Conhecida também como síndrome do esgotamento profissional, a síndrome de burnout passou a ser considerada doença ocupacional pela OMS (Organização Mundial da Saúde), em janeiro de 2022.
Uma das principais causas de afastamento do trabalho, a síndrome é caracterizada por um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante demandando muita competitividade ou responsabilidade.
Dados da OMS apontam que a doença a síndrome de burnout atinge cerca de 32 milhões de brasileiros. Um levantamento da Universidade Federal de São Paulo (USP) constatou que o Brasil é o segundo país no mundo com mais casos registrados da doença, atrás apenas do Japão.
A doença atinge de famosos a anônimos, a exemplo do cantor Wesley Safadão, que na semana passada anunciou uma pausa na carreira e chamou a atenção de especialistas para o caso.
Após o reconhecimento da OMS de que a síndrome de burnout é uma doença ocupacional, o diagnóstico da doença garante os mesmo direitos trabalhistas e previdenciários previstos para as demais doenças relacionadas ao emprego.
O CadaMinuto conversou com a especialista em neuropsicologia, a psicóloga Julyete Nascimento, que explica o que é a síndrome de burnout, quais os sintomas e como tratá-la.
Confira a entrevista:
O que é síndrome de burnout?
A síndrome de burnout, também conhecida por síndrome do esgotamento emocional é um distúrbio emocional que deriva do esgotamento físico e mental, descrita na Classificação Internacional de Doenças (CID10), advinda de atividades que demandam estresse, pressão, cobranças excessivas, competitividade, podendo ter demais situações que incitem, seja de caráter emocional, interpessoal, ambiental, por um período prologando e que afetam diretamente nosso cérebro. Embora, atualmente todos os pontos trazidos possam estar presentes em algum momento de nossa vida, a síndrome está diretamente relacionada ao seu ambiente de trabalho em sua natureza ocupacional e ritmo, sendo reconhecida como uma doença de trabalho, a partir da portaria nº 1339 de 18 de novembro de 1999, que instituiu a lista de Doenças relacionadas ao Trabalho.

A própria etimologia da palavra que é de origem inglesa, ao unirmos teríamos os seguintes significados: Burn (queimar) e out (fora). Para melhor exemplificar imagine que você completou o tanque do seu carro, e que diariamente faz um percurso com ele, vez ou outra surgem empecilhos, e você vai seguindo; até que no decorrer do tempo ele vai dando sinais e você faz reparos, mas não para fazer uma revisão na correria do dia a dia e acabou não se atentando ao combustível. Dia após dia o carro vai apresentando mais problemas e você vai seguindo, até que a gasolina do tanque que estava no limite, esgotou. Nesse momento você se dá conta dos desgastes físicos e mentais gerados.
Quais os sintomas da síndrome de burnout e como ela pode ser diagnosticada? Existe algum tipo de teste para identificar?
Os sinais muitas vezes são sucintos, e podem passar despercebidos na correria diária, por isso é tão importante está atento a mudanças como: isolamento, cansaço excessivo físico e mental, dor de cabeça frequente, alterações de apetite, concentração e lapsos de memória, sono, sentimento de fracasso, insegurança, incapacidade, fadiga, alterações no humor, e como o físico e o mental estão diretamente interligados podemos ter reações físicas, problemas intestinais, pressão alta, alteração de batimentos cardíacos, tontura, entre outros sinais pois cada organismo, reagirá de uma forma. É importante buscar um profissional para o diagnóstico, embora exista a facilidade de encontrar informações e se autodiagnosticar. Existem testes e escalas, mas para isso é necessária uma avaliação profissional, principalmente pelo quadro ter características que se assemelham a outros transtornos como a depressão.
Como é o tratamento da síndrome de burnout? Tem cura?
O primeiro passo é a busca por um profissional, médico, psicólogo, psiquiatra. Trazendo para o campo da psicologia o tratamento parte da busca por psicoterapia que é muito importante, pois compreendo que o ambiente interfere no nosso comportamento, mas conseguimos operar sobre este ambiente e mudar a realidade, consequentemente alteramos as condições neurológicas em nosso cérebro. Também existirá a via medicamentosa, prescrita pelos profissionais da medicina, normalmente associados a ansiolíticos e antidepressivos, mas se faz necessário alertar para que não seja feita a prática de automedicação. Acredito que a partir da atuação conjunta integrada a psicoterapia, é possível gerar mudanças no estilo de vida, hábitos, até mesmo de trabalho se necessário. Não podemos garantir a cura, mas trabalhamos para uma melhor qualidade de vida e enfrentamento ao burnout, visto que a síndrome tem interferências em diferentes ambientes.
