No Dia de Finados, especialista explica importância dos rituais e das etapas do luto

02/11/2020 07:55 - Especiais
Por Alícia Flores* e Tiago Logan*
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Durante quase seis meses de pandemia, milhares de pessoas tiveram que se despedir de seus familiares de maneira diferente. Com controle do número de pessoas no funeral, caixão fechado e limite de tempo, a despedida dos entes queridos teve que ser realizada de forma atípica e dolorosa, neste ano.

O Dia de Finados é uma tradição anual de visita aos túmulos para rezar pelos que já morreram. Em Maceió, os cemitérios estarão abertos à visitação durante o dia, seguindo todos os protocolos sanitários de prevenção ao coronavírus. Para muitos, será a primeira vez em que poderão ir ao cemitério após o falecimento de entes queridos durante a pandemia.

O psicólogo Carlos Gonçalves, em entrevista ao CadaMinuto, comentou sobre a importância desse feriado para as pessoas que não puderam se despedir apropriadamente e sobre a relação do luto com o Dia de Finados. 

Etapas da perda

Sobre a celebração do Dia de Finados neste ano, o profissional explicou que nesse momento em que se tem uma data que lembra os mortos, para muitos é um sofrimento vivido duas vezes, principalmente para os que não conseguiram viver o luto da forma adequada.

“Perder alguém é lidar com a necessidade de se tornar uma nova pessoa e despedir-se é uma etapa essencial nesse processo. Como não foi possível a presença física no momento da morte de quem se ama, do aperto de mão, de uma palavra de despedida, é importante que o enlutado não entre em um processo de culpa, como se fosse o responsável por esse abandono físico”, pontuou. 

No auge da pandemia, onde milhares de pessoas perderam familiares e amigos, quem sofreu a perda não teve a opção de oferecer o amparo presencial. “É preciso que a pessoa que passa pelo processo da perda entenda que a pandemia não foi uma criação sua. As regras, as restrições sociais e os distanciamentos foram uma forma que os governantes encontraram para nos proteger. Temos que entender que não podemos dizer adeus da mesma forma que antes”, esclareceu.

Por isso, o psicólogo ressalta a importância de passar por todas as cinco etapas da perda, para que não haja uma estagnação numa das fases primordiais no processo de luto, que é a aceitação, ou seja, conformar-se que o outro morreu e que precisa dar continuidade a sua vida.

O tempo de duração de luto é particular, pode levar meses ou até mesmo anos. Carlos acrescenta que considera-se que o primeiro ano seja o mais difícil, já que o enlutado passará pelas principais datas (aniversários e comemorações especiais, por exemplo) pela primeira vez após o falecimento, como agora no feriado de finados, principalmente se a pessoa não teve como se despedir desse ente querido. 

“Quando esse sofrimento, esse luto, não é trabalhado, é necessária a ajuda de um profissional da área de saúde mental para não entrar num processo de depressão. A pessoa que amamos não está no cemitério, mas em nosso corações. A visita é apenas um ritual, uma data, pois quem amamos, sempre estará presente em pensamentos e orações”, concluiu.

 

 

Último momento de intimidade

Após dar entrada no hospital com um quadro cardíaco e respiratório, a mãe da jornalista Cristina Sampaio, uma idosa de 79 anos com histórico de comorbidades, só foi transferida para a UTI e realizou os exames para Covid-19 depois de cinco dias de internamento. Ela testou positivo para a doença quatro dias depois de falecer; no entanto, o seu atestado de óbito foi registrado como morte por problemas cardiorrespiratórios e diabetes.

Sampaio conta que sua família respirou aliviada porque, com esse atestado, poderiam sepultá-la “com um pouco mais de dignidade”, uma vez que, naquela altura da pandemia, vítimas de Covid não podiam sequer serem veladas. Ainda assim, para o velório foi permitida a participação de apenas dez pessoas, com o caixão fechado e duração de três horas.

“É uma situação muito complicada. Você precisa controlar quem entra e quem sai do velório no momento em que você tá chorando, que não tem cabeça para nada, e tendo que lidar como se tivesse ‘em uma festa’ fiscalizando os tickets e a entrada”, relatou.

A jornalista acredita que a mãe entrou em contato com o coronavírus no hospital, quando estava internada. Por causa dos graves problemas de saúde, ela chegou a ter certeza de que a mãe não iria resistir. Pensando nisso, decidiu, já como uma forma de conforto, que dedicaria cada minuto de atenção plena enquanto estivesse em sua presença.

“Durante o período em que pôde ter acompanhante, ela estava lúcida, só não podia sair da cama, pois qualquer esforço já seria o suficiente para o coração não aguentar. Então, eu conversei muito com ela, pedi desculpas por coisas que fiz e que a machucaram, colocava as músicas que ela pedia, levava livros; fiz um resgate de relação”, afirmou.

Segundo Sampaio, esse último momento de intimidade com a mãe foi importante para o seu processo de luto. Também a fez refletir sobre o sentimento de empatia no sentido de saber que milhares de pessoas não puderam estar presentes nos dias finais dos seus parentes e outras milhares morreram de forma solitária.

“Isso me deu um conforto interno muito grande. E eu sei que foi um caso de exceção, porque os pacientes que são internados nos hospitais públicos com suspeita de covid não têm mais contato com a família. Então, isso, para mim, foi extremamente importante, porque eu pude dizer que a amava, fazer um carinho nela, me despedir”, concluiu.

Visitas

Na capital, os cemitérios públicos funcionarão no horário normal, das 7h às 17h, no Dia de Finados. No entanto, haverá limitação do número de visitantes por hora, de acordo com a capacidade máxima de cada cemitério. Na entrada dos cemitérios haverá aferição de temperatura e será disponibilizado álcool em gel 70% aos visitantes e o uso de máscara é obrigatório. 

O cemitério Santo Antônio, no Bebedouro, também estará aberto a visitação, mas estão autorizados apenas os sepultamentos de quem já possui jazigos particulares no local.

O Campo Santo Parque das Flores também irá funcionar no horário normal, aberto a visitas das 8h às 18h. No entanto, ao contrário dos outros anos, não irá ter de maneira presencial os eventos como missas e palestras, que serão realizados por meio de lives nas redes sociais. O uso de máscara é obrigatório. A floricultura e a parte administrativa do cemitério também estarão abertas no feriado de finados.

O Memorial Parque Maceió funcionará das 7h às 18h no Dia de Finados. As visitas serão permitidas com controle do número de pessoas e a entrada de veículos será proibida. O uso de máscara é obrigatório.

 

*Estagiários sob a supervisão da editoria

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