Dores no corpo, alteração do sono, fadiga e quadro de depressão ou ansiedade. Esses podem ser os sintomas tanto de lúpus quanto de fibromialgia, doenças que podem ser confundidas por conta de seus sintomas semelhantes. Nos dois casos, não existe uma cura definida.
Ao CadaMinuto, a médica reumatologista Vanessa Miranda, pontua que o lúpus é uma doença autoimune, em que o organismo apresenta uma alteração no sistema imune e atinge estruturas e órgãos do próprio corpo. Já a fibromialgia é uma síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo e aumenta a sensibilidade à dor devido ao aumento dos neurotransmissores.
“A semelhança entre essas doenças é que ambas causam dor no corpo, esse é o principal sintoma que pode levar à confusão. É necessária uma investigação do médico para encontrar essas alterações”, explica a reumatologista.
Fibromialgia
De acordo com as informações da Sociedade Brasileira de Reumatologia, de cada 10 pacientes com a, sete a nove são mulheres. A idade de aparecimento da fibromialgia é geralmente entre os 30 e 60 anos. Porém, existem casos em pessoas mais velhas e também em crianças e adolescentes.

Ainda conforme as informações, o diagnóstico da fibromialgia é clínico, isto é, não se necessitam de exames para comprovar que ela está presente. Se o médico fizer uma boa entrevista clínica, pode fazer o diagnóstico de fibromialgia na primeira consulta e descartar outros problemas.
“A avaliação de um paciente com suspeita de fibromialgia deve ser uma anamnese e exame físico completos para procurar alguma doença que dê sintomas semelhantes. Deve ser feita uma investigação com exames laboratoriais pertinentes aos sintomas”, afirma Miranda.
O tratamento da fibromialgia é realizado através do emprego de medicamentos e de outras medidas não medicamentosas. “O tratamento envolve atividade física, mudança de hábitos de vida, terapia psicológica e medicamentos que melhorem esses neurotransmissores”.
A médica alerta ainda que o lúpus pode levar a óbito, dependendo do órgão que acomete, da complicação, do tratamento da doença ou das comorbidades que podem vir associadas. Já a fibromialgia não acomete os órgãos vitais e não leva a óbito.
“Incerteza em relação ao futuro”
As estatísticas da Sociedade Brasileira de Reumatologia apontam que cerca de 65 mil pessoas convivem com o lúpus no país. A maioria é formada por mulheres. Os números mostram que elas são nove vezes mais atingidas do que os homens.
Diagnosticada em julho de 2020, a jornalista Joelma Leite, de 36 anos, é uma das mulheres afetadas pela doença autoimune. Ela relata que os primeiros sintomas começaram a aparecer após ter contraído covid-19.
“A confirmação do diagnóstico me trouxe medo no primeiro momento e muita incerteza em relação ao futuro, pois eu detinha pouco conhecimento sobre o meu problema”, relata a jornalista.
De acordo com Joelma, os primeiros sintomas foram febre, dores articulares por todo o corpo, erupções na pele e rash malar (asas de borboleta na face).
Para manter a qualidade de vida, a jornalista evita exposição prolongada ao sol e destaca que desenvolveu sensibilidade ao frio e intolerância a alguns alimentos e corantes alimentícios. “Agora que estou em remissão, consigo ter uma vida normal, não sinto mais dores articulares constantes, fadiga crônica ou outros sintomas que eram muito comuns quando a doença estava ativa”, diz.
Embora não haja cura para o lúpus, os tratamentos controlam os sintomas e diminuem as crises. Joelma conta que hoje em dia está em remissão, fase da doença onde, uma vez instituído o tratamento adequado, há o desaparecimento ou grande atenuação dos sintomas, assim como a normalização da maioria dos exames laboratoriais.
“Tive muita queda de cabelo e efeitos colaterais muito fortes após cada sessão, muitas náuseas e dores no corpo, mas foi o que contribuiu para a minha remissão", conta a jornalista.
Psicológico e emocional
Ela destaca também a necessidade de acompanhamento psicológico não só para aceitação do diagnóstico, mas para ressignificar. “Eu tive muita confusão mental e problemas de memória que é algo que ocorre com alguns pacientes lúpicos. Fazer terapia me ajudou a ressignificar o que estava sentindo/passando e enfrentar o lúpus com uma outra postura.”
“Com um olhar mais sensível para mim mesma, mas sem me permitir ter uma postura que não fosse de me colocar sempre de pé para combater o que insistia em me derrubar”, continua.
Fevereiro Roxo
No mês de fevereiro, é promovido conscientização sobre lúpus e fibromialgia, que são doenças diferentes, mas que apresentam dois pontos em comum: são doenças crônicas e incuráveis.
Para Joelma, a campanha de Fevereiro Roxo é importante para levar informação para as pessoas e diminuir os estigmas sobre portadores de doenças raras.
“Quem é portador de doença autoimune, como o lúpus, recebe o diagnóstico, às vezes, quase como uma sentença, mas acho que quanto mais se tem acesso a informação e tratamento adequado, maiores as possibilidades de ter uma vida normal”, conclui.
*Estagiária sob supervisão