De acordo com dados do Atlas Mundial da Obesidsde, o Brasil será um país com quase um terço de crianças com sobrepeso até o ano de 2035. A obesidade deve atingir cerca de 23% das meninas e 33% dos meninos daqui a 12 anos. No ano de 2020, eram 12,5% das meninas e 18% dos meninos que se encontravam nessa condição.
Segundo dados divulgados pelo relatório público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, mais de 340 mil crianças com idades entre cinco a 10 anos foram diagnosticadas com obesidade no Brasil em 2022. O relatório foi divulgado pelo Ministério da Saúde, e levou em conta pacientes que foram acompanhados na atenção primária à saúde.
De acordo com a análise feita pela nutricionista Marcella Tamiozzo, os números preocupam bastante, e as projeções para um futuro próximo não são nada boas. “Os números são preocupantes, principalmente quando analisamos o quadro global. Segundo o Atlas Mundial de Obesidade, os índices de crianças obesas em todo o mundo podem chegar a aproximadamente 400 milhões de crianças até 2035”, analisa a nutricionista.
A profissional também apontou as causas e as consequências dessa questão, e explicou que essas causas envolvem vários fatores, desde o sono até o genético.
“Existem fatores genéticos, alterações hormonais, sono insuficiente – já que o sono ajuda no desenvolvimento -, problemas psicológicos como ansiedade e depressão, tempo excessivo dedicado às telas. Tudo isso pode influenciar o estado nutricional, favorecendo o ganho de peso excessivo, porém o desequilíbrio alimentar e o sedentarismo são as principais causas da obesidade infantil”, explica a professora do curso de Nutrição da Estácio.

A nutricionista explica ainda que a obesidade infantil tem por característica o excesso de gordura corporal e o diagnóstico pode ser obtido por meio do IMC (Índice de Massa Corporal), uma equação que utiliza o peso e a estatura do paciente e o resultado obtido é classificado em baixo peso, sobrepeso, obesidade ou normalidade. Através dessa avaliação é possível identificar a obesidade infantil.
Mas o que realmente preocupa as autoridades não são questões estéticas, mas sim os problemas de saúde que podem ser desencadeados com ela: hipertensão e distúrbios metabólicos, como a alteração da glicose e do colesterol. Marcela Tamiozzo destacou que esses problemas de saúde podem ser de longo prazo e causando impacto no surgimento de outras doenças.
“Até mesmo alguns problemas de saúde mental podem aumentar ainda mais o risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis na idade adulta como câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão”.
A nutricionista chama a atenção para a adoção de uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios.
“Priorizar o consumo de alimentos mais naturais como frutas, verduras, legumes, carnes mais magras, cereais integrais e reduzir o consumo de alimentos gordurosos, alimentos açucarados, alimentos processados podem contribuir para a redução do número de casos de obesidade”, pontua.
A professora acrescenta ainda que a criança só come o que lhe é oferecido, e que é responsabilidade dos pais e cuidadores orientar da forma certa essa alimentação, e que ele podem também aproveitar o período de férias para incentivar uma alimentação correta e a prática de exercícios físicos, além de cuidar para que os pequenos durmam bem.
“São medidas que, juntas, podem promover um maior sucesso no tratamento. Ao incentivar a alimentação saudável desde a infância, os responsáveis contribuem com o desenvolvimento adequado da criança e conseguem também prevenir a obesidade e as doenças desencadeadas por ela. Nos primeiros anos de vida é que se formam os hábitos alimentares. Se temos uma alimentação saudável, estamos fornecendo ao nosso organismo os nutrientes para que ele possa funcionar bem, nos deixando mais saudáveis e prevenindo vários problemas de saúde”, conclui a nutricionista.
Mas como os pais podem incluir da forma correta a rotina de exercícios físicos para seus filhos? Ao Cada Minuto, Thales Almeida, personal trainer e profissional de educação física apontou alguns fatores que acabam ocasionando a obesidade infantil. Para ele, desde o sedentarismo até o consumo de alimentos industrializados faz com que os indicadores de obesidade cresçam cada vez mais.
“Sobre a obesidade, principalmente na infância, temos alguns pontos pra abordar. A obesidade é algo que vem crescendo ultimamente, independente da idade, muito por conta do sedentarismo, a má alimentação, os produtos industrializados e processados vem crescendo com o passar do tempo. E com isso, cada vez mais a facilidade e o conforto de conseguir uma alimentação através de uma simples ligação, por exemplo, faz tudo isso aumentar o sedentarismo e o consumo desse tipo de alimento. Também existe o fator hereditário, genético, mas a grande maioria pode se dar por conta, também, do sedentarismo”, explicou Thales.
