Quem viveu em Arapiraca durante os anos 70, 80 e 90 sente um certo saudosismo ao passar pela Avenida Rio Branco e se deparar com o prédio do antigo Clube dos Fumicultores demolido. 

Reduto da sociedade arapiraquense, onde aconteciam reuniões, shows, bailes, matinês, manhãs de sol, festas de casamento e 15 anos, além de competições esportivas, o clube também era ponto de encontro de famílias, amigos, adolescentes e sócios, nos eventos e no lazer dos fins de semana.

Com mais de 70 anos de fundação e história, a estrutura do prédio começou a ser demolida em 2023, após a permuta do terreno em razão de uma dívida que, segundo consta no edital de permuta, era de R$ 1.150.000,00. Já o terreno foi avaliado em R$ 8.120.000,00.

De acordo com declarações dadas pela diretoria, a permuta seria a única saída para salvar o Clube das dívidas e manter os sócios, além do desejo e sonho de construir uma nova sede para o clube.

E foi exatamente o desejo conjunto de uma diretoria unida que fez o tradicional e emblemático Clube dos Fumicultores renascer das cinzas, feito uma fênix, carregando consigo meio século de histórias, tradições e emoções que permeiam o coração dos sócios, frequentadores e da sociedade arapiraquense, pulsando compassivamente à medida que as memórias vêm à tona.

O clube ganhou uma nova sede, localizada no bairro da Massaranduba, mais ampla, moderna e com espaços distintos para diversas atividades, eventos e práticas esportivas. O local tem 36 mil metros quadrados, é mais afastado do Centro da cidade, mas em uma área residencial tranquila, ainda em estruturação, e com uma vista para a natureza.

O desafio para manter o Clube

O novo Clube dos Fumicultores é fruto da luta de uma diretoria, que não desistiu da antiga instituição, composta por 11 integrantes, 21 conselheiros titulares e 10 suplentes, que decidiu manter a tradição e a história de um lugar tão representativo para sociedade arapiraquense.

Em visita à nova sede, o CadaMinuto foi recebido pelos entusiastas: Kleber Ernesto, presidente executivo; Carlos Henrique Lúcio, presidente do Conselho Deliberativo; Val Filho, diretor de sede; João Carlos, conselheiro e integrante da comissão jurídica; e Ricardo Leite, tesoureiro.

De acordo com o presidente executivo do Clube, Kleber Ernesto, levar adiante o projeto foi um desafio para a diretoria, mediante à situação em que a instituição se encontrava.

“Foi um desafio nosso! Nós fomos convidados para fazer parte do Conselho Deliberativo em 2017. E começamos a identificar os problemas. Foram chegando execuções, oficiais de Justiça e cobranças. Nós sabíamos que existiam problemas, mas não imaginávamos o quanto e tanto. Então, começamos a estudá-los, levantamos as dívidas, as ações e tudo que tínhamos para resolver e enfrentar”, disse Ernesto.

O presidente executivo contou ainda que as dívidas eram executadas com ações transitadas e julgadas na Justiça, nas esferas estadual, federal e trabalhista. “Nossa área estava totalmente comprometida em cartório e bloqueadas. Inclusive, o ginásio chegou a ir para leilão, foi arrematado e a diretoria conseguiu reverter a situação na Justiça, fazendo com que ele voltasse ao patrimônio do Clube”, completou.

Diante das dívidas e da falta de recursos para saná-las foi definido que seria aberto um edital de permuta. “Inicialmente, nós não queríamos deixar a antiga sede, mas diante das dívidas e da falta de recursos ficaria inviável permanecer ali. Se tivéssemos desistido o Clube ficaria abandonado, igual à antiga sede social do ASA. E se optássemos por permanecer, iríamos continuar sempre com a mesma estrutura, sem nenhuma perspectiva de expansão e modernização”, salienta Kleber Ernesto.

O renascer das cinzas

O edital de permuta contemplado teve o valor de R$ 8,1 milhões. O vencedor da permuta teria que pagar as dívidas, ofertar uma área que atendesse a nova proposta do Clube e construir a 1ª etapa da obra, conforme projeto instituído pela própria comissão do Clube dos Fumicultores.

Seguindo o projeto, a nova sede do clube tem piscina com espelho d’água de mais de 50m; um amplo e espaçoso salão de festas, com bar, cozinha e banheiros; restaurante com cozinha própria e banheiros; estacionamento; ginásio de esportes; quadra de beach tênis; quadra de futevôlei; espaço para outros esportes; sauna; e academia.

“Na antiga sede, nunca teríamos um campo de futebol, não poderíamos oferecer aos sócios todos os espaços que temos nesta nova sede. Temos aqui uma área que o outro clube não contemplaria de forma alguma. O Clube segue sendo o ambiente agradável, seguro e familiar que sempre foi. Agora, com mais espaço, comodidade, perto da natureza e oferecendo mais benefícios aos sócios, sejam eles proprietários ou contribuintes”, explicou o diretor de sede, Val Filho.

