Entramos nos últimos dias da eleição de 2024 e a atmosfera nas ruas é de uma tranquilidade quase glacial. Enquanto isso, nos bastidores das campanhas, a temperatura atinge níveis vulcânicos. Um cenário paradoxal em que os eleitores seguem frios, distantes, quase indiferentes, enquanto os apoiadores estão fervendo, disputando voto a voto como se o mundo dependesse disso — e, para alguns, talvez dependa mesmo.
Mas por que o eleitor parece tão apático? Em um ano marcado por promessas recicladas, acusações previsíveis e o déjà vu de velhos candidatos reembalados em slogans “novos”, o eleitor não se impressiona mais.
Enquanto isso, os comitês de campanha seguem como panelas de pressão, onde cada adesivaço, cada carreata e cada aceno de rua são exaltados como se fossem uma revolução iminente. Tudo dentro de uma bolha de entusiasmo artificial, onde o candidato acredita que “se a minha militância está animada, o povo também está”. Mas a realidade das ruas sugere o contrário. A frieza com que o eleitor observa as brigas eleitorais não é apenas desapontamento, mas, talvez, um sinal de que os velhos truques perderam efeito.
E aí surge a pergunta que assombra todas as coligações: o que esperar nas urnas? A resposta é incerta. Se o termômetro das campanhas só mede a temperatura interna, é provável que muitos estejam lendo mal o ambiente externo. A euforia das últimas semanas pode acabar sendo um espetáculo para si mesmos, enquanto o eleitor, impassível, decide nas urnas sem qualquer compromisso com o calor do discurso eleitoral.
E esse é o dilema: uma eleição onde os únicos animados são os cabos eleitorais — e só eles. Não há como saber se o barulho nos comitês é prenúncio de uma virada, de uma confirmação ou apenas de um delírio coletivo. No domingo, é possível que as urnas reservem surpresas gélidas para os que ardiam de entusiasmo, e a frieza do eleitor — tão subestimada — pode acabar sendo o fator mais quente desta disputa.
No fim, a expectativa é a única coisa realmente incerta. Porque uma coisa é certa: enquanto as campanhas pegam fogo, o povo, impassível, segue com a sua serenidade congelante.