Agosto é um mês marcado por campanhas de conscientização, uma delas é o Agosto Branco, dedicado à prevenção e combate ao câncer de pulmão. Iniciada na última quinta-feira (1º) em todo o Brasil, a campanha visa alertar a população sobre os riscos, métodos de prevenção e importância do diagnóstico precoce da doença, que é considerada uma das mais letais do mundo.
Dados divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), do Ministério da Saúde, apontam uma estimativa de 32.560 novos casos de câncer de pulmão para cada ano do triênio 2023/2025. Em Alagoas, a estimativa para o mesmo período é de 290 novos casos de câncer de traqueia, brônquios e pulmão.
O Inca publica dados e estimativas de câncer a cada três anos e não dispõe de dados de incidência, pois o câncer não é uma doença de notificação obrigatória. Em relação à mortalidade, em 2021 foram registradas 28.868 mortes por câncer de brônquio e pulmão no Brasil, 272 em Alagoas.
Em entrevista ao CadaMinuto, um dos autores do Consenso Brasileiro de Câncer de Pulmão, o cirurgião torácico e diretor médico da Santa Casa de Misericórdia de Maceió, Artur Gomes Neto, explicou sobre os tipos de câncer de pulmão, falou sobre os fatores de risco, sintomas e como preveni-lo.
O médico também falou sobre as novidades no tratamento e prevenção do câncer de pulmão apresentada na ASCO 2024, reunião internacional de oncologia reconhecida por estabelecer novos padrões de cuidados, que aconteceu de 31 de maio a 04 de junho, em Chicago, nos Estados Unidos.
Confira a entrevista:

Estudos mostram que o câncer de pulmão é um dos que mais mata pessoas no mundo. Existe apenas um tipo de câncer de pulmão? Se há mais de um, qual o que tem maior número de diagnóstico?
O carcinoma de pulmão é o mais frequente deles. Existem outros tipos de câncer, mas são pouco relevantes do ponto de vista epidemiológico. O câncer de pulmão, chamado de carcinoma de pulmão, são quatro subtipos. Os mais frequentes são o adenocarcinoma e epidermóide e correspondem a várias totalidades dos casos de neoplasia maligna do pulmão.
Quais são os fatores de risco?
O maior fator de risco para desenvolver o câncer de pulmão é o tabagismo e qualquer tipo de exposição à fumaça de combustão orgânica. O cigarro é o mais comum, mas a poluição atmosférica é outro fator importante. Os cigarros de outras coisas que não fumam, tradicionalmente, também são responsáveis, incluindo o uso da maconha; a exposição a carcinógenos no ambiente de trabalho, como o amianto, por exemplo, que está abolido no Brasil; quem trabalha com metais pesados; pacientes que têm algumas doenças pulmonares; cicatrizes de tuberculose, fibrose pulmonar e idiopática em menor proporção; pacientes com deficiência e fatores genéticos, como em casos desse câncer na família. Estes casos podem desenvolver mais facilmente um câncer de pulmão, mas o tabagismo, sem sombra de dúvidas. 80% dos casos de câncer de pulmão são pacientes que fumam diretamente, outro 5% são pacientes que vivem diretamente na exposição de pessoas que fumam.
Quais os sintomas do câncer de pulmão e em que momento deve-se procurar um médico?
O câncer de pulmão é uma doença de comportamento muito traiçoeiro. Na fase inicial, as pessoas não têm sintomas, ele não se revela. Às vezes um pigarreado, uma tosse mais frequente, e a pessoa não consegue atribuir a uma lesão desse tipo e acha que é o cigarro. A pessoa fuma e não considera essa possibilidade. Paralelamente, a pessoa não faz exames de rotina, como a tomografia computadorizada, e o que acontece? A doença se manifesta mais à frente e, quando ela vem se manifestar com sintomatologia importante, a maioria das vezes a doença é de tratamento muito mais complicado. Então, 80% dos casos de câncer que a gente vê no dia a dia no ambulatório aqui no Brasil são de pacientes com doença muito avançada. Isso complica muito.
