O senador Davi Alcolumbre e o deputado Hugo Motta decidiram partir pra cima do governo, abrindo nova crise entre Executivo e Legislativo. O presidente do Senado age em reação ao escolhido do presidente Lula para o STF. O chefe da Câmara acusa o PT de fazer campanha contra ele nas redes sociais. Nesta semana, o desgaste escalou o nível mais alto nos dois casos. Em combinação evidente, a dupla recusou o convite do petista para a solenidade festiva que sacramentou a isenção de Imposto de Renda para quem recebe até 5 mil reais por mês. E agora? O está a caminho nos próximos capítulos?

A relação entre os dois poderes, na verdade, vive se equilibrando em arestas o tempo todo. No tal presidencialismo de coalizão, do jeito que se dá no país nos últimos anos, a tensão é marca registrada. Mas nunca foi como no atual estágio – desde que o Congresso conseguiu aprovar projetos e emendas à Constituição que deram prerrogativas inéditas a deputados e senadores. Ninguém mais quer abrir mão disso.

O exemplo mais explícito é o caso das emendas. Câmara e Senado passaram a decidir o destino de bilhões de reais do orçamento federal – sem qualquer responsabilidade sobre a devida aplicação dos recursos. Ao contrário. A farra corre solta na distribuição de verbas para redutos eleitorais em detrimento de projetos sérios, com estudos técnicos sobre alcance, viabilidade e prazos. O que importa é a pescaria de votos garantida.

A parada já foi assim com Bolsonaro, deve-se lembrar. Preocupado em se manter no poder a todo custo, o ex-presidente se acertou na boa com o centrão e demais frentes nesse jogo de trocas, acertos e conveniências. Mesmo assim, sobretudo na época de Rodrigo Maia no comando da Câmara, houve episódios de atrito.

Nesta quinta-feira, o Congresso deu mais uma mostra do tipo de jogada que pretende na relação com o governo. Por ampla maioria, a turma derrubou vetos de Lula a um projeto que “passa a boiada” em demandas de licença ambiental. Tudo sob o papo demagógico e hipócrita de preocupação com a harmonia entre desenvolvimento e sustentabilidade.  

Nem se trata aqui de debater o mérito do tema. Fosse qualquer outro assunto, o arrastão seria o mesmo. O que o Senado queria – e assim o fez – era derrotar o governo. Com isso, tenta emparedar Lula, outra vez, para obter o que deseja. É a velha chantagem em estado bruto, sem disfarce – a não ser o cinismo do discurso sobre “altivez e independência” do parlamento. Velho roteiro que se repete sem surpresa.

A escolha de Jorge Messias para o STF está na mesa como o próximo lance nessa guerra. A sabatina está marcada para o dia 10 de dezembro. Diz a imprensa que Alcolumbre prepara o terreno para impor uma derrota avassaladora a Lula, barrando a indicação no voto do plenário. O veto a um nome para o STF ocorreu pela última vez no governo de Floriano Peixoto. Como se vê, estamos perto de uma marmota histórica.

Expectativa geral sobre os movimentos de Lula. O que o presidente, “PHD em política”, fará diante de uma real ameaça à sua escolha para o Supremo? Seja qual for o desfecho, o clima entre governo e Congresso seguirá nessa toada, porque assim está desenhado o modelo de relação entre as partes. Em ano eleitoral, tudo isso fica ainda mais delicado.