“Ao falar de obesidade infantil e os fatores causados, não dissossiam do que foi dito no geral sobre obesidade, o aumento dos alimentos industrializados, do sedentarismo, que é a falta do movimento e a falta de atividade física. Principalmente, também, com o aumento da tecnologia, computador, tablets, celulares na palma da mão, a criança fica cada vez mais atenta a isso e esquece de se movimentar e de brincar, de fazer sua atividade física na rua, no parque, no condomínio, muitas vezes estimuladas pelos pais”, completou o profissional de educação física.
Thales também dá exemplos de como identificar o melhor jeito de inserir a prática de atividades físicas na infância.
“A primeira missão é identificar uma atividade física que traga prazer para a criança. Primeiro temos que identificar o perfil da criança, se ela gosta de algo que a faça correr, suar, algo mais agitado. Se a criança tem um perfil de ser mais calma, identificar o tipo de atividades físicas, movimentos que tragam prazer para as crianças seria a melhor estratégia pra fazer ela se interessar, a gostar de fazer aquilo. A primeira luta é, naquele momento dedicado à atividade física, desligar computador, tv, tablet, videogame, e ir para a prática, suar, fazer atividade física. Então, há sim, formas de conseguir uma estratégia de fazer a criança gostar daquilo (exercícios)”, detalhou.
“Por exemplo, a prática esportiva, os esportes coletivos e individuais são boas estratégias para a criança, dependendo da idade. Natação, espere de quadra, judô, esportes de luta, são estratégias bem interessantes pra criança poder aderir à prática da atividade física. Em estudos publicados recentemente sobre atividades físicas e medicina, falaram que a musculação é uma boa estratégia também, embora seja mais monótono e a criança, talvez, não se interesse. A partir dos nove anos de idade já seria interessante. De nove a 10, talvez 11, dependendo da estrutura (física) da criança. A atividade física, lógico, de forma moderada, adequada de acordo com a capacidade da criança, seria também uma boa estratégia. Halteres, movimentos com carga, moderado, poderia ser uma boa estratégia para combater o sobrepeso”, acrescentou.

Mas existe uma idade indicada para que uma criança inicie uma rotina de exercícios físicos? E quanto a duração de cada exercício, qual o impacto que isso pode causar e qual a dosagem ideal para que a prática seja feita da melhor forma possível? Confira na íntegra o que disse o profissional de educação física.
IDADE
– A partir do momento que foi analisado e descoberto que a criança está com obesidade, já pode sim, agir. E com estratégias válidas, por exemplo, entre três a seis anos de idade, já seria interessante uma natação, trabalho que vise a melhora de psicomotricidade, conduzir melhor seus movimentos. Iniciação ao judô, ballet, e a introdução a alguma prática esportiva, e até mesmo atividades como circo são super válidas.
DURAÇÃO E DOSAGEM
– Em relação a duração, a dosagem, para a prática de atividades físicas com relação às crianças, vai de acordo com a idade. Quanto mais jovem, melhor o tempo de estímulo deve ser dado. Por exemplo, alguns pediatras recomendam que as atividades tem que ser em períodos mais curtos. Mas pode ser por vários períodos do dia já para a partir dos cinco anos. Uma orientação é, a partir de 180 minutos de atividades, seja qual for a intensidade, durante o dia. Quando a gente fala da criança a partir dos seis ou sete anos, ou até adolescência, pelo menos uma hora de atividades físicas diária seria o suficiente para evitar a obesidade, infantil e na adolescência.
IDENTIFICANDO O PESO
– Pra identificar o peso, a gente geralmente usa uma medida mais simples, que é o IMC (Índice de Massa Corporal), que é calcular a altura pelo peso. Com a criança não é diferente. E aí, a gente pode ter, uma análise mais especificamente sobre obesidade, quando uma criança entre cinco a 10 anos de idade está acima de 30kg por metro. Isso baseado no IMC. Já a obesidade mais severa, a mórbida, passando dos 40kg, quando a gente faz o cálculo.
AJUSTES DE ACORDO COM A IDADE
– Tudo o que foi dito até aqui sobre a idade de praticar alguma atividade física, descobrir os melhores ajustes de acordo com a idade... Entre cinco a seis anos a criança passa a entender melhor os movimentos, e aí deve buscar a atividade de acordo com a melhora dos movimentos, de coordenação. A partir dos nove, 10 anos, já pode desenvolver melhor ainda na academia. Lógico que não se preocupando uso de força, mas melhora de movimentos, coordenação. É preciso identificar através da ida a um pediatra. Crianças com problemas respiratórios, como bronquite, por exemplo, o ideal seria um exercício que estimulasse o trabalho cardiorrespiratório, uma natação, uma caminhada, corrida. E temos que ter muito cuidado com relação à musculação. Quando falo de musculação não é pegar ganho de força através de altas cargas, é melhorar o movimento, o trabalho de alongamento, de flexibilidade, mobilidade, a capacidade cardiorrespiratória e o aumento da força gradual de forma controlada.
*estagiário com supervisão da editoria