Etarismo contra mulher no mercado de trabalho: “envelhecer não é sinônimo de diminuição de competência”

28/03/2022 06:13 - Especiais
Por Raíssa França e Rebecca Moura*
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Você sabe ou já ouviu falar em etarismo? O etarismo é o preconceito, intolerância ou discriminação contra pessoas com idade avançada. Muitas pessoas sentem na pele esse tipo de preconceito, principalmente as mulheres com mais de 50 anos, que tentam voltar para o mercado de trabalho.

Uma mulher formada em administração, que preferiu não ser identificada, contou que está desempregada há 7 anos por causa da idade.

Segundo ela, existe uma forte dificuldade para as empresas restituírem mulheres com mais de 50 anos no mercado de trabalho. Ela destaca que o mercado está aberto exclusivamente para profissionais jovens e com experiência.

“Para a nossa cultura, mulheres maiores de 40 já são tidas como velhas”, disse.

Desclassificação

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que mulheres vivem, em média, 79,9 anos, enquanto a média para homens é de 72,8 anos.

No entanto, a desclassificação de mulheres durante processos seletivos ainda é alta em razão da idade.

No aspecto da educação, segundo o Censo 2018, 71,3% das matrículas em cursos de graduação é de mulheres.

Foi o caso da administradora de empresas, que durante o período de desemprego passou por várias seleções de trabalho, mas sempre era eliminada.

“Durante uma seleção a Psicóloga que fez todo processo seletivo me parabenizou, disse que via o brilho nos meus olhos de querer trabalhar no cargo e me desejou boa sorte. Quando fui para última etapa da entrevista fui desclassificada, como em outros processos seletivos”, afirma.

Para ela, o mercado de trabalho precisa adotar uma forma de recolocação no mercado de trabalho para mulheres acima de 50 anos.

A alagoana pondera que o ideal seria uma parceria dos RH’s com as empresas comandadas por mulheres, pois essas empresas iriam olhar com mais empatia.

“Criar uma corrente de mulheres para ajudar umas as outras. Ainda não vi por aqui”, ressalta.

Cultura do envelhecimento

Para Carla Prado, empregada pública, de 44 anos, a empregabilidade da mulher é difícil e existem fases em que elas ficam mais complicadas.

Prado expõe que mais jovem há o receio da pouca experiência, de engravidar, de não passar credibilidade. Já quando se torna mais velha, o ideal se torna mulheres mais jovens.

Carla conta que as mulheres estão envelhecendo mais tarde, mas a sociedade mantém a cultura do envelhecimento.

“Culturalmente a sociedade não mudou a velha concepção de que a mulher com 40 ainda é considerada “coroa”. Como é possível, se a idade para a aposentadoria aumentou para 62 anos? Então acho que a urgência é desenvolver a cultura de que envelhecimento não é sinônimo de diminuição de competência”, explica.

Carla Prado. Foto: Cedido

Ela aponta ainda que o etarismo no mercado de trabalho não se aplica a homens. Não importa a idade, o mercado de trabalho está sempre aberto para o público masculino. Carla relatou uma situação que ela vivenciou e que precisou ser transferida.

“Em uma situação, percebi que somente homens eram promovidos e precisei pedir para ser transferida, pois ali o ambiente não era propício para mulheres que almejam crescer na profissão. Nem mesmo meu chefe havia percebido. A coisa é estrutural”, comenta.

Ana Eloísa, 51 anos, é formada em contabilidade e comentou que desde os 45 anos que tem sido ‘negada’ em várias empresas. “Faço a seleção, mas depois dizem que não sirvo para o cargo. Só que sempre acaba ficando alguém mais jovem do que eu”.

Ela disse que ao longo dos anos tem buscado especialização para acompanhar as tendências do mercado. “Mas fiquei desempregada e nunca mais voltei para o mercado”.

Segundo Ana, a sensação é de frustração. “Parece que as pessoas nos olham achando que somos incapazes. É realmente frustrante”.

*estagiária sob supervisão da Editoria

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