Neste mês de janeiro começaram as campanhas de conscientização e promoção dos cuidados da saúde mental com as campanhas do Janeiro Branco. Em meio a desafios diários, a campanha tem relevância por destacar a importância dos cuidados emocionais em uma sociedade que enfrenta crescentes pressões e desafios.
O Janeiro Branco foi criado em 2014 por psicólogos brasileiros e desde então se tornou um movimento global com uma proposta simples, mas impactante: promover reflexões sobre a saúde mental, desmistificar estigmas e estimular conversas abertas sobre o tema.
Neste mês, a campanha ganha destaque incentivando reflexões e ações sobre a importância dos cuidados com a saúde mental. A iniciativa visa quebrar tabus, promover diálogos abertos e conscientizar a sociedade sobre a relevância do cuidado emocional.
Sobre o tema, o Cada Minuto conversou com a psicóloga clínica, Helouise Vieira Lima, que destacou a importância da campanha, dos cuidados com a saúde mental e nos impactos diretos na qualidade de vida do indivíduo, e chamou atenção para os danos causados na saúde mental em decorrência das redes sociais. Confira abaixo a entrevista completa:
Cerca de 9,3% das pessoas no Brasil são ansiosas. Qual a importância de falar sobre saúde mental no Brasil?
– A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde mental como um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e ter seu papel no meio social. Ou seja, vai muito além da ausência de doenças mentais.
É importante destacar que saúde mental e física caminham juntas, cuidar da saúde mental impacta diretamente na qualidade de vida da pessoa. Infelizmente ainda existe muita desinformação e preconceito entorno da mesma e isso acaba reverberando em números preocupantes no aumento de transtornos mentais, nisso inclui-se a ansiedade patológica. Hoje, o Brasil é considerado o país com a população mais ansioso do mundo, segundo dados da OMS divulgados em 2023. Por isso, é cada dia mais necessário falar sobre a saúde mental e quebrar os paradigmas que ainda existem.

Quais os melhores hábitos que contribuem na boa saúde mental da população, seja na rotina do lar, ambiente de trabalho?
– Realizar atividades prazerosas que tragam bem-estar físico e mental, ou seja trabalhar mente e corpo. Posso enumerar algumas, como: caminhar, pedalar, dançar, ler, ouvir uma boa música, meditar etc. São diversas modalidades de exercícios físicos e hobbies que ajudam no bem-estar mental. O mais importante é que se busque realizar aquilo com o que se identifica, caso contrário a chance de acabar caindo na procrastinação e desistindo aumentam consideravelmente. Mente e corpo caminham juntas e para isso é importante conhecer a si mesmo, gostos e preferências.
Como podemos identificar os sinais de que uma pessoa está precisando de ajuda nesses casos?
– O primeiro sinal de que algo não está bem emocionalmente são mudanças de comportamento repentinas. Por exemplo, uma pessoa que é muito enérgica começa a se isolar, estressar-se com frequência, começa a não ter a energia de antes, podendo também começar a ter crises de ansiedade. Esses são os primeiros sinais de esgotamento emocional que podem desencadear em transtornos maiores como por exemplo um Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). O que é preocupante é que os primeiros sinais são muito sutis e acabam passando despercebidos por terceiros e só é descoberto quando já está em grau mais elevado.
O quão prejudicial podem ser as redes sociais na saúde mental de modo geral, seja em jovens, adultos e idosos?
– As redes sociais têm cada dia mais afetado a vida de pessoas em todas as faixas etárias. Quando se trata de saúde mental, têm sido gatilhos para potencializar transtornos mentais diversos. São ambientes onde há muita comparação e estereótipos acabam sendo alimentados pelo algoritmo que mostra à pessoa somente aquilo que ela se “interessa”, mas dentro das próprias necessidades mercadológicas da rede social. Ou seja, você vê aquilo que procura, mas existem interesses que vão além dos seus. E isso acaba gerando muitas vezes desejos inalcançáveis que irão gerar ansiedade, medo e insegurança.
Algo que me preocupa a cada dia, quando penso em rede social, são os jovens. Tenho percebido em consultório o quanto a grande quantidade de informação sem filtro, que há nas redes sociais tem prejudicado o desenvolvimento saudável dos jovens. É uma geração que tem tanta informação na palma da mão, que naturalmente por estarem em fase de desenvolvimento, principalmente cognitivo, não sabem o que fazer com elas. Isso tem gerado jovens desatentos, desmotivados e com baixa autoestima.
Qual a melhor forma de promover campanhas voltadas para o janeiro Branco?
– As campanhas são muito importantes para gerar informação. Mas, quebrar o preconceito que pode existir em você, é primordial. Se cada um fizer o seu papel e não propagar palavras preconceituosas e desinformadas, o objetivo da campanha será atingido.
É importante lembrar que saúde mental é tão importante quanto a física. Só quem passou pela tempestade, conhece a dor do que passou, e cada pessoa responde de forma única às dificuldades que enfrenta na vida. Não é frescura, não é falta de amor, não é para chamar atenção. A dor emocional existe! Assim como temos órgãos físicos que podem adoecer; temos sentimentos, emoções que também adoecem. A diferença é que quando é algo físico é detectado em um exame clínico, já o psicológico é sentido por quem vivência. E quando o psicológico é negligenciado os sintomas físicos começam a aparecer. Porque saúde física e mental caminham juntas.
No ambiente de trabalho, como podemos agir de modo que a saúde mental esteja em equilíbrio?
– O bem-estar no trabalho se torna cada dia mais fundamental, uma vez que as pessoas passam muito tempo nas empresas, tempo que pode ser equiparado ou até mesmo superior ao que passam em casa. Um ambiente empresarial saudável é aquele onde existe identificação do colaborador com a cultura organizacional da empresa, onde há relação de companheirismo e confiança entre os colegas de equipe. Esse ambiente torna o trabalho mais produtivo e tanto a empresa quanto a equipe tendem a ganhar qualidade na prestação dos serviços.
Se esse ambiente é insalubre, o efeito contrário tende a acontecer, menos produtividade e até adoecimentos dos colaboradores podendo levar a seus afastamentos. De acordo com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em 2022 cerca de 209.124 mil pessoas foram afastadas do trabalho por transtornos mentais. Esse é um número preocupante.
Qual o nível de importância do acompanhamento psicológico nestes casos?
– Uma vez que a empresa percebe que há um adoecimento emocional ou psiquiátrico, é primordial que encaminhe o profissional para acompanhamento para que assim seja possível investigar e começar o tratamento o mais rápido possível. Evitando assim, que haja piora nos sintomas. Além desse acompanhamento individual do profissional, é interessante que a empresa trabalhe com a prevenção desses casos dentro do ambiente organizacional.
Vale destacar que, de acordo com informações do Ministério da Saúde, em 2014, a campanha foi idealizada pelo psicólogo e palestrante Leonardo Abrahão, na cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, mas foi só no dia 25 de abril de 2023 que ela se tornou lei (14.556/2023).
Para alcançar todos os objetivos relacionados à campanha do Janeiro Branco, equipamentos de saúde estarão disponíveis na capital alagoana, desenvolvendo várias ações que abordarão o tema, de forma mais intensa, com os usuários do SUS.
Dentre as atividades inclusas no cronograma da campanha, haverão rodas de conversa, salas de espera, práticas integrativas, palestras educativas, bem como a realização de ações de redução de danos direcionadas aos frequentadores do Verão Massayó, que teve início nessa sexta-feira (12), no bairro do Jaraguá.
*estagiário com supervisão da editoria