Como prevenir a síndrome de burnout?
Como dito anteriormente, parte da mudança no estilo de vida, desde a alimentação, a prática de exercícios como caminhada, corrida, bicicleta, fica a critério. É importante a criação de estratégias, diante de um dia cheio de demandas uma pausa para um café, um almoço/jantar na companhia de amigos, pessoas que tornem seu dia mais leve, numa atividade de lazer, para não sobrecarregar, principalmente com assuntos que gerem gatilhos para que você apresente os sintomas descritos. Se possível evitar o uso de bebidas, dentre outras drogas.
Em que momento a pessoa deve procurar ajuda médica / psicológica?
Como citei no exemplo acima, nos primeiros sinais que o carro der. Se alguns dos sintomas persistirem busque ajuda. Muitas vezes é difícil perceber os sinais por estarmos tão imersos no que estamos fazendo, ou por estarmos em um modo automático. Como profissional da psicologia, devo dizer que cada vez mais temos falado sobre a importância da saúde mental; temos resquícios de uma pandemia que desencadeou o aumento nos transtornos, em sintomas de ansiedade, depressão, e até mesmo do burnout diante de profissionais que não pararam e que, de modo geral, nos colocaram em limite e até mesmo intensificaram sinais que até então víamos como leves.
Existe diferença entre o esgotamento emocional e a síndrome de burnout? Quais são?
Não, pois ambas estão interligadas no que diz respeito ao campo profissional, emocional e pessoal.
Em quais profissões a síndrome é mais comum?
É importante frisar que qualquer um de nós, está sujeito ao burnout. O Ministério da Saúde não tem dados precisos de brasileiros, mas uma pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR) calcula que 32% dos trabalhadores no país, mais de 33 milhões de cidadãos apresentam. Onde num ranking de oito países, ganhamos de Chineses, Americanos e ficamos atrás dos Japoneses que tem 70% da população atingida. Professores, bancários, enfermeiros, médicos, policiais, bombeiros, recepcionistas, gerentes, atendentes de telemarketing, motoristas de ônibus, jornalistas, dentre outros; como disse, qualquer um pode estar sujeito.
Com a incorporação da doença à lista de doenças ocupacionais pela OMS, as pessoas diagnosticadas com a síndrome têm as mesmas garantias trabalhistas e previdenciárias previstas por lei. Na visão da psicologia, o que deveria ser garantido para os pacientes que têm a doença?
A lei já apresenta e exemplifica algumas garantias no que diz respeito ao âmbito trabalhista e previdenciário, mas acredito que um plano de saúde com direito a especialidades médicas, entre elas o atendimento psicológico e especializado, seriam de extrema relevância para atuar na prevenção, e a lidar com todo o processo diagnóstico e de tratamento, seriam de grande importância num trabalho integrado. Mas conseguimos operar no ambiente e consequentemente alterar as condições neurológicas, estando cientes que a responsabilidade operante desse ambiente é conjunta a sua empresa e não somente isolada pelo CNPJ e colaborador, se não teremos um colaborador afetado.
O que diz o Ministério do Trabalho
De acordo com o Ministério do Trabalho, o trabalhador com síndrome de burnout terá direito a licença médica remunerada pelo empregador por um período de até 15 dias de afastamento. Nas hipóteses de afastamento superior a 15 dias, o empregado terá direito ao benefício previdenciário pago pelo INSS, denominado auxílio-doença acidentário, que prevê a estabilidade provisória, ou seja, após a alta pelo INSS o empregado não poderá ser dispensado sem justa causa no período de 12 meses após o fim do auxílio-doença acidentário.
Nos casos mais graves de incapacidade total para o trabalho, o empregado terá direito à aposentadoria por invalidez, mas é preciso passar pela perícia médica do INSS.