A primeira etapa contemplada pelo edital de permuta está em fase de conclusão e deve ser inaugurada dia próximo dia 06 de junho.  A inauguração acontece em um ano importante para a cidade, que celebra 100 anos no dia 30 de outubro. 

Após a entrega desta fase da obra, os sócios que estiverem regularizados e adimplentes já poderão usufruir de toda a estrutura e espaço do Clube.

Resgate de antigos sócios e conquistas de novos

Conforme a diretoria, um dos maiores desafios, agora, é resgatar os antigos sócios e atrair novos sócios para o Clube. Muitos sócios antigos não estão regularizados e deixaram de pagar a mensalidade. Por outro lado, muitas pessoas não sabem que o Clube dos Fumicultores está com uma nova estrutura, maior e melhor, e que voltará a ativa, em breve.

“O grande desafio é abrir a mente do sócio tanto do antigo sócio, quanto do novo. Porque a imagem do Clube de outrora será mantida e preservada, mas nós também devemos abrir a mente para o crescimento, amplitude e modernização. Mesmo que o clube estivesse sem dívida nenhuma e tudo estivesse certo, um dia ele teria que crescer. E na antiga sede, para onde cresceríamos?”, salientou o diretor de sede, Val Filho.

A primeira constituição do clube, de 1949, lançou 1.500 títulos de sócios para venda. Destes, 1.349 foram vendidos, deixando um total de 151 títulos ainda disponíveis, para venda a sócios proprietários, que são os que adquirem títulos patrimoniais. Há ainda 750 títulos destinados a sócios contribuintes, que são aqueles que efetuam pagamento mensal.

Para deixar tudo mais cômodo, prático e facilitar para todos os lados, a diretoria inovou ao criar a secretaria volante, que vai até os sócios proprietários para que eles se regularizem e até pessoas interessadas em comprar um título do Clube, seja de sócio proprietário ou contribuinte.

De acordo com o presidente executivo do Clube, Kleber Ernesto, uma equipe vai até o sócio para fazer a regularização ou vender o título. Para isso, basta que o interessado entre em contato por meio do WhatsApp, que fica ativo 24h, o número é (82) 99620-8007

O presidente ressalta que dos 1.348 sócios proprietários do clube, apenas 118 estão regulares. Ou seja, 1.230 deles podem entrar em contato para regularizar a situação e poder usufruir dos amplos e novos espaços do clube. 

“ São esforços que a nova gestão vem fazendo, com essa frente de trabalho muito forte de resgate. O Clube merece isso! Quem gosta e tem raízes no clube faz com que isso aconteça. Pensamos da seguinte forma: se puder facilitar, por que não? Vamos achar o sócio onde ele estiver, no endereço e horário conveniente, nós vamos até ele e fazemos toda a regularização”, afirmou Kleber Ernesto.

É muita história!

Fundado pelo então vereador arapiraquense José Lúcio de Melo, que teve o apoio dos irmãos Manoel Lúcio da Silva e João Lúcio da Silva, o Clube dos Fumicultores nasceu em 1949, em uma sede provisória de propriedade de Manoel Lúcio, no bairro Cacimbas. Após a construção, o clube se instalou na antiga sede, na Avenida Rio Branco, no Centro de Arapiraca, entre 1953 e 1954.

Na época, eram realizados bailes de São João e Carnaval, com músicos e integrantes de bandas, sob a batuta do maestro Nelson Palmeira, da cidade de Traipu.

Com o tempo, o Clube dos Fumicultores foi crescendo e realizando shows, bailes, matinês, reuniões, convenções, jantares, seminários, festas escolares, entre outros eventos, inclusive esportivos.

O CadaMinuto conversou com pessoas que têm uma história com o Clube. Elas relataram o que viveram e falaram sobre a ansiedade de frequentar a nova sede.

• Paixão no sangue

Um dos maiores aficionados pelo Clube, o promotor de eventos Sérgio Lúcio viveu e promoveu muitos eventos no local. Ele é descendente de um dos fundadores e seu pai, Severino Lúcio, foi presidente e diretor do clube, e um dos responsáveis pela construção do antigo ginásio de esportes. Sérgio também  foi diretor social da instituição.

“Eu praticamente nasci dentro do clube. Meu pai foi um dos presidentes, meu avô Manoel Lúcio da Silva foi um dos fundadores, numa época em que o Clube dos Fumicultores era o único clube de Arapiraca. Quando eu tinha 15 anos, assumi a função de diretor social do clube e tenho orgulho de dizer que promovi vários eventos para a juventude arapiraquense, como as matinês, os encontros de grandes bandas do Nordeste, bailes, desfile da Garota Verão, Garota Primavera, matinês aos domingos, o forró da sexta e outros tantos eventos. Foi lá que criei a Festa Anos 80, que acontece anualmente e que desde o edital de permuta acontece em outro lugar”,  lembra Sérgio.

