Debate sobre drogas: a demagogia no Senado e o voto da bancada alagoana

17/04/2024 14:16 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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O Senado acaba de aprovar uma emenda constitucional que criminaliza a posse e o porte de qualquer quantidade de droga. O texto aprovado não diferencia o usuário do traficante, deixando essa distinção para a autoridade policial. Tal aberração já consta em lei ordinária. O Congresso entra no tema para reagir ao STF. Está em andamento no tribunal o julgamento que pode descriminalizar o uso recreativo de maconha. 

A decisão é mais uma demonstração de demagogia e oportunismo eleitoreiro. Mas, antes de falar desse aspecto, algumas palavras sobre o voto da bancada alagoana no Senado. Renan Calheiros e Fernando Farias, ambos do MDB, votaram contra a PEC. O jovem Rodrigo Cunha, do Podemos, votou a favor da medida. Em tese, aquele que teria a mente mais arejada votou pelo reacionarismo. Não que haja alguma surpresa. É a escolha mais fácil. E errada.

O placar foi de 52 a 9 no segundo turno da votação. Sem excluir as eventuais motivações políticas de Calheiros e Farias, o voto de ambos é um gesto de coragem. Tratado com histeria, o tema da descriminalização incendeia o debate e mobiliza o fanatismo da extrema direita. A decisão do Senado está de acordo com a maioria da população. Votar contra a PEC vai na contramão da gritaria geral. Assinar embaixo dessa estupidez é muito mais confortável.

Como demonstram estudos sobre o tema, a medida aprovada no Senado não contribui pra nada – não enfrenta o tráfico e nem reduzirá o consumo. O único efeito será a discriminação contra pretos e pobres – os favoritos da polícia para jogar nos presídios. É um fracasso anunciado. E daí? Cunha e outros podem sair por aí com o discurso hipócrita de que se preocupam com os jovens e com o “drama das famílias brasileiras”.

A emenda aprovada, que segue agora para votação na Câmara, é de autoria de Rodrigo Pacheco. Sua investida demagógica busca dividendos numa dupla aposta: acena ao eleitorado da extrema direita e confronta o STF. Com isso, bajula a tropa reacionária do Congresso e se ajusta, ainda mais, ao pensamento majoritário da opinião pública. Muita zoada, hipocrisia pra todo lado e nenhuma seriedade. 

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