Principais hospitais públicos de AL registram redução no número de tentativas de suicídio durante a pandemia

19/09/2021 08:04 - Especiais
Por Gabriela Flores e Vanessa Alencar
Image

No Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, um dado vem chamando a atenção: nos dois principais hospitais públicos de Alagoas, o Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, e o Hospital de Emergência do Agreste (HE), em Arapiraca, o número de tentativas de suicídio reduziu de forma significativa durante a pandemia. 

Dados do HGE apontam que em 2019 foram registradas 432 tentativas de suicídio. Em 2020, os casos caíram para 303 e em 2021 (até agosto), 70 casos foram notificados. Considerando os dados de janeiro a agosto de 2020 e o mesmo período deste ano, a redução foi de 67,28% somente no Hospital Geral do Estado. 

Já conforme informações do Serviço de Epidemiologia do Hospital de Emergência do Agreste (HEA), em 2021 (também até agosto) foram registradas 330 tentativas de suicídios. No ano passado foram 635 e, em 2019, 822. Ainda de acordo com os dados informados à reportagem pela assessoria de Comunicação do HE, durante a pandemia, especialmente entre março e setembro do ano passado, houve uma redução no número de tentativas de suicídios, em torno de 30%. 

“Em geral houve uma diminuição no número de suicídios entre 2020 e 2021, assim como houve uma diminuição nas queixas de depressão, ansiedade e síndrome do pânico, mas acredito que as pessoas não procuraram os serviços devidos, na falta de profissionais devido ao isolamento social, e porque os laços familiares se estreitaram mais durante o isolamento social, contornando esses quadros”, analisou a psicóloga Mônica Leal, coordenadora do projeto Preparando a Volta Para Casa, do HE do Agreste, voltado para prevenção do suicídio.  

Ela destacou que, pelo menos no HE, a faixa etária com maior número de tentativa de suicídio é de 20 a 29 anos e as cidades com maiores índices da região são Arapiraca e Girau do Ponciano. Outros dados trazidos pela psicóloga são os seguintes: 67% das vítimas atendidas este ano eram jovens com menos de 29 anos, do sexo feminino, desempregada e com baixa escolaridade e pelo menos 57 pessoas já haviam tentado se matar em outra ocasião.  

Já em relação ao índice mundial, Mônica contou que “nas duas últimas décadas, o maior índice de suicídios é entre pessoas idosas”. 

Um levantamento realizado pela Agência Tatu de Jornalismo de Dados, aponta que no primeiro semestre deste ano foram efetuadas 26.049 chamadas ao Centro de Valorização à Vida (CVV), o segundo menor número de ligações do país, 785 ligações a cada 100 mil habitantes. 

Atendimento na rede pública 

Também ouvida pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio de sua assessoria de Comunicação, informou que pessoas que apresentam tendências suicidas podem ser atendidas em toda a rede pública de saúde, podendo ser encaminhadas à rede hospitalar, atenção primária ou especializada, a depender da gravidade do caso.   

É importante destacar que a simples menção ao pensamento suicida é considerada indicador para o risco, e a pessoa nessa condição deve ser encaminhada para um dos serviços da rede o quanto antes para que haja melhor adesão e prognóstico. 

Quando ocorre uma violência autoprovocada ou tentativa de suicídio, a Gerência de Atenção Psicossocial recebe a notificação com os dados da pessoa para que seja feito o acompanhamento. São dados sigilosos, aos quais somente os integrantes da rede de cuidados têm acesso para realizar os devidos encaminhamentos e cuidados, destacou a assessoria. 

A Secretaria ressalta ainda que a adesão ao tratamento é voluntária. A abordagem ocorre como um convite e a pessoa decide se dará sequência ao tratamento. 

Saber ouvir 

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que 32 pessoas se suicidam por dia no Brasil, o que significa que o suicídio mata mais brasileiros do que outras doenças, como o câncer e a Aids. Portanto, é cada vez mais evidente a necessidade de falar sobre o suicídio, identificar os sinais e aprender a lidar com pessoas com comportamento suicida. 

A psicanalista Kélida Marques afirma que conversar pode fazer com que a pessoa mude de ideia, pelo menos naquele momento e repense algumas coisas. “A psicanálise, de forma geral, não tira esses pensamentos suicidas da mente humana, mas ela tem como função auxiliar a pessoa a ter uma visão diferente da vida, naquele momento. Não é fácil, muito pelo contrário, é doloroso, arriscado, sofrido, mas é a saída ideal, pois ao conversar, ele vai podendo ter uma leitura diferente de uma determinada situação, tendo outras perspectivas que podem fazê-lo mudar de ideia”. 

Além disso, Kélida reforça que as tentativas de suicídio nunca devem ser ignoradas e mesmo sendo um tema incômodo, convidar o outro a refletir sobre aquele ato é importante para que não haja repetição. 

Serviços especializados  

Gerência de Atenção Psicossocial (Prédio sede da Secretaria Municipal de Saúde – Centro) – (82) 3312-5466 

Caps Enfermeira Noraci Pedrosa (Jacintinho) – (82) 3312-5532 

Caps Dr. Sadi Feitosa de Carvalho (Chã de Bebedouro) – (82) 3312-5521 

Caps AD. Dr. Everaldo Moreira (Farol) – (82) 3312-5517 

Caps Dr. Rostan Silvestre (Jatiúca) – (82) 3312-5500 

Capsi Dr. Luiz da Rocha Cerqueira (Serraria) – (82) 3312-5540 

Outros serviços de atenção 

Centro de Valorização a Vida (CVV) – Ligue 188 

Centro de Promoção à Saúde, Educação e Amor à Vida (Cavida) – 82 98879-2710 

99941-0326 e 98891-0820. 

 

 

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..