A política alagoana é digna de série da Netflix

15/03/2024 07:44 - Blog do Ale Bastos
Por redação
Image

No cenário político de Alagoas, é notável como os eventos recentes, especialmente as eleições, podem se tornar complicados de acompanhar. Em um curto espaço de quatro anos, a paisagem política pode mudar significativamente, deixando-nos perplexos com as reviravoltas. Se a política alagoana fosse uma série da Netflix, certamente superaria qualquer criação de Beau Willimon. As tramas, alianças, traições e conspirações tornam cada nova temporada, ou eleição, incrivelmente inacreditável.

Para entender melhor essa complexa política, é interessante voltar os olhos para as eleições de 2020 e 2022 e analisar suas implicações atuais. Começando por 2020, quando o atual vice-governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PDT), disputava o cargo de vice-prefeito, aliado de JHC (PL). JHC, por sua vez, liderava o PSB e representava uma narrativa de oposição progressista às administrações anteriores em Maceió.

No entanto, desde então, ocorreram muitas mudanças que deixaram suas marcas. JHC deixou o PSB e migrou para o PL antes do segundo turno da eleição presidencial de 2022, numa leitura equivocada das tendências políticas naquele momento, mas garantindo uma importante base de apoio e, principalmente, um considerável fundo partidário.

Na eleição de 2020, Alfredo Gaspar (UNIÃO) venceu JHC no primeiro turno com 110.234 votos (28,87%), em sua primeira eleição à frente do MDB, logo após deixar o Ministério Público do Estado de Alagoas. Vale mencionar que ele foi favorável ao primeiro acordo que beneficiou a Braskem e atualmente é deputado federal pelo União Brasil, além de ser aliado de JHC, Arthur Lira (PP) e do ex-presidente Bolsonaro (PL).

Além disso, Luciano Barbosa (MDB), vice-governador de Alagoas em 2020, contra a vontade do senador Renan Calheiros (MDB), disputou a prefeitura de Arapiraca, deixando o mandato vago após tomar posse como prefeito, mesmo com parecer favorável à sua expulsão pela comissão de ética do partido, tendo como relator o atual deputado estadual Ronaldo Medeiros (PT), que na ocasião era do MDB. Sim, sei que se chegou até aqui vai precisar ler e reler para realmente acreditar e não se perder nas informações.

Mas o que gerou ainda mais imbróglio foi que, em seguida, em 2022, o governador Renan Calheiros Filho (MDB) também concorreu a uma vaga no senado e deixou seu cargo de governador em aberto. Em um dado momento, Alagoas se viu sem governador e vice eleitos, algo surpreendente. Enquanto isso, os Calheiros acabaram com pai e filho como senadores, respectivamente.

Sem governador e vice, foi necessária uma eleição para solucionar a vacância e, em 2022, tivemos duas eleições para o governo de Alagoas, uma indireta realizada na assembleia legislativa para finalizar o mandato vigente e outra direta em outubro do mesmo ano, formalizando a reeleição do ex-deputado estadual Paulo Dantas (MDB).

Não obstante, é importante ressaltar que o vice-prefeito da capital, Ronaldo Lessa, também em 2022, se candidatou a vice-governador na chapa do sucessor de Renan Calheiros Filho ao lado de Paulo Dantas, deixando a prefeitura de Maceió sem vice até o fim do mandato.

Em um cenário político imprevisível, vemos o ex-vice-prefeito ascender para a posição de atual vice-governador e deixar o atual prefeito sem vice, enquanto o ex-vice-governador assume o cargo de prefeito em Arapiraca. Enquanto isso, o governador renuncia ao seu posto que já estava sem vice-governador para buscar uma vaga no senado, e um deputado estadual é eleito governador através de um processo eleitoral indireto na assembleia legislativa. Em meio a essas escolhas, parece que os interesses dos alagoanos são relegados a segundo plano.

Esses acontecimentos demonstram como a política é dinâmica e cheia de surpresas, moldando o cenário para as eleições deste ano em Maceió. É importante estar atento a essas movimentações para compreender melhor a política alagoana em 2024 e o que nos reserva no futuro. Não é um jogo entre o bem e o mal, tampouco uma expressão da polarização entre Lula e Bolsonaro, balela.

Não há mocinhos, mas disputas políticas pelo controle de interesses muitas vezes inconfessáveis, seja de qual lado for. Evidentemente, a disputa de narrativas junto ao marketing eleitoral cumprirá o papel de mascarar a realidade. No entanto, aqueles que estiverem bem informados e com capacidade crítica conseguirão romper os velhos esquemas e o véu das ilusões, avaliando realmente o que será melhor para Maceió.

Como diria Francis Underwood, “não há maneira melhor de derrotar um pingo de dúvida do que receber uma inundação da verdade nua e crua".

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..