Brigas e desentendimentos entre crianças e adolescentes nas escolas são comuns e ocorrem das mais variadas formas. Os conflitos, muitas vezes, são inerentes ao ambiente social e vão desde um xingamento ao colega, um empurrão, uma fala desrespeitosa ou o não cumprimento de um combinado. No entanto, há casos que evoluem para situações mais graves, como agressões e bullying, e isso requer maior cuidado e atenção por parte da escola e da família.
Em todos os casos, há uma preocupação com o comportamento dos pais, que não devem intervir abordando, ameaçando ou agredindo o colega do filho ou a outra crianças ou adolescente envolvido na situação.
Recentemente, uma mãe de Maceió denunciou que a filha de 10 anos foi intimidada, agredida e ameaçada pelo pai de uma colega, dentro da escola, após uma situação de “rusga” entre as meninas.
Para entender como pais e escolas devem agir diante de situações deste tipo entre crianças e adolescentes nas escolas, o CadaMinuto conversou com a diretora pedagógica Andreia Reys e com a mestre em educação parental, Cícera Lopes.
Ambas falaram sobre como a escola deve agir diante de episódio de brigas e bullying entre alunos e como a parceria entre escola e família é importante para evitar e coibir estas situações.
Confira as entrevistas:

Como a escola deve intervir em rusgas, arengas e discussões entre alunos?
A escola deve utilizar estratégias para uma cultura de paz, tolerância e empatia, através de práticas de aprendizagem contextualizada que farão parte do ano letivo.
Qual a solução que a escola deve tomar para evitar a repetição do caso?
O caminho é intensificar a presença da família, pois quanto maior a proximidade, menos casos de bullying e violência ocorrerão. E não estou falando das reuniões de pais e plantões pedagógicos, mas da participação ativa das famílias, criando um ambiente de discussões e debates produtivos.
Quando a implicância/ briga se torna bullying, como os pais e a escola devem agir para evitar que o problema se torne maior?
A ação deve ser imediata. A escola convoca os pais das duas partes, pois o acolhimento é o primeiro passo e, a partir daí, junto à coordenação e professores traçam estratégias que serão eficazes para a resolução da problemática. O PPP (Projeto Político-Pedagógico) da escola é um documento orientador e um aliado nas ações que devem ser desenvolvidas.
É aceitável que pais de um aluno abordem, intimidem, conversem ou ameacem um aluno, após ou devido uma discussão entre este e o seu filho?
Em hipótese nenhuma os pais devem revidar, ameaçar ou abordar. O caminho é procurar a gestão da escola para que juntos possam resolver a situação.
E o que os pais devem fazer caso seja seu filho que esteja praticando bullying?
O diálogo é o caminho. Entender o motivo do comportamento do filho é fundamental para resolver, porém se todos os esforços não surtirem o efeito desejado, a indicação é consultar um profissional especializado.
Como a escola deve ajudar uma criança que é vítima de violência e uma criança que se envolve em brigas recorrentes?
Às que sofrem violência, deve haver um acolhimento específico. E quanto à recorrência, a escola poderá fazer uma investigação sobre os reais motivos do comportamento. É um trabalho minucioso e que requer muita atenção e cuidado.
A escola deve monitorar o comportamento dos alunos? E os pais, devem ficar atentos ao comportamento dos filhos em casa?
Sim, para a escola existem várias ferramentas de monitoramento com resultados rápidos e eficazes. Já em relação aos pais, eles devem perceber qualquer mudança de comportamento dos seus filhos, acompanhar a rotina, compartilhar atividades em família e principalmente criar o hábito da escuta.
O que diz a educação parental?
Escutar e dialogar com os filhos é fundamental, e o melhor caminho, para entender o que está por trás de alguns comportamentos. É o que afirma a mestre em educação parental, Cícera Lopes.
Segundo Cícera, os pais precisam entender os limites das crianças e perceber quais recursos possuem para lidar com uma situação de brigas e bullying na escola. “É importante que eles estejam presentes na vida dos filhos, pois assim estarão atentos aos sinais diferentes que eles apresentem no dia a dia”, acrescenta.
