Um tema recorrente. Eu mesmo já escrevi mais de uma vez aqui sobre o fenômeno. Trato da comunicação e da estratégia de marketing nas campanhas eleitorais. Como a gente sabe, tudo mudou nesse negócio desde que a era das redes sociais dominou o mundo. Durante décadas, a autoridade boçal de marqueteiros mandou e desmandou nas candidaturas em geral. Os caras se portavam como deuses infalíveis, acima de tudo.
Duda Mendonça e Nizan Guanaes fizeram história e produziram herdeiros aptos a macaquear suas “sacadas geniais”. Havia uma tremenda carga teatral na atuação desses tipos, vistos como gurus pela turma da publicidade. Tratados como sábios, marqueteiros dessa magnitude flutuavam nos comitês com ares de entidades sobrenaturais. Contratados a peso de ouro, a arrogância precedia suas patas no ambiente.
Ao longo da vida profissional, trabalhei duas vezes em campanha eleitoral majoritária em Alagoas. Entre uma e outra, um intervalo de vinte anos. Na primeira, o mandachuva no conteúdo da propaganda não era sequer visto no comitê. Usava corredores exclusivos para não cruzar com a tropa que pegava no batente pra valer. A única pessoa com quem o cidadão se reunia era o próprio candidato. A empáfia acabou em derrota.
Na segunda ocasião, o rei do pedaço alternava o trabalho em Maceió com candidaturas em outros estados. Fazia ponte aérea, como uma estrela em espetáculos simultâneos. Até um dia desses, era algo comum que o mesmo marqueteiro estivesse à frente de aventuras eleitorais em diferentes regiões do país. Claro que não tem muito perigo de dar certo. Mas, por alguma razão metafísica, políticos acreditam nessa lenda mequetrefe.
Se essa presepada já não fazia sentido nos tempos analógicos, hoje menos ainda. A turma veterana do marketing político nasceu e cresceu em outro mundo, preocupada em montar peças para rádio e TV, além de orientar o candidato em entrevistas e debates. Falta um estudo sobre como essa gente se adaptou ao metaverso, o que pensa e como age no vendaval das redes sociais. Porque a técnica dos “gênios” foi para o espaço.
Chovendo no molhado, um marco da inflexão na propaganda eleitoral é a eleição de Bolsonaro em 2018. Agora em 2024, a figura de Pablo Marçal expõe de modo fatal a vertigem do novo tempo. Não é que tenha mudado para melhor. Mas a transformação impõe aos candidatos a escolha de novíssimos caminhos para fisgar o eleitor. Prestar reverência a sabichões como os antigos marqueteiros é contratar o fracasso.