O dublê de jornalista José Luiz Datena será contratado pela Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, grupo controlado pelo governo federal. Ele terá um programa diário na Rádio Nacional e vai apresentar um programa semanal de entrevista na TV Brasil. A iniciativa é um desastre. A EBC se propõe a ser uma alternativa à programação dos grupos de comunicação privados, com linguagem e conteúdo livres das receitas viciadas e do interesse mercantilista. No papel é uma boa ideia, sem dúvida. Quase um consenso.

O problema é que na prática a teoria é outra. O acerto entre as partes foi noticiado primeiro pela jornalista Mônica Bergamo. É um desastre porque Datena e comunicação pública de qualidade são categorias incompatíveis na natureza. Seria mais ou menos como se no governo Bolsonaro Sikêra Junior tivesse recebido o mesmo convite.

Como se sabe, por esse crime Jair não pode ser acusado. Mas voltemos ao fanfarrão e grosseiro Luiz Datena. O último grande feito dessa figura foi a cadeirada em Pablo Marçal, durante debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo, no ano passado. Demitido da Band, ele foi para o SBT, mas ficou apenas três meses na emissora.

Hoje ele está na Rede TV, que ainda existe sabe-se lá como. Agora, de repente, o sujeito recebe um presente de Natal da turma de Lula – porque é isso o que está acontecendo. O único a ganhar com essa novidade é o apresentador sensacionalista que explora a miséria e a violência para faturar pontinhos de audiência. Ê, desgraça!

Comunicação pública nunca foi o forte do Brasil. A distinção entre interesse público e demandas estatais ou governistas exige algo de requinte na cabeça de gestores – muito difícil de achar em qualquer época e em qualquer governo. Nos estados é a mesma coisa. Há pessoal competente nas equipes, mas o modelo é inviável.

O mais próximo de um modelo ideal é a TV Cultura de São Paulo. Mesmo com encrencas circunstanciais, o tipo de gestão consolidado tem garantido um grau de autonomia que viabiliza uma programação de bom nível. Isso, naturalmente, não tem a ver com audiência. Ao contrário, é preciso liberdade para criar sem essa pressão descabida.

Mundo afora, o exemplo mais citado como sucesso em comunicação pública é a BBC de Londres, que aliás atua no Brasil. Esta é uma temática que rende teses e debates a perder de vista. Há quem defenda a extinção da EBC sumariamente. Deu errado.

Aliás, era o que Bolsonaro dizia que seria feito em seu governo. Mas ele mudou de ideia logo que assumiu a Presidência em 2019. É verdade que não contratou o Sikêra, mas encheu a empresa de cabos eleitorais. Em quatro anos, tudo estava sucateado.

A contratação de Datena agora revela que o governo federal não tem um projeto sério de comunicação pública. Este sujeito já exibiu os piores comportamentos que um jornalista pode exibir. É tosco, preconceituoso, reacionário e inimigo da ética.

O cara gastou grande parte da vida profissional espalhando ideias de incentivo à truculência policial, com ataques rasteiros a valores como respeito aos direitos humanos. Quem gosta é a turma do prendo & arrebento, que exalta tortura e outras abjeções.

De quem terá sido essa ideia deletéria? O ministro-marqueteiro Sidônio Palmeira é suspeito. Numa altura dessas, Datena na rede pública de comunicação é um acinte.