A cada dia que nasce, Arthur Lira vê com mais nitidez a paisagem caótica da planície que o espera. Até o fim do ano, ele deixa o comando da Câmara dos Deputados e volta a caminhar entre as centenas de colegas, sendo mais um no meio da multidão sem rosto. Quando isso ocorrer, será um parlamentar como outro qualquer, sem o poder que exerce de forma muitas vezes truculenta na chefia da Casa. 

Eleito presidente em 2021 e reeleito em 2023, o alagoano sabe que seu poderio vai derretendo à medida que o calendário avança. Falar em “pato manco” pode ser exagero, mas não fica muito longe da realidade política. O café esfria e as ordens vão sendo ignoradas. Por isso, ele fará de tudo e mais um pouco, nos meses que lhe restam, para garantir um futuro com alguma relevância.

O problema, para o senhor Lira, é que a desidratação de suas forças reduz drasticamente as chances de, por exemplo, emparedar o governo com exigências descabidas. Ele até tentou algo desse nível na reabertura do ano legislativo. Num discurso petulante, salpicado de ameaças, cobrou de Lula o cumprimento de acordos da “boa política”. Oi?! Na verdade, o objetivo era derrubar o ministro Alexandre Padilha, responsável pela articulação com o Congresso. 

O deputado escolheu Padilha como alvo ao ver frustrada sua cobrança por liberação de recursos, através de emendas ao orçamento da União. Perdeu. Ele também não conseguiu derrubar a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Desde o ano passado, Lira fez de tudo para convencer o governo a trocar o comando da pasta. É um ministério de amplo alcance político e caixa bilionário. Por razões óbvias, ceder ao deputado seria um desastre. Para o bem do país, Lula resistiu ao achaque.

Mais fraco a cada alvorecer, Arthur Lira viu na controvérsia da regulação das plataformas digitais uma janela para negócios. Avisou que vai escolher novo relator da matéria, tirando da função o deputado Orlando Silva. Com isso, joga fora todo o trabalho feito e impõe um recomeço dos debates a partir do zero. Ganhou algum holofote, é verdade; no entanto, seu raquitismo não tem volta. Lira ainda está rugindo – mas é um leão desdentado.