Todos os dias, editoriais do Estadão e de O Globo dão uma forcinha para o bolsonarismo. Além das críticas indiscriminadas ao governo Lula, os jornalões encontraram em Alexandre de Moares outro caminho para reforçar o discurso da extrema direita. Na versão dos grandes veículos, o ministro do STF exerce poderes acima do que permite a toga do Judiciário. Abuso de autoridade, alertam os defensores da lei.

A Folha de S. Paulo pega um pouco mais leve, mas não muito. Em seus editoriais, o jornal reconhece o papel relevante do Xandão na defesa do estado democrático, diante do golpismo escancarado de Bolsonaro. Feita a ressalva, parte-se pra cima do ministro com o mesmo furor dos outros dois jornais. Em nome dos patrões, editorialistas sem nome exigem um freio imediato nas medidas adotadas pelo Supremo.

Além da opinião da cúpula, velhos colunistas reforçam a linha de pensamento contra Lula e o STF. Esse ataque é música para o bolsonarismo e a direita golpista. Como não conseguem elogiar explicitamente a escória política, atacam o outro lado. É uma escolha quase disfarçada, quase envergonhada. Tratar como normalidade o que o país viveu no governo Bolsonaro é um vexame para quem se diz preocupado com a liberdade.

A Veja também anda produzindo capas pouco amigáveis sobre o governo. Nada que possa ser comparado aos anos de ouro de Eurípides Alcântara e Mário Sabino. Naqueles tempos recentes, a revista foi tão escrachada no fanatismo antipetista que é difícil superar os recordes de delinquência e vulgaridade. A aventura partidária foi tamanha que o Grupo Abril simplesmente quebrou. A revista ainda está na UTI. 

Na TV Globo, o Jornal Nacional se move com um cuidado indisfarçável. Aqueles dutos que corriam atrás dos apresentadores – no auge da Lava Jato – deixaram um certo trauma na empresa. Golpista histórica desde 64, a emissora fez uma cobertura indecente na caçada a Lula. Hoje, trata com equilíbrio tanto o caso Xandão quanto o governo. Nossa velha grande imprensa ainda pode, sim, bagunçar o rumo do pagode.