Em relação a escola, Cícera concorda com Andreia Reys e afirma que a orientação é que os pais sejam chamados para uma conversa.
“É papel da escola desenvolver e preparar os alunos para a resolução de conflitos, desenvolver habilidades e com isso formar alunos autônomos e independentes que saibam lidar com os diferentes desafios do seu cotidiano. Nesse caso, a escola não deve tomar partido sobre nenhum aluno, mas sempre estabelecer o diálogo”, afirma.

Para a mestre em educação parental, uma maneira de evitar ou conduzir situações de briga e bullying entre os alunos é fortalecer a parceria entre família e escola. Criar uma cultura escolar de acolhimento e orientação, onde todos se sintam pertencentes, valorizados e incluídos, compartilhando, dessa forma, responsabilidades.
“Infelizmente, a maior parte das escolas só promovem reuniões pontuais como plantões pedagógicos, momentos para se queixar dos alunos, onde deveriam oportunizar para as famílias oficinas, workshop, rodas de conversa, sendo essas estratégias para uma orientação parental sobre as diferentes demandas apresentadas pelos pais no cotidiano”, salienta Cícera.
Assim como a diretora pedagógica Andreia Reys, Cícera Lopes também acredita que o caminho para a prevenção e enfrentamento à violência escolar está na união entre escola e família. Todos os envolvidos vítimas, agressores e espectadores devem ser considerados e auxiliados a superar a situação de forma saudável.
Aos pais, cabe ouvir e observar mudanças comportamentais que caracterizam problemas como isolamento, queda no rendimento escolar, resistência para ir à escola, automutilação, exposição excessiva às telas, ansiedade, dentre outros problemas. Já para a escola, compete abordar o tema, promover debates e campanhas que tragam os alunos para o centro das discussões, dando a eles espaço de fala e oportunidade para expressar seus sentimentos. Além disso, oferecer às famílias momentos de orientação parental, eventos de integração e socialização das medidas para prevenir e impedir a continuidade do bullying.
Cícera afirma que os pais de vítimas de bullying devem oferecer acolhimento, escuta e apoio psicológico para a criança. A vítima deve ser lembrada de suas qualidades, para que perceba que não é culpada pelas agressões que sofre. A família deve evitar fazer críticas ou minimizar o problema, pois a criança deve ser sempre escutada.
“A família deve orientar a criança ou adolescente a não reagir às intimidações revidando ou fazendo o mesmo com outros alunos para se sentir aceito. Pedir para buscar a ajuda de professores, gestores, coordenadores e responsáveis e não querer resolver a situação sozinho”, diz.
No caso de o filho está praticando bullying é importante entender o que está levando a criança ou adolescente a praticar a violência. Iniciar uma conversa, perguntando se a criança ou adolescente já sofreu algum tipo de intimidação ou presenciou isso acontecendo com outra pessoa. “Esse momento é uma excelente oportunidade para compartilhar os diferentes tipos de bullying, pois é possível que a criança ou adolescente não esteja ciente de que seus comportamentos se caracterizam como bullying”, completa.
Cícera diz que nestes casos, os pais devem mostrar as consequências do bullying para quem é vítima e estimular a criança ou adolescente a pensar sobre como se sentiria se fosse o colega que está sendo intimidado é uma importante orientação, pois quando aprendem a ver as coisas de uma perspectiva diferente, elas são menos propensas a repetir essas ações no futuro.
A especialista em educação parental diz que alguns pais no intuito de defender os filhos em discussões se envolvem em situações pouco racionais como abordar e ameaçar colegas do filho e aponta que tomar partido não é o melhor caminho. “Situações de conflito são inerentes às relações sociais, por isso os adultos precisam ensinar as crianças formas respeitosas de resolvê-las. Intervir, mas sem tomar partido é o melhor caminho”, salienta.
“Esse tipo de ação pode ser desproporcional, agressiva, e em vez de mediar o conflito, fortalecerá a imagem que o filho não dá conta sozinho. Privando a criança de desenvolver autonomia, autoconfiança e habilidades para lidar com conflitos. Os pais podem ajudar na resolução do conflito, mas jamais incitando mais violência ou coagindo o filho do outro”, conclui.