Para Sérgio Lúcio, o clube faz parte da história de Arapiraca e ter o espaço de volta, no ano em que a cidade faz 100 anos, é muito representativo

“A importância do Clube dos Fumicultores Arapiraca é muito grande. Quase toda sociedade tem uma história com o clube. Isso porque os grandes eventos, desde bailes de formatura, festas de aniversário, de casamento aconteciam ali. A infância de muita gente, os inícios de namoro, as paqueras aconteceram dentro do clube. Então, foi uma época mágica, maravilhosa e o clube, com certeza faz parte da história da cidade, que agora, no seu centenário, o recebe de volta, maior e melhor”, diz Sérgio.

Em suas memórias no clube, Sérgio lembra de acompanhar o pai aos eventos quando era criança. Lembra de carnavais e shows de cantores conhecidos nacionalmente e do aniversário de 50 anos de Arapiraca, no Clube, cuja atração foi o rei Roberto Carlos. (Veja imagens)

“Estou aguardando ansioso a nova sede. Claro que vou continuar sócio, quero aproveitar todas as estruturas, promover novos eventos e fazer mais histórias no novo Clube dos Fumicultores”, pontuou. 

• Brotinho da Cidade

A servidora pública Cleilza Oliveira teve a adolescência e a juventude marcadas pelos eventos realizados no Clube dos Fumicultores. Ela participava dos bailes tradicionais e chegou a participar do baile “Brotinho da Cidade”, que marcou gerações de meninas arapiraquenses, que disputavam o título desfilando na passarela. 

“ O Clube dos Fumicultores marcou muito minha adolescência e juventude, com os bailes tradicionais de formatura do 2º grau, que eram tradição, as matinês aos domingos, os shows. Mas foi o baile brotinho que me marcou mais, pois desfilei e concorri ao título. Foi uma época maravilhosa, da qual lembro com muito carinho e alegria”, disse Cleilza.

“Era um lugar de diversão e muito importante para Arapiraca. As famílias se reuniam lá, os adolescentes e a juventude se encontravam lá. Toda a sociedade teve ali grandes encontros. Fui sócia contribuinte por muito tempo. Espero que o novo clube traga a mesma tranquilidade, diversão e lazer para que possamos viver novos encontros”, concluiu

• Sonho de ser sócio

O administrador Carlos Evangelista sempre sonhou em ser sócio do Clube dos Fumicultores. Ele conta que frequentava o local durante os Jogos da Primavera (jogos disputados por estudantes de várias escolas da cidade) e que um lugar específico o fazia desejar ser sócio contribuinte.

“Cada vez que ia assistir aos jogos e passava pela área externa, onde ficava a sinuca, sonhava em ser sócio contribuinte e fazer parte da vida social do clube. Em 1976 conheci minha esposa e iniciamos o namoro. Ela era sócia, eu não. Eu estudava em Maceió, então juntei o dinheiro da mesada e logo me tornei um sócio contribuinte. Anos mais tarde, já trabalhando, apareceu a oportunidade comprar o título de proprietário e eu não hesitei, sou sócio até hoje”, relatou.

“Vivi diversos momentos alegres,  e as melhores e inesquecíveis lembranças estão sempre em minha mente. Eu aproveitava a piscina nas manhãs de sol, aos sábados e domingos, depois encontrava a namorada e os amigos nas matinês, nos bailes e nos carnavais. Agora, terei o prazer de seguir sendo sócio, continuar contribuindo e aproveitando um lugar moderno, grande e maravilhoso, graças ao empenho de pessoas abnegadas e ousadas que fizeram esta grande transformação, tornando tudo possível”, frisou.

Inauguração da 1ª etapa

Após toda a luta para trazer de volta o tradicional clube, a diretoria irá inaugurar a primeira etapa da nova sede do Clube dos Fumicultores no próximo dia 06 de junho.

Serão inaugurados: a área das piscinas, com espelho d’água de mais de 50m; um salão de festas, com bar, cozinha e banheiros; o restaurante com cozinha própria e banheiros; e o amplo estacionamento.

O evento é exclusivo para sócios adimplentes, que após a inauguração já poderão usufruir de todas as áreas inauguradas do clube.

“Este é um momento histórico e de grande significado para nossa comunidade, resultado de uma árdua batalha e muito empenho. Queremos convidar os sócios para que entrem em contato com a secretaria volante para regularizar sua situação. Desta forma, ajudarão na aquisição de coisas que o edital não contempla e que precisamos comparar, para continuarmos avançando, concluirmos as próximas etapas da construção da nossa nova sede e oferecermos o melhor para todos os nossos sócios”, ressaltou o presidente executivo do Clube, Kleber Ernesto.