Se a gente for falar de sintomatologia são: tosse frequente, escarros sanguíneos, dor torácica, emagrecimento. Esses sintomas estão muito relacionados ao avançar da doença, ou seja, o estado mais avançado e de difícil tratamento.
Qual exame detecta de forma precoce a doença? E qual pode detectar uma possível extensão do câncer ?
O câncer pode ser detectado precocemente, nos programas de avaliação e no rastreamento com tomografia computadorizada de tórax. Desta forma é possível surpreender o câncer na fase inicial dos pacientes, que geralmente são assintomáticos. Existem regras para colocar esses pacientes no rastreamento e a mais comum delas é pacientes que fumam mais de 20 cigarros por dia, por mais de 20 anos, ou aqueles que pararam de fumar há menos de 15 anos, que tem entre 50 e 80 da idade, e que não tenham uma doença que impeça um tratamento cirúrgico se for detectado o câncer. Isso faz parte do nosso rastreamento, com base no que a gente desenvolveu. A gente publicou agora as diretrizes nacionais sobre isso, e eu acho que falta disposição, digamos assim, das secretarias de saúde de implantarem os programas a nível de saúde pública.
Uma vez detectada a possibilidade de câncer no exame tomográfico, é feita uma avaliação se aquele nódulo que o paciente tem é maligno ou é outro tipo de nódulo. E aí envolve uma série de exames, uma série de intervenções, de avaliações que é feita pelo especialista.
Quais hábitos podem ser adotados para prevenir o câncer de pulmão?
No quesito prevenção do câncer de pulmão, o que a gente tem que fazer é realmente trabalhar para que as pessoas não fumem e quem fuma deixe de fumar. Esse é, digamos assim, o padrão ouro na prevenção do desenvolvimento do câncer de pulmão. As outras situações que provocam câncer devem-se acompanhar com os pacientes, mas é importante uma força de campanhas, de convencimento à população para que as pessoas parem de fumar. Isso é o mais importante, a prevenção do câncer de pulmão e outros cânceres. O cigarro não só mata de câncer de pulmão, mas de estômago, de esôfago, de intestino, de bexiga, de próstata, entre outros. Fora as doenças consideradas benignas, entre aspas, como a doença coronariana, o infarto do miocárdio, o AVC (Acidente Vascular Cerebral) e outras doenças do sistema cardiovascular provocadas pelo uso do tabaco.

E com relação ao tratamento, existe um mais indicado ou depende de algum fator?
O padrão ouro de tratamento do câncer comum ainda é a cirurgia. E ela vai permitir realmente que esses pacientes possam ser curados. Mas é lógico que a evolução hoje da oncologia clínica e da radioterapia permite que alguns pacientes, ou uma boa quantidade de pacientes, sejam tratados e curados. Apesar de que esses tratamentos têm custos elevados, a evolução da oncologia e da radioterapia fez com que a associação de terapias pudesse melhorar, digamos assim, o espectro de cura de pacientes com câncer de pulmão. Para se ter uma ideia, de uma maneira geral, apenas 20% dos pacientes que têm câncer detectado podem ser tratados e curados, 80% vão morrer da doença em até dois anos. É uma realidade triste! O site da Organização Mundial de Saúde aponta que o câncer de pulmão é o câncer mais letal e está entre as 10 principais doenças que provocam a morte do ser humano. Para ser mais exato, ela está na sexta colocação da mortalidade geral, considerando todas as patologias no mundo.
Como você avalia as novidades no tratamento e prevenção de câncer apresentadas na ASCO 2024?
A Asco 2024 foi muito interessante. Foram apresentadas duas grandes novidades com relação ao câncer de pulmão, todas elas relacionadas ao tratamento de oncologia clínica, que realmente nos casos avançados existe uma progressão muito grande. Mas esses tratamentos são tratamentos para casos específicos selecionados por genética, por painel de DNA, e o custo, quando o paciente é indicado a tratar, é extremamente elevado, podendo chegar aqui no Brasil em até R$ 1, 5 milhão por paciente. Então, se for empregado de maneira ampla e a gente não tratar de fazer diagnósticos mais precoces, isso quebraria o nosso sistema de saúde.