Heróis na pandemia, profissionais de saúde seguem sem valorização e com sobrecarga de trabalho

26/04/2021 06:10 - Especiais
Por Maria Luiza Lúcio* e Rebecca Moura*
Image

Há mais de um ano médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, maqueiros e outros profissionais de saúde estão na linha de frente no combate à Covid-19. No entanto, os trabalhadores que têm dedicado horas de suas vidas em hospitais para salvar outras pessoas, seguem sobrecarregados e sem valorização salarial, principalmente na rede privada. 

Ao Cada Minuto, o presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed), Marcos de Holanda Pessoa, disse que o órgão pretende apresentar um plano de carga horária e de reajuste salarial para a classe de médicos.

O presidente do Sindmed explica que durante a pandemia do novo coronavírus, os profissionais da área da saúde passam por um ciclo constante de admissão e demissão. “Os locais pagavam um salário melhor, ou se paga na questão dos plantões, mas à medida que a pandemia começa a abaixar, começa também a ter demissões. Assim, termina virando um ciclo, porque quando vai aumentando, vai chamando novamente”, explica.

Presidente do Sindmed 

 

Ele alerta ainda para a falta de auxílio caso os profissionais adoeçam por outras patologias, além da Covid-19. “Os colegas estão aí, se adoecerem de um modo geral, que não seja Covid, mas sim adoecerem com outras patologias ficarão sem auxílio algum do INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], porque não tem carteira assinada, não é estatutário, ou seja, não tem previdência nem do Estado nem tem da União”.

“A gente espera que com isso o tempo possa trazer. Depois disso tudo que o governador possa olhar com maior reflexão tudo que a classe médica e os trabalhadores da saúde tem feito para todos nós e se sensibilize para criar nossos planos, ter um reajuste adequado e melhorar nossos salários”, finaliza.

Riscos

Após dois meses sem receber salários, férias e vale transporte, os funcionários do Hospital Sanatório, em Maceió, iniciaram uma paralisação na última segunda-feira (19). Os profissionais também denunciaram que estavam sendo punidos pelas chefias do hospital em caso de falta ao trabalho, ocasionadas pela falta de condições para custear os percursos entre suas residências e o hospital.

Já na última quinta-feira (22), representantes das entidades da enfermagem estiveram reunidos para pedir apoio parlamentar na aprovação dos Projetos de Lei instituindo o piso salarial e a regulamentação da jornada de 30 horas semanais para a categoria.

O presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem no Estado de Alagoas (Sateal), Mário Jorge Filho, afirma que no período de pandemia os riscos aumentaram para os profissionais de saúde. “Principalmente com relação aos EPIs [equipamentos de proteção individual] com qualidade e quantidade insuficientes. Várias empresas aumentaram a carga horária dos trabalhadores para não fazer contratação temporária e substituir os profissionais afastados por comorbidade, os que foram contaminados e os óbitos”, afirma.

Presidente do Sateal 

“Existem hospitais que ainda não pagaram os salários dos mês de março e nem férias. Reajuste salarial só poucas empresas concederam através de acordos coletivos de trabalho. A maioria não aceitou reajustar e ajuizamos um dissídio coletivo de trabalho no TRT [Tribunal Regional do Trabalho], onde aguarda julgamento”, complementa o sindicalista.

Dentre as principais queixas dos profissionais de saúde, além do reajuste salarial, estão a sobrecarga de trabalho, o aumento do horário de serviço sem direito à folga semanal, atrasos salariais e o não pagamento da insalubridade por estarem diretamente lidando com Covid-19.

Além disso, algumas empresas estão obrigando os trabalhadores a pagarem o período que ficaram afastados por estarem no grupo de comorbidade. Dessa forma, o presidente declara que o sindicato tem judicializado processos na justiça do trabalho e encaminhado denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT).

Sobrecarga

A vice-presidente do Sinmed, Silvia Melo, comenta que a reposição e recomposição salarial dos servidores municipais estão há 4 anos sem progressão.

“Isso corresponde a 5% a cada dois anos. O plano de cargos está congelado e muitos servidores da saúde estão sem receber o adicional de insalubridade de acordo com sua categoria em uma época de pandemia. Se o gestor valorizasse o servidor da saúde, em especial nessa época, já deveríamos estar recebendo um adicional de insalubridade”, expõe.

Durante o período da pandemia, Silvia conta que muitos servidores foram afastados por ser grupo de risco. “Estas pessoas afastadas provocaram de certa forma uma sobrecarga para os colegas que ficaram na linha de frente, que tiveram que trabalhar dobrado para suprir a ausência dessas pessoas. Mesmo assim, ainda há um déficit e uma falta muito grande de profissionais por causa desses afastamentos”, alega a médica.

vice-presidente do Sinmed

Atualmente, o pagamento dos servidores está em dia, mas ainda não há uma perspectiva de reajuste. “A carga horária de trabalho do médico está sendo respeitada, só que há uma sobrecarga de trabalho no número de pacientes atendidos, porque estamos atendendo para suprir a falta de colegas que foram afastados por ser grupo de risco”, explica.

A principal queixa dos profissionais ao sindicato é a falta de valorização e reconhecimento. “Nós da categoria médica estamos desvalorizados e com isso vem a desmotivação. Temos nossos salários congelados, não houve reconhecimento, uma gratificação para quem trabalha com Covid ou, até mesmo, para quem não precisasse trabalhar na linha de frente. Atender qualquer grupo de pacientes é estar exposto a adquirir a doença, pois existem os portadores assintomáticos”, finaliza.

*Estagiarias sob a supervisão

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..