a entender as mudanças e sentir segurança.
Explico que voltar para a escola é um momento especial, que ela vai reencontrar os amigos, conhecer novas pessoas e aprender muitas coisas legais, além de estar se preparando para o futuro. Também reforço que sentir medo ou receio no começo é completamente normal, mas que, aos poucos, tudo vai se encaixando e ela vai se sentir cada vez mais à vontade.
Além disso, tento envolver ela nos preparativos para que se sinta parte desse processo. Mostro o material escolar, peço que ela me ajude a organizar e deixo que ela escolha a mochila e o lanche, e sempre falo sobre como será divertido. Outra coisa que faço é tentar manter uma rotina organizada, com horários regulares para dormir, acordar, fazer as tarefinhas, o que ajuda bastante na adaptação.
No primeiro dia, mesmo com o coração apertado, sempre transmito segurança para ela, para que ela perceba que está tudo bem e que a escola é um lugar seguro e acolhedor. Acho que essa preparação tem feito diferença, porque ela se mostra cada vez mais confiante e animada com essa nova etapa.
*Estagiário sob supervisão da editoria.