Com a chegada do período junino, é comum que sejam registrados casos de queimaduras e acidentes com fogo. Durante o São João do ano passado, devido às restrições por causa da pandemia, o Hospital Geral do Estado (HGE) teve uma diminuição de 50% no número de internamentos e de 65% no número de atendimentos ambulatoriais a vítimas de queimaduras, em relação ao mês de junho de 2019.
As crianças de até 10 anos, que aproveitam o período para “brincar” com fogos de artifício, representaram 39,4% de todos os internamentos do Centro de Tratamento de Queimaduras do HGE em 2020, com um total de 86 casos.
Ao CadaMinuto, o cirurgião plástico Thyago Carvalho contou que as causas mais comuns de queimaduras são acidentes por escaldadura (líquido fervente), que costumam acometer mais a parte anterior do corpo, especialmente tórax e abdome; queimaduras por álcool em combustão (chama direta) acometem todas as áreas em igual proporção, distribuídas tanto em tronco quanto membros superiores e inferiores.
“Em adultos que habitam casas mais simples, onde não há condições de uso de gás de cozinha, é bem frequente a queimadura por chama direta, durante o cozimento de alimentos em fogão a lenha”, disse o médico. Já em crianças, queimaduras pelo fogo costumam acontecer mais pelo uso indevido de álcool.
Thyago orienta que, em caso de queimaduras, é necessário realizar o resfriamento de toda a área queimada em água corrente, de torneira ou chuveiro, por 5 a 10 minutos. “É importante não usar gelo, porque pode potencializar a lesão da queimada, pois o gelo por si só já provoca queimadura em contato direto com a pele”.
Ele alerta que há produtos que não devem ser usados em caso nenhum. “Produtos como creme dental, manteiga, clara de ovo, pó de café, plantas medicinais, que não ajudam no resfriamento da área queimada e ainda podem provocar infecção na ferida”.
O tratamento para grandes queimaduras deve acontecer em centro especializado, com material específico para curativos e cirurgias, com equipe hospitalar treinada. O processo inclui diversos profissionais especializados, como clínico geral, intensivista, pediatra, cirurgião plástico, anestesista, enfermeira, técnicos de enfermagem, dentre outros.
“Pacientes com queimaduras graves, que necessitam de internação para a realização de desbridamento e enxerto, permanecem no CTQ por período médio de 28 dias”, falou Thyago, acrescentando que estes recebem alta para seguimento ambulatorial por prazo mínimo de mais um mês.
Longe de artifícios juninos
A pediatra Ana Carolina Ruela detalhou os aspectos fisiológicos que ocorrem em crianças, quando acidentadas por queimaduras.
Segundo ela, os danos dependem da intensidade e do agente causador. E acrescentou que, em geral, os acidentes resultam em internações prolongadas e curativos extensos diários, porém, a longo prazo, o tratamento deve ser intensificado com o uso rigoroso de protetores solares de alta potência e malhas protetoras.

Ana também comentou que não é recomendada a realização de festas juninas, já que elas podem causar aglomerações e provocar um descuido em relação ao uso de máscaras, intensificando a disseminação da Covid-19.
Além disso, a pediatra chamou a atenção a respeito dos cuidados dos pais com suas crianças para protegê-las de eventuais acidentes com certos artifícios juninos.
“Definitivamente, os pais devem ser desencorajados de expor as crianças a qualquer tipo de dispositivo explosivo, mesmo os considerados inofensivos e seguros. Sempre há risco de explosão. E o setor de queimados e as emergências têm a prova disso todos os anos, com a chegada de acidentes por queimadura” , reiterou.
Atendimento
O HGE conta com unidade exclusiva para atendimento a feridos por queimadura. O Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) funciona 24h, com ambulatório para curativos e atendimento a casos menos graves, e equipe multidisciplinar disponível 24h.
Além dele, a Área Vermelha Trauma também possui profissionais que podem assistir casos mais superficiais de queimadura.
Este ano, devido à pandemia, os festejos juninos em locais públicos estão, mais uma vez proibidos, no entanto, os especialistas recomendam cuidado para aqueles que pretendem celebrar a data em casa, em família, pois nesses ambientes mais “seguros” podem acontecer acidentes com as crianças.
*Estagiários sob supervisão da editoria










