Criado com o propósito inicial de auxiliar no tratamento de diabetes tipo 2 (por conta do princípio ativo semaglutida), o Ozempic acabou tendo bastante repercussão nos últimos anos após ser utilizado como um aliado no emagrecimento de pessoas com obesidade ou com sobrepeso. Ficando conhecido por ter um efeito “secativo”, ele passou a ser indicado no formato “off label”, quando o medicamento é receitado fora da bula, por médicos ou, até mesmo, quando é usado sem que exista um acompanhamento profissional.
Aprovado pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2018 para tratar pacientes com diabetes tipo 2, o Ozempic acabou apresentando resultados considerados positivos em pesquisas que avaliaram sua eficiência em pacientes com obesidade.
Mas o que dizem os especialistas a respeito desse medicamento? Quais os riscos de utilizar a medicação para outra finalidade que não seja a de combater o diabetes tipo 2? Para Dra. Samara Bomfim, Mestra em Nutrição e professora adjunta da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), é preciso que o paciente fique atento a algumas implicações nutricionais a respeito do uso deste medicamento. Confira abaixo os alertas feitos pela especialista:
Implicações nutricionais
– Essa medicação tem dentre os seus efeitos colaterais – mas nem todos os indivíduos vão apresentar – o risco de hipoglicemia, que é a redução dos níveis de açúcar, de glicose no sangue. Então, a primeira implicação nutricional que o indivíduo deve ficar atento é fracionar essas refeições. Que pelo fato dele inibir o apetite, muitas vezes esse paciente vai estar realizando um pequeno número de refeições ao longo do dia. Então vamos supor que, o café da manhã, almoço e jantar, apenas três refeições, então esse longo espaço de tempo, que é esse jejum prolongado, pode facilitar essa hipoglicemia. Então a primeira implicação nutricional é pelo risco de hipoglicemia, e a primeira orientação seria fracionar melhor essas refeições.

Outros efeitos e alimentação durante o dia
– Um outro efeito, também, é que pelo fato dele inibir esse apetite, o indivíduo, logicamente, vai consumir menor número de calorias, de alimentos aos longo do dia. Mas não somente das calorias, mas também de alimentos ricos em vitaminas e minerais, como as frutas, legumes e verduras. E daí pode ocasionar uma deficiência de micronutrientes, que são as vitaminas e os minerais. Porque vamos imaginar, se eu tenho um consumo de 2.000 calorias, eu estou consumindo alimentos de diversas fontes. Como eu tenho essa redução muito drástica do apetite, se o indivíduo não tiver uma orientação nutricional acertiva, procurar alimentos que não sejam fontes dessas vitaminas e minerais, ele corre o risco, também, de ter, essas deficiências.
Tratamento com Ozempic e cuidados com a perda de massa muscular
– Não somente o tratamento com Ozempic, mas outras medicações com perda de peso, como a Victoza, e o tratamento para obesidade, dietético, com a dieta hipocalórica, que é a redução do consumo de calorias, nós sabemos que o indivíduo pode perder a uma parte da massa muscular. Então estima-se que 20% do peso perdido seja de massa muscular. Então, o indivíduo que perder 10kg, por exemplo, ele pode perder até 2kg de massa muscular. E isso é um efeito negativo não somente do tratamento com uso de medicação, mas infelizmente é algo que, a gente, como nutricionista, sabe sim que o paciente pode acabar perdendo um pouco de massa muscular. Então até para proteger e minimizar, para reduzir essa quantidade de músculo perdido, a principal orientação é que esse indivíduo também consuma, em todas as refeições, proteínas. Que são os alimentos como ovo, leite, queijo, carne, peixe, frango, e esses alimentos vão minimizar essa perda de massa muscular.
Necessidade do acompanhamento profissional
– Então a orientação nutricional é um acompanhamento, não somente do médico, que vai estar fazendo essa prescrição de maneira adequada, considerando a quantidade de peso que o indivíduo precisa perder, acompanhando para minimizar os efeitos colaterais, mas também do nutricionista para evitar essas deficiências de micronutrientes, evitar também o risco de hipoglicemia, assim como, também, minimizar essa perda de massa muscular, que nós sabemos, infelizmente, que em maior ou menor proporção, irá ocorrer.
Pontos após o encerramento do uso da medicação
– Outro ponto importante é que após essa medicação se encerrar, quando o indivíduo para de tomar a medicação no tratamento, esse apetite pode retornar ao normal. Então antes desse indivíduo concluir esse tratamento com a medicação, é interessante que retorne ao nutricionista para realizar um planejamento alimentar de manutenção, considerando que esse apetite vai estar um pouco mais aguentando. Então se precaver dessa forma, fracionando bem essas refeições, colocando alimentos com fonte de fibras, por exemplo, como frutas, legumes, verduras, cereais, a própria proteína, que vão dar mais saciedade nesse processo de manutenção do peso após o término da medicação.
Quem também explica sobre os cuidados e como funciona o medicamento é a Endocrinologista e Mestra em Ciências da Saúde, Dra. Maíra Viégas, que detalhou o princípio ativo da droga no organismo do paciente, as principais diferenças entre as dosagens, e quais os riscos para quem utiliza a medicação de forma contínua. Confira abaixo as orientações na íntegra:
O que é, para que serve e como funciona a Semaglutida?
– Trata-se de uma injeção para perda de peso cuja popularidade cresce em várias partes do mundo e cujas doses até estão em falta em algumas farmácias.
A droga — vendida sob os nomes comerciais de Wegovy, Ozempic e Rybelsus — é usada para tratar diabetes tipo 2 e, mais recentemente, começou a ser aprovada em várias partes do mundo como uma nova opção para perder peso.
Vale explicar que há uma diferença entre dosagens, formulações e as indicações de uso em cada um desses nomes comerciais. O Ozempic é um medicamento injetável, traz 1 mg de semaglutida e é indicado para o tratamento do diabetes tipo 2.
O Wegovy também é injetável, traz 2,4 mg de semaglutida foi aprovada como uma terapia contra a obesidade.
Já o Rybelsus, vem na forma de comprimidos (com 3, 7 ou 14 mg) e foi desenvolvido para o tratamento do diabetes.

No Brasil, o medicamento à base de semaglutida para perda de peso (o Wegovy) recebeu o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro de 2023, sendo um tratamento auxiliar a outras medidas, como adotar dietas com menos calorias e fazer exercícios físicos com regularidade.
O fármaco, administrado como uma injeção subcutânea, faz com que a pessoa se sinta mais cheia e satisfeita, o que a leva a comer menos. Ele funciona como um inibidor de apetite, “imitando” a ação de um hormônio produzido no intestino chamado GLP-1, que tem como alvo áreas do cérebro responsáveis por regular a saciedade e a necessidade de ingestão de alimentos.
O hormônio é liberado depois de uma refeição e normalmente faz com que as pessoas se sintam satisfeitas, o que ajuda a reduzir a ingestão total de calorias ao longo do dia.
Quais os principais riscos em tomar essa medicação voltada para a perda de peso, uma vez que ela tem outra finalidade?
– O medicamento é seguro e eficaz para controle do excesso de peso crônico em adultos com obesidade. Porém, o uso do remédio deve ser acompanhado de dieta com poucas calorias e programas de atividade física. As injeções devem ser prescritas por um médico especialista no tratamento da obesidade e só deve ser utilizada mediante prescrição médica.
Quais os efeitos colaterais do Ozempic em uma pessoa que não tem diabetes tipo 2, mas que segue ingerindo o medicamento para perder peso?
– Este tratamento apresenta efeitos colaterais e riscos. Os principais são náusea, dor de estômago, vômito e diarreia.
Outros eventos adversos listados pelo FDA são: dor de cabeça, fadiga, indigestão, tontura, inchaço, flatulência excessiva, gastroenterite e doença do refluxo gastroesofágico.
Os profissionais de saúde devem alertar os pacientes sobre o risco potencial de tumor medular de tireoide, que é um tumor raro e que tem fator genético. Assim sendo, medicamentos como o Wegovy não devem ser usados em pacientes com histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireoide ou em pacientes com uma doença rara chamada síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2.
O que pode acontecer com quem usa esse medicamento de forma contínua?
– O uso contínuo da medicação é seguro e, sendo a obesidade uma doença crônica, a mesma deve ter seu tratamento contínuo, do mesmo modo que o diabetes e hipertensão arterial sistêmica. A medicação leva a uma melhora na parte metabólica, com melhora dos níveis de glicemia, triglicerídeos, colesterol e tem ação na esteatose hepática (doença gordurosa do fígado).
*estagiário com supervisão da editoria