Bolsonaro na ONU: "foi um rosário de inverdades", diz alagoano especialista em Direito Ambiental

23/09/2020 11:32 - Especiais
Por Daniel Paulino e Rebecca Moura
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O presidente Jair Bolsonaro disse, nesta terça-feira (22), em discurso para a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), que o Brasil é um exemplo para o mundo na gestão ambiental. Ainda segundo Bolsonaro, o Brasil tem sofrido ataques internacionais na gestão ambiental por conta de interesses comerciais de concorrentes, em referência a outros países.  

Ao CadaMinuto, o advogado e especialista em Direito Ambiental, Marcelo Ribeiro, afirma que o discurso do presidente Jair Bolsonaro serviu para alimentar ainda mais o descrédito do Brasil perante a comunidade internacional.

“Foi um rosário de inverdades, de dados equivocados, maliciosamente trocados, onde ele põe a responsabilidade, de uma forma absolutamente incorreta, indevida e injusta nos índios e colonos, atribuindo a estes a responsabilidade pelos incêndios florestais que estão devastando a Amazônia e o pantanal também”, afirma o advogado.  

Durante o discurso o presidente diz que a Amazônia é úmida e não permite propagação de fogo e, segundo o advogado, essa informação é um dado incorreto. Haja vista que atualmente existem mais de 60 mil focos de incêndios e todos eles em áreas remotas da floresta e por conta disso, a floresta amazônica perdeu totalmente as suas características originais. "Há cerca de 50 anos a Amazônia era úmida, mas atualmente, devido exatamente ao desmatamento e ao emprego do fogo, a floresta está cada vez mais seca, o solo cada vez mais ressecado e por causa disso entra a luz solar, mudando completamente as características da floresta tropical úmida", colocou Ribeiro.  

Segundo dados do INPE, há cerca de 66 mil focos de incêndio na Amazônia atualmente e, para o especialista em Direito Ambiental, isso é produzido por pessoas que estão desmatando e invadindo terras públicas, grilando terras pra criação de gado e aumentando as pastagens e as lavouras. Além de estarem cometendo uma série de crimes ambientais como a garimpagem, mineração clandestina, poluindo rios, contaminando rios com metal pesado.

“Chega a ser um deboche o Bolsonaro dizer que os crimes ambientais no Brasil estão sendo combatidos com tolerância zero, quando a gente sabe que na realidade é exatamente o oposto”, coloca ele.  

Ainda segundo Marcelo Ribeiro, a biodiversidade da Amazônia é um elemento fundamental para geração de emprego e renda pro desenvolvimento sustentável. O  que nós estamos vendo hoje é a floresta amazônica sendo saqueada por uma minoria absolutamente irresponsável e sem qualquer compromisso com o futuro, sem qualquer futuro com as futuras gerações, com aqueles que nos vão suceder.  

Certamente os efeitos das mudanças climáticas vão potencializar tornando o desaparecimento da floresta de grande porte e uma vegetação parecida com a savana africana e que consequentemente vai diminuir o ciclo hidrológico o regime de chuvas as chuvas serão mais escassas.  

“Acredito que foi um discurso lamentável, mas que não causa surpresa haja vista que nesses dois anos de governo relegou a questão ambiental para um plano absolutamente secundário, onde se tornou quase que um obstáculo na visão do governo. Consequentemente as leis ambientais estão sendo quase todas elas desqualificada e muitas delas desregulamentas também", acrescentou ele.  

 

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