Juiz com superpoderes é perigo à solta

16/04/2024 00:12 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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A Lava Jato praticou um conjunto de abusos que avacalhou o devido processo legal. As viúvas de Sérgio Moro e sua turma atribuem a interesses políticos o destino melancólico da operação. É fumaça. Lula foi solto em 2019 porque o magistrado que o sentenciou agiu como inimigo do investigado. Chegou ao cúmulo de indicar testemunhas e combinar medidas espúrias com procuradores que também agiam à margem da lei. Moro foi um juiz parcial – uma violação hedionda aos princípios da Justiça.      

Surfando a onda do fanatismo antipetista, ele ganhou apoio descarado da grande imprensa e adorou os holofotes. Quanto mais aprontava nos autos, mais bajulado no jornalismo e mais popular aos olhos da multidão. Moro fazia política com a proteção da toga. Caçava Lula e recebia troféu de Personalidade do Ano, prêmio concedido pelo jornal O Globo. Ganhou as ruas como herói do combate a malfeitos e malfeitores.

Um juiz pode muito. Com superpoderes, então, age sem limites, na certeza de que nada nem ninguém conseguirá detê-lo. Nem a lei. Quando Moro viu sua imagem reproduzida como o Superman, não teve dúvida quanto ao destino de glória que o esperava logo adiante. Seria o próximo presidente do Brasil. Aí veio a Vaza Jato. A vestal do combate à corrupção foi desmoralizada em praça pública, com firma reconhecida de provas incontestáveis.

Nas palavras do professor Conrado Hübner Mendes, existe no país uma magistocracia. Sendo assim, devemos conter arroubos messiânicos de suas excelências; incentivá-los, nunca. O superpoderoso de toga, cedo ou tarde, causará estragos de alcance geral. Sim, vale para Sérgio Moro, vale para Alexandre de Moraes. Mas o ministro do STF pode mesmo ser comparado ao antigo “herói” da Lava Jato?

Nos editoriais da imprensa, Moraes teria tomado decisões que se caracterizam como censura. Há controvérsias. Fato é que a atuação do ministro foi decisiva para barrar os golpistas que de tudo fizeram para evitar as eleições de 2022. No mais, suas decisões foram ratificadas pelos demais integrantes da corte. Bolsonaristas, claro, insistem na versão de que são perseguidos, em tática política previsível.

De todo modo, nem o juiz de primeira instância, nem os togados dos tribunais superiores têm direito à carta branca no exercício do cargo. Sob ataque da extrema direita, Moraes segue firme até agora. Espera-se que, dentro da lei, continue a agir na defesa dos valores democráticos. Sem cacoete de super-homem. Afinal, esta foi a escolha errada de Sérgio Moro – e deu no que deu.

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