O futuro próximo da direita no Brasil depende do que ocorre agora na disputa pela prefeitura de São Paulo. Na verdade, dado o perfil dos atores envolvidos, o mais preciso é falar em ultradireita. A turma dos extremistas vive um terremoto até pouco tempo atrás improvável. O panorama é tão grave que incomoda Bolsonaro, seus filhos e o grupo que forma o núcleo duro da seita do capitão. Tudo isso porque Pablo Marçal está na área.

O coach aloprado e picareta virou, do dia pra noite, inimigo mortal do “mito”. E por que isso? Porque ele avança sobre o eleitorado bolsonarista mesmo sem as bênçãos de Bolsonaro. A escolha do ex-presidente pela candidatura do prefeito Ricardo Nunes não encontra apoio amplo no reacionarismo raiz. Essa faixa adora o estilo Marçal – estridência, memes e fake news a perder de vista. A encrenca está pegando fogo.

Bolsonaro não admite concorrentes na faixa da extrema direita. Até um dia desses, os nomes que ensaiavam esse papel eram Ronaldo Caiado, Ratinho Junior, Romeu Zema e Tarcísio de Freitas. Nenhum deles chegou nem perto de provocar o incômodo que o capitão da tortura sente com Marçal. O clima azedou após o candidato do nanico PRTB subir nas pesquisas, tornando-se ameaça real para Nunes, o candidato de Bolsonaro.

A parada está tão amalucada que o coach entrou na corrida como inimigo número um de Guilherme Boulos, apoiado pelo presidente Lula, mas agora é visto como espinho para o ex-presidente. Eduardo Bolsonaro acaba de postar um vídeo atirando contra Marçal. Outros seguidores do ex-presidente fazem o mesmo. A ironia é que o aventureiro se destacou com discurso de extrema direita, exaltando Bolsonaro, seu ídolo e modelo.

O problema é que Marçal – vejam a loucura – “aprofunda” as ideias da barca reacionária. Em outras palavras, o elemento consegue ser pior do que o bolsonarismo mais tosco. Propostas para a cidade? Que nada! O que a galera quer ouvir é ladainha sobre “pátria, família e liberdade”. E aí estão os bueiros para a misoginia, homofobia, preconceito religioso, racismo, discriminação em geral. Factoides e mentiras embalam a discurseira.

Fato é que Marçal é a grande novidade na eleição da maior cidade do país. Com a falácia de candidatura “antissistema”, entrou na briga contra os “comunistas”, mas rapidamente virou pedra no caminho de sua própria cercania, a direita ensandecida. De quebra, o elemento está cercado de lances obscuros em sua trajetória. Até condenado por roubo ele já foi. Tudo pode acontecer, até mesmo a cassação da candidatura do “outsider”.

Com a guerra interna na corja direitista, Boulos ganha um trunfo inesperado. Vamos ver.