As imagens de uma época. Os símbolos de um tempo. As representações de um pensamento dominante. A gente ouve essas coisas ao longo da vida inteira – não sei se todos concordam. E isso não é por acaso. Especulo sobre o tema agora após ver a foto de Eduardo e Heloísa Bolsonaro fantasiados de “família real árabe”. O filho do presidente brasileiro aparece em trajes de “xeke”, com a mulher e a filha criança. Estão passeando em Dubai. Eis aí um emblema de nossos dias.

Enquanto Eduardo expõe seus delírios patéticos, com esse ar doentio e vulgar, o Brasil enfrenta tragédias sociais de toda sorte. Os mais pobres estão comendo ossos, como se pode conferir todos os dias no noticiário. As mazelas do país crescem diante de um governo medíocre, sem qualquer projeto minimamente capaz de melhorar os dias da população.

O passeio familiar do deputado federal Eduardo Bolsonaro é também um escárnio, uma ofensa aos milhões que vivem na miséria absoluta, sem o mínimo para a sobrevivência. Não chega a espantar ninguém, é claro, mas a indigência moral do sujeito não conhece barreira. O Zero Três ainda vai às redes sociais fazer piada em resposta às críticas que recebe pela foto ridícula.

Outros dois filhos presidenciais, Flávio e Carlos, já produziram momentos que definem o governo do qual fazem parte. Ministros e ex-ministros deram igualmente suas contribuições icônicas para um painel de horrores. Pazzuelo, Moro, Pontes, Araújo... Para ficar num quarteto, qual desses teria sido o mais pusilânime? E o mais tosco?

É um campeonato dificílimo. Tudo começou com o próprio Bolsonaro, ainda em março de 2019, no início dessa porcaria de gestão presidencial. Com o pretexto de criticar o carnaval brasileiro, o presidente espalhou um vídeo pornográfico e depois foi posar de inocente. Salvo engano, é aí que a Era do Grotesco tem seu marco de largada.

De lá até agora houve de tudo. Ao lado do desastre na gestão da coisa pública, além do fiasco na economia, o governo Bolsonaro é pródigo na representação de sua própria degradação. Quando esse governo imundo acabar, veremos quais imagens terão sido as mais perfeitas na tradução da imundície geral.

Sem dúvida, nesta segunda-feira 18 de outubro de 2021, o deputado Eduardo Bolsonaro cravou uma candidatura de peso no campeonato da ignomínia. Resta um ano para novas produções à altura do Xeque das Arábias. Como disse o deputado Marcelo Freixo sobre a foto em Dubai, é a crônica particular de Ali Banana e os 40 ladrões.

Já estou vendo os rapazes da direita alagoana eufóricos em defesa de um de seus ídolos. Que destino ingrato viver lambendo as botas da gang miliciana do Planalto. Mas esse é outro assunto, e não gastarei mais tempo em outra escala